“A política deixou de ser algo periférico”

Bruno Torturra, fundador do Mídia Ninja e do projeto Estúdio Fluxo (Foto: Carol Quintanilha)

O ano de 2013 foi intenso para o jornalista Bruno Torturra. O ex-diretor de redação da revista Trip e fundador da Mídia NINJA ganhou projeção pública durante as manifestações de junho. Sua participção foi tão notada que recebeu sondagens para se candidatar como deputado federal. Não topou. Ao final do ano passado afastou-se da Mídia NINJA para estabelecer um novo projeto, o Estúdio Fluxo, uma redação que pretende “explorar novas possibilidades para o jornalismo”. O Jornal do Campus foi ao prédio onde se hospeda o Fluxo, no Vale do Anhagabaú, conversar com o Bruno sobre o papel das novas mídias, das redes sociais e das manifestações de junho na atual corrida eleitoral.

JC: Você acha que a utilização das redes socias pode, de alguma forma, igualar a disputa no que se refere a divulgação e promoção dos candidatos?

Bruno Torturra: Ainda não. Ainda não iguala a questão, por exemplo, do tempo de televisão. Ela ainda vai chegar lá, a tendência é essa. Daqui a dois anos, nas eleições municipais, a internet vai ter mais influência do que tem nessa. Daqui a quatro anos também. E a tendência é que a grande mídia se torne de fato o debate que tá acontecendo na Internet. Mas a gente tem de ser realista em relação ao país que a gente vive, pois quando se fala de uma eleição majoritária, Federal, é preciso lembrar que 90% dos lares brasileiros tem uma TV. Essa cifra não chega nem próxima quando se fala de conexão à rede, ainda mais pensando em presença nas redes sociais.

Isso é um ponto. Outro, e que talvez seja mais importante, é o fato que a Internet não é um veículo. Ela é um ambiente, um sistema. E isso provoca uma característica muito diferente do que a TV proporciona. A Internet cria suas próprias bolhas, suas próprias tribos e seus próprios ambientes cognitivos. Tanto no Facebook que se organiza através de algoritmos e interesses, quanto o Twitter, onde você segue quem você quer. Ninguém sabe o que está acontecendo no Twitter. A prova disso é a falsa impressão de quem está discutindo política acreditar que está o mundo inteiro falando disso. Mas se você for olhar os Trending Topics, tá acontecendo uma outra coisa, completamente diferente. Uma experiência interessante é notar que a intenção de votos dos seus amigos e pessoas próximas não tem nada a ver com as pesquisas eleitorais. E acarreta num resultado super estranho, porque, por exemplo, a Luciana Genro apresenta apenas 1% (das intenções de voto), mas pra mim, e no meu círculo social ela tá ali disputando com a Dilma e com a Marina. Mas isso é meu ambiente.

Mas ela (Luciana Genro) inclusive defende, ou pelo menos argumenta, que, quando vai às ruas ou explora algumas das “bolhas” em redes sociais, se sente mais apoiada do que esse 1% das pesquisas.

Com certeza, mas as pesquisas não traduzem isso. Então não vou dar crédito nem pra Luciana ou pras pesquisas, vou olhar o resultado eleitoral. Aí sim é possível medir. Sabendo quantos votos ela teve dá pra ter uma idéia da contribuição da internet.

Porque se a Internet tiver um peso tão forte quanto a gente acha que ela tem, a Luciana, por exemplo, tende a ter uma votação um pouco mais expressiva. Se ela tiver 3% dos votos, já são três vezes mais do que projetaram as pesquisas eleitorais, o que não é pouca coisa.

A Internet surge como alternativa de divulgação dos programas e candidatos, isso é fato. Mas uma pauta que ganhou força nessa eleição e que diz respeito à possibilidade de maior igualdade na disputa é a discussão sobre o financiamento público de campanha. Esse tema, pensando em futuros processos eleitorais, tende a ganhar espaço?

Eu acho que sim. Quer dizer, eu espero que sim. O financiamento público de campanha é uma das pautas políticas mais importantes no país. Não é simplesmente eleitoral, pois o modelo de financiamento de campanha tem profunda influência no modelo de gestão que vai ser feito depois, a gente sabe disso. Não só os escândalos de corrupção – quase sempre – tem a ver com isso, mas é perceber o tipo de doador que financia as grandes campanhas e a influência que eles tem depois que os governantes são eleitos.

