Acusação de racismo marca CPI na EACH

(Foto: João Paulo Freire)

Um grupo de alunos da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) acusa um dos advogados do ex-vice-diretor da Escola, Edson Leite, de injúria racial. O caso teria acontecido ao término de uma reunião da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Áreas Contaminadas para a qual a antiga diretoria foi convocada a fim de prestar esclarecimentos no dia 23.

Segundo uma nota de repúdio publicada nas redes sociais pelo #Orgulho EACH, o advogado, que não teve seu nome divulgado, teria mandado uma aluna da Escola ir “se lavar”, depois de a estudante ter questionado a atitude do professor durante da CPI de não se responsabilizar por um aterro instalado de forma ilegal no campus durante a sua gestão.

Foi gravado um vídeo em que alguns alunos questionam se a ordem de ir se lavar se referia à cor da estudante, que é negra, mas o material não foi publicado na web. A aluna, que não quer ser identificada, está emocionalmente abalada e preferiu não dar a sua própria versão para a reportagem até o fechamento desta edição.

Existe a intenção de processar criminalmente o advogado do professor Edson Leite. De acordo com o Código Penal Brasileiro, o crime de injúria racial prevê pena de um a três anos de reclusão e multa.

Alguns alunos da EACH promoveram uma interdição na última quinta-feira (25) chamada de “bate-papo semanal com Edson Leite” numa de suas aulas depois de descobrirem que ele continua lecionando mesmo depois de ter sido afastado da direção da Escola devido às investigações sobre a contaminação do campus. Os organizadores do ato conversaram com os alunos, mas o professor não compareceu.

Na última sexta-feira (26), a direção da EACH promoveu um seminário com a Faculdade de Direito chamado “Áreas Contaminadas no Direito. O caso da EACH”. Foram apresentados trabalhos de pesquisadores da oficina de Direito Ambiental da Faculdade de Direito, seguidos de um debate sobre o assunto. Houve também uma visita técnica às dependências da Escola.

O campus da USP-Leste ficou interditado de janeiro a agosto deste ano por decisão judicial depois que um laudo da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) atestou a inadequação do espaço para aulas devido a presença de gás metano no subsolo, com risco de incêndio e explosão. As aulas foram transferidas para outros prédios da USP e outras universidades privadas e voltaram a funcionar no campus apenas depois da instalação de equipamentos necessários à captação e ventilação de gás metano.

Foi criada uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo em 8 de abril para investigar denúncias de áreas contaminadas na cidade, dentre as quais o campus da USP-Leste. A Comissão é presidida pelos vereadores Rubens Wagner Calvo (PMDB) e Valdemar Silva (PT).

O Ministério Público também investiga o descarte ilegal no campus de terras contaminadas oriundas da construção do Templo de Salomão, da Igreja Universal, na região central do Brás.

O professor Edson Leite foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta edição. Ele estava acompanhado de dois advogados, que não tiveram seus nomes divulgados e não foram encontrados. Ainda não se sabe se eles representavam apenas o ex-vice-diretor ou a USP.

Questionada sobre o caso, a Diretoria da Escola afirmou por meio de sua assessoria que “aguarda o encerramento das investigações para se pronunciar”.