Diretoria da FEA põe fim à “mesa de doces”

“Mesinha de doces” oferecia variedade de lanches rápidos a preços atraentes (Foto: Thaís Matos)

Quem passar pelo corredor “F” no FEA-1, prédio principal da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, vai estranhar o local: está vazio. A tradicional mesa de doces e salgados feana foi removida pela diretoria da unidade, representada por Adalberto Fischmann, nesta segunda-feira (13). A decisão foi tomada durante uma reunião do Conselho Técnico Administrativo (CTA), realizada no dia primeiro de outubro, após um questionamento feito pela vigilância sanitária da Prefeitura do Campus USP da Capital.

Somadas aos pontos levantados pela vigilância, a diretoria elencou outras questões e formulou uma lista para justificar a extinção da mesinha, como é  chamada. Segundo ela, o comércio em espaço público somente é permitido mediante licitação e a mesa ocupa, sem autorização prévia, espaço destinado à circulação de pessoas. Além disso, a presença da bancada causa sujeira indevida e os alimentos de fabricação caseira ou artesanal são comercializados sem identificação apropriada, data de produção e data de validade, inviabilizando o monitoramento da produção e da qualidade dos produtos.

De acordo com Rodrigo Toneto, diretor de graduação e representante da congregação do CAVC (Centro Acadêmico Visconde de Cairu), além dos motivos listados acima, a diretoria considera que a mesinha seja mal vista pelos visitantes externos à faculdade e, por isso, prejudicial à imagem da FEA. “Então, de maneira pouco democrática, foi votado o fim da mesinha, sendo o voto da representação discente o único contrário a essa medida”, argumenta o feano.

Para contornar os problemas levantados pelo CTA, o CAVC entrou em contato com o responsável pela vigilância sanitária e enumerou uma série de medidas para implementar as mudanças requeridas pela entidade. Entre elas, estão a regulamentação do comércio, cadastro dos usuários, garantia de limpeza e salubridade dos alimentos vendidos por meio da contratação de um serviço de limpeza duas vezes por semana, identificação de prazos de validade e ingredientes e, finalmente, a responsabilização do centro acadêmico pela organização e manutenção da mesinha.

PÚBLICO x PRIVADO

Apesar da tentativa dos alunos de reverter a situação de higiene, existe ainda um fato intransponível: o uso privado de um espaço público. Para a direção da unidade, o comércio proporciona o  beneficiamento, aos vendedores, de um espaço de ocupação gratuita sem que haja nenhuma contrapartida ou licitação.

Os alunos propuseram a concessão de uso do espaço para comercialização ao centro acadêmico e os vendedores concordaram em repassar parte do valor arrecadado (cerca de R$ 500,00 mensais) para o Amefea, uma associação que oferece bolsas a estudantes sem condições financeiras. Essa foi a maneira encontrada pelo CAVC para contornar o que a diretoria classificou como “lucros exorbitantes” que alguns alunos poderiam receber. “Não existe lucro exorbitante, porque os preços são bem abaixo do mercado, e às vezes dá até prejuízo. Mas é uma alternativa interessante”, explica Toneto.

VENDEDORES

Victor Pelizaro estuda administração e é um dos vendedores da mesa de doces. Segundo ele, ela garante a continuidade da graduação para os alunos que comercializam seus produtos. Ademais, o modo como ela é constituída é um dos principais atrativos, uma vez que os vendedores deixam seus produtos nas mesas, ao lado de cofres, e não existe fiscalização. “É importante lembrar que, em uma faculdade de negócios, a mesinha era um espaço onde os alunos poderiam aplicar diversos conceitos aprendidos durante as aulas e representava um incentivo ao empreendedorismo”, destaca Pelizaro.

Essa proibição acontece num momento delicado para as manifestações estudantis dentro do campus. Recentemente, em setembro, a reitoria proibiu as festas na dependência da universidade, que são a maior fonte de renda das entidades. Para o feano, “aceitar a retirada da mesinha é submeter o movimento estudantil aos interesses e à burocracia das instituições que enxergam o bem-estar de suas faculdades sem sequer considerar a opinião dos estudantes”.

PRESSA

Segundo Toneto, o atual diretor da FEA tem histórico de dialogar e negociar com os alunos, mas dessa vez não foi assim. Por 6 votos a 1, o conselho determinou fim da mesinha, quando na pauta constava somente o debate das questões sanitárias.

Para o CAVC, a pressa se deve realização de um evento internacional no dia 25. “A diretoria acha que a mesa poderia manchar a imagem da faculdade nesse evento”, acredita Toneto. A direção se mostrou proposta a voltar a debater o assunto em nova reunião e os alunos decidiram por criar um abaixo-assinado contra a decisão da diretoria para levá-lo nesse próximo encontro. Apoiados pelo CAVC, eles também têm preparado assembleias e tentado organizar uma mesa colaborativa como protesto à deliberação.

por THAÍS MATOS