Acho que são dois os efeitos: primeiro que se cria uma relação especial, uma relação de gratidão e dependência dos candidatos em relação ao grande capital. Outra questão é o isolamento de candidaturas menores, que em geral tem plataformas mais ideológicas, ou que de fato pretendem trabalhar na base de transformação econômica do país. Isso é algo que está colocado, tem de ser dito.

O problema é que apesar desse tema tender a se aprofundar, para um reforma política ele é central. Mas é complicado conseguir fazer isso por uma via muito convencional, os deputados são eleitos por meio dessas grandes doações.

Talvez não estejamos falando de um movimento meio que inevitável? De algo que vem naturalmente de baixo pra cima?

Acho que tem de ser uma via de mão dupla. A gente não pode ignorar, por exemplo, o financiamento público de campanha, e se apoiar no fato de que um dia a Internet vai chegar lá. Até porque, grandes financiamentos também vão pra Internet. A campanha digital da Dilma é algo muito profissional, muito cara também, provavelmente. E essas campanhas trabalham em um outro nível. Diferentemente da TV, o foco não é a apresentação de propostas. Essas campanhas exploram a transformação de um imaginário, ela é muito mais desconstrutiva. É tentativa muito mais de atingir o imaginário do que confrontar argumentos de fato.

Por exemplo, o que tá sendo feito pra descontruir a imagem da Marina Silva é um trabalho seríssimo, muito intenso. Ao mesmo tempo que é financiado é feito de maneira espontânea, mas muito claro. E não é que o eleitorado será abalado por isso na internet, mas gera a conversa, vira o “telefone sem fio” que ao longo das semanas é possível sentir o efeito eleitoral.
O capital, o grande financiamento de campanha tende a ir pra Internet também. Então, não adianta achar que a rede, por ser mais barata, mais anárquica ela está imune à lógica do capital.

Após as manifestações de junho de 2013 criou-se uma grande expectativa de como esses movimentos iam se refletir nas eleições. E uma das leituras feitas é a de que houve uma maior polarização do debate político. Pautas progressistas ganharam força, mas também ficou evidente um certo conservadorismo. Você percebe esse processo?

Houve um processo muito complexo pra ser definido entre “sim” ou “não”. Mas sim, polarizou mais, e também sofisticou. Mas você nao consegue encontrar essa resposta homogênea, porque os resultados de junho não foram homogêneos. Eles fortaleceram muitas forças, forças antagônicas.

Forças antagônicas estavam na composição de junho. Você não leva um milhão de pessoas pra rua que concordam entre si, nem a Diretas Já fez isso. E agora, observando a composição das manifestações quando junho se ergueu, quando deixou de ser sobre 20 centavos, e passou a ser, sobre o que mesmo? Tinha tudo lá! Tinha gente querendo golpe militar, gente querendo a estatização dos bancos, reforma agrária, mais saúde, gente contra a PEC 37, contra o ato médico, favorável ao ato médico (…), tinha tudo.

O que aconteceu foi um súbita politização do país que não havia há muito tempo. Todo mundo começou a falar de política e essa panela foi destampada subitamente. Por essa discussão se dar de forma repentina, massiva, sem uma narrativa possível de se entender de onde esse movimento veio, sem nenhuma liderança presente, ou um argumento sofisticado, o debate se polariza, as pessoas ficam mais histriônicas e começam disputas, os argumentos começas a criar campos de ação.

Mas por um outro lado a gente conseguiu sofisticar muito o debate político, abrir novos campos e emergir novas vozes nessa interpretação política. Pessoas que não eram tão presentes na mídia começaram a despontar, senão como líderes, como articuladores de idéias, de pensamentos, de pessoas, de causas. Com isso a política deixou de ser algo periférico na discussão das pessoas. Ou pelo menos das pessoas da minha bolha (risos). É isso que eu falo, é muito complicado. O que junho provocou na política foi a abertura de um caldeirão que possibilitou ver o que tinha de melhor e o que tinha de pior no pensamento, no debate e na articulação política.

Algo que eu acho que é uma vantagem inequívoca de junho, um saldo bem positivo mesmo, é que tudo ficou mais transparente. Ficou mais difícil de esconder as relações, pois todo mundo passou recibo, todo mundo disse o que pensa e ficou mais fácil mapear as idéias e saber onde essas pessoas estão. Mas acho que não se reflete tanto nas eleições quanto a gente imaginava, ou pelo menos o quanto gostaríamos.

Mas por quê você acha isso?

Bom, se você considerar de Alckmin vai ser eleito no primeiro turno, tem grande chances do Pezão, que era vice do Cabral, assumir no Rio de Janeiro. Se não for ele tem Garotinho, o Crivella. Há chances cada vez mais altas da Dilma ser re-eleita de fato, né? Junho acaba nessas circunstâncias, certo? Acaba num sentido muito importante. O povo foi pra rua querendo mudanças, se demonstrou insatisfeito, e um ano e meio depois a gente escolhe deixar como está.

Mas por outro lado essas eleições são recorde em candidaturas estreantes, de candidatos jovens. E é algo expressivo comparado às eleições passadas, o que é um sintoma muito positivo de junho, muita gente resolveu ir pro jogo! Muita gente achou que eu ia ser candidato, fui convidado, e por causa de junho. O Laerte pensou em sair, eu não. E olhando agora a campanha eu acho que fiz a escolha certa (risos).

E posso te perguntar de onde vieram os convites?

Puts, complicado… Mais de um partido, posso te falar isso. Tive sondagens, mas não quis, não acho que ia ser bom pra mim. Acho adimirável as pessoas que vão fazer esse caminho, gostaria de ver muito mais gente interessante se dispondo a fazer isso. O fato é que eu acho que minha ação política é dentro do jornalismo.

Mas você acha que junho acaba com, por exemplo, a re-eleição do Alckmin, da Dilma, do Pezão?

Não, eu concordo com que você tá falando. Seria injusto dizer que junho acaba se esses candidatos forem re-eleitos, a gente tá falando dos cargos mais altos e mais difíceis, e são os últimos a serem transformados. Me preocupa muito a composição do Parlamento, por exemplo, muito mais que a composição do Executivo. Até porque o Poder Executivo está mais sujeito ao Legislativo, e é bom que seja assim. Mas ainda sim, candidaturas mais jovens tem poucas chances de ser bem-sucedidas. Ainda estamos falando de financiamento privado de campanha, um lógica de curral muito forte, uma estrutura partidária que favorece aos seus “caciques” e direciona o financiamento para as candidaturas mais poderosas. E muito complicado para um estreante fazer campanha!

Fazendo um recorte em São Paulo, a campanha acaba ficando de lado quando comparada com a disputa pela Presidência. Mas você se arrisca em justificar a provável re-eleição do Geraldo Alckmin no primeiro turno?

Acho que tem, sim, alguns fatores. E o principal deles talvez seja o mais difícil de se mudar. O fato de que não é saudável pra democracia unificar as eleições. O debate pro Governo do Estado fica eclipsado.

Estão todas as disputas (pelo governo de cada estado) meio mornas, não?

Estão, mas por esse motivo, tá todo mundo acompanhando a corrida pela presidência. E vira uma questão de logística. Como é possível escalar os melhores repórteres de política, provocar um debate acerca dos problemas de cada estado? O foco é discutir a Presidência da República. Eu que tento prestar atenção, até me considero uma pessoas obsessiva em ler sobre política, não consigo acompanhar a campanha pro Palácio do Bandeirantes, minha atenção está em outro lugar. Assim como a dos grandes repórteres, colunistas, as maiores verbas pra campanha.

Se, por exemplo, fossem juntas as eleições para Prefeito e para Governador, provavelmente o Celso Russomano estaria eleito e o Alckmin, não.

Você acha?

Acho, porque iríamos discutir profundamente o Estado de São Paulo. Daí ia se falar no quanto a polícia matou, o quão falido o Estado está, o tamanho da corrupção do metrô, o perfil do problema administrativo que esse cara causou, o tanto de tempo que o PSDB tá no poder em São Paulo (…). E o argumento eleitoral de um outro candidato poderia ganhar força.

O Fernando Haddad foi eleito no lugar do Celso Russomano porque não se falava de outra coisa. E ficou evidente, depois de um mês de debate, que o Russomano era uma farsa. O problema é o que acontece agora, que não é nada democrático, pois não discutimos o Governo do Estado.

Vamos supor que a campanha presidencial não existisse. A crise da água ia estar na centralidade do debate, como deveria estar, como a questão da polícia. Semana passada (18/09/2014) a PM matou um ambulante com um tiro na cabeça! E aí?! Onde está a campanha falando disso? Cadê o Padilha falando do que aconteceu? Isso tá na raiz da re-eleição do Alckmin.

Voltando nas manifestações de junho, a figura do atual Governador foi pouco atacada, e isso é justificado por essa postura dele de manutenção estruturas sociais de São Paulo. Quase que um Texas brasileiro.

São Paulo é o Texas, exatamente. São Paulo se acha Nova Iorque, mas é o Texas. E isso é verdade, o Alckmin insiste no argumento da gestão. Poderia ficar falando uma hora sobre ele, mas acho que ainda há algo de misterioso (risos). Algo que faça com que ele seja blindado. Existe de fato um bloqueio midiático em relação às críticas sobre o Governo do Estado, assim como existe em Minas com o Aécio, no Rio com o Pezão. Mas existe também um conservadorismo no estado que eu acho que o Haddad leu muito bem: “O Paulista quer uma revolução sem mexer em nada”. Acho essa frase brilhante, pois é isso mesmo. O Paulista nunca está satisfeito, tá tudo sempre horrível, mas ele não adimite uma reforma na rua, uma mudança no ônibus (…), não faz nada!

E acho que o Alckmin tem algo que joga à favor dele. Essa fama de sem carisma, de picolé de chuchu, de um cara mediocre, isso o protege. “Já que é tudo igual, deixa ele lá! Ele é neutro”. Ele não é neutro! Ele é um cara responsabilizável criminalmente em relação aos direitos humanos, finanças (…). E nem se enquadra mais como um cara conservador, porque a água tá acabando por falha administrativa, as universidades estaduais estão em uma crise financeira seríssima. Ou seja, nem conservar o patrimônio de São Paulo ele conseguiu. Existem problemas com recursos hídricos, recursos educacionais, a segurança pública de São Paulo está degringolada, a relação entre a Polícia Militar e o PCC fez com que essa questão saísse do controle. E boa sorte no Governador que tente resolver isso!

Acho que São Paulo tem vive em uma grande inércia, o paulistano tem quase uma Síndrome de Estocolmo com o próprio sofrimento, ele se entende através da opressão pública, por isso elege o Alckmin. Mas eu insisto, se os holofotes estivessem no Palácio dos Bandeirantes ele não de re-elegia, pelo menos não tão facilmente.

Durante as manifestações de junho de 2013 ficou evidente a transição de um movimento contra o aumento do preço da tarifa para uma discussão mais ampla, que se dizia antipartidária e quase despolitizadora. Quando a Marina Silva fala em nova política, você percebe alguma concidência em relação àquele momento dos protestos?

Não, eu acho injusto apontar isso no discurso da Marina, como se o discurso dela fosse despolitizador. Eu acho que tem várias frases infelizes na campanha da Marina Silva. Frases como “nova política” e “governar com os bons” são slogans infelizes. Mas essa idéia de governar com aqueles que você julga como os melhores, trazer rivais pra sua mesa, é uma proposta secular, isso é velha política. Uma velha política num sentido bom e bem sucedido em vários casos. O Abraham Lincoln inaugurou esse conceito. O Obama, quando foi eleito, nomeou secretários do Partido Republicano. Porque existe de fato uma perda política muito grande quando você cinde os partidos e não consgue criar pontes mínimas entre eles.

Existe direita e esquerda? Existe, nunca vou negar isso. É bastante estúpido negar essa realidade, mas o espaço é mais tridimensional do que isso, existem outras posições, outros debates a serem feitos além de uma mera questão de como se distribuir a renda, o tipo de política social adotado, qual o papel do livre mercado… A gente tá vivendo o começo de um século muito mais complexo do que os passados. É um cenário de crises econômicas, ambientais e culturais. Temos uma economia gigantesca, interconectada, mas ela é insustentável. Não tô falando que a Marina é a resposta, nem de longe, mas acho que é muito injusto tratar de despolitização o discurso de uma pessoa que está simplesmente falando sobre ser mais plural na sua composição de governo.

Primeiro que a Marina Silva é uma pessoa, goste ou não dela, profundamente política. Ela tem uma vida de articulação, oposição e de diálogo que junho negava. Tanto é que ela não está surfando a onda de junho. É muito difícil pro candidato fazer isso.

E você acha que tem alguém surfando a onda de junho?

Pegando ondas menores, marolas de junho. Mas são várias, é o que eu te falei. Junho foi muita coisa, o Bolsonaro surfou alguma onda, os candidatos estreantes, os movimentos de ocupação de prédios, MST… Me adimira que um movimento que tenha surfado pouco tenha sido a pauta do passe-livre, que só a Marina encampa. Mas a mobilidade e a tarifa-zero não estão no debate eleitoral.

Em termos de possibilidades de políticas públicas, propostas econômicas e projeções para o próximo mandado presidencial, quais são as principais diferenças entre os três principais candidatos (Dilma, Marina e Aécio)? Você vê algo muito distante entre eles?

Vejo muita diferença, não sou do tipo de pessoa que acha que é tudo igual. Mas apesar de ver as diferenças não fico entusiasmado com nenhum deles. Acho que o Aécio Neves é uma caricatura de um modelo que não deveria nunca chegar perto do poder novamente, ele é um representante direto das elites mais conservadoras, de uma elite playboy mesmo, que tá mais interessada em viajar pro exterior do que discutir esse país. Um nível muito alto de acúmulo de capital, de insensibilidade social completa. Ele tá contando com o voto de direita. Uma vergonha um cara desse ser neto do Trancredo Neves, o avô deve estar se perguntando “quê que eu fiz?”. O FHC deve estar constrangido, olha que é um cara que eu tenho mil críticas à respeito, mas é mil vezes mais humanista do que o tipo de coisa que a campanha atual do PSDB propõe. O FHC tá falando em legalizar as drogas, o Aécio tá propondo a redução da maioridade penal. Vejo muito diferença entre esse candidato e a Marina, ou a Dilma.

Por outro lado eu vejo a qualidade e a fragilidade da Marina com o mesmo adjetivo, é sobre a complexidade da figura e sobre a imprevisibilidade do que o governo dela pode ser. Hora isso me estimula, hora isso me amedronta. Tenho curiosidade em ver o que uma ambientalista, com um discurso mais filosófico do que pragmático consegue realizar. Temo muito pela base política dela, pela fragilidade dela, do PSB e da Rede (de Sustentabilidade) e como vão lidar com um PMDB que já tá de olho numa possível carniça. Mas ainda vejo ela mais sensível às questões dos direitos humanos do que a Dilma, que ignorou esse assunto em relação à polícia, populações indígenas…

Não acho a candidata do PT muito laica, apesar de ela ser materialista histórica, abre muito espaço pra obscurantismo dentro do governo. Mas vejo a Dilma Rousseff verdadeiramente comprometida com o desenvolvimento social. Só não acredito que o modelo de desenvolvimento econômico que ela propõe pro país é sustentável. E as primeiras vítimas vão ser os pobres em relação ao caos ambiental que a gente tá armando. A frase não é minha, mas “o Brasil não é pra amadores”.

Não tem ninguém que eu gostaria ver Presidente da República. Devo votar na Luciana Genro, mas até falei sobre isso com ela durante a entrevista que fiz com ela: tenho completa noção que o tipo de política que ela quer implementar no país acabaria muito mais facilmente em um golpe militar do que uma revolução política de verdade. Mas torço pra um dos argumentos da Marina Silva se prosperar no país, a gente precisa de pontes supra-partidárias, é preciso achar pessoas que estão na política devido ao compromisso com a melhora pública, elas não podem ficar tão isoladas dentro dos partidos. E nisso a Marina tem razão: tem gente boa por aí, mas ela não conseguem se encontrar, os partidos não estão mais em uma disputa leal de poder. Isso facilita que o PMDB, por exemplo, deite e role na política nacional. Permite que tenhamos um energúmeno como o Edison Lobão no comando das Minas e Energia! Esse ministério tinha que está na mão de um físico. Volto a dar um exemplo do Obama, e olha que não sou muito fã dele, mas quando ele assumiu deu a Secretaria de Energia dos Estados Unidos – já imaginou quê que é isso?! – pra um físico. Uma pessoa que sabe exatamente o quê é uma linha de transmissão, o que é um Kilowatt, como a energia é gerada, a economia em torno da energia. Eu sonho com um tipo de política que seja capaz de fazer exatamente isso, de entregar o Ministério das Cidades pra um urbanista, não por alguém indicado pelo Paulo Maluf.

por THIAGO NEVES