Estudante sofre tentativa de estupro na FAU

(Infográfico: Thiago Quadros)

Uma aluna da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) foi vítima de tentativa de estupro dentro da Cidade Universitária e tornou o caso público com um relato postado nas redes sociais no dia 1ºde outubro. O atentado aconteceu no dia 11 de agosto em frente ao prédio da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). A vítima não reconheceu o agressor e, por isso, ninguém foi preso.

A estudante, que preferiu manter sua identidade em sigilo, conta que bilhetes com elogios eram deixados dentro de sua mochila no intervalo das aulas desde março deste ano. “Eram elogios e declarações de uma admiração bizarra e constrangedora”.

Depois de ter decidido andar sempre com a mochila durante os intervalos, ela avisou seus amigos mais próximos sobre o que estava acontecendo, também para que eles pudessem encontrar algum suspeito e oferecer proteção à amiga. Mas os bilhetes não pararam, e se estenderam a um amigo da estudante, que recebeu um recado que dizia “é melhor se afastar dela”.

Sem a alternativa da mochila, o agressor passou a deixar os bilhetes no para-brisa do carro da aluna, que começou a estacionar em lugares diferentes, mas sem sucesso. Ela continuava a receber as ameaças “você ainda vai ser minha”, “não pense que te esqueci”. Sobre o bilhete deixado com o amigo da aluna, o agressor a comunicou sobre a ação: “ele já foi avisado”. A estudante decidiu, então, fazer um Boletim de Ocorrência (BO), que para ela, foi apenas um “recurso burocrático”, pois não havia nenhum suspeito.

A professora da disciplina durante a qual os recados eram deixados foi avisada e recebeu a notícia com preocupação. Foi proposta a ideia de os representantes dos docentes passassem nas salas para comunicar os alunos de que o departamento do curso que a aluna estuda  já estava ciente do caso.

No entanto, na mesma semana, professores e funcionários da Faculdade entraram na greve mais longa da história da USP, que só seria finalizada em setembro. O combinado de passar nas salas para alertar os alunos, e, talvez, inclusive o agressor, não aconteceu até hoje.

A GREVE, O ATENTADO

A greve manteve a aluna distante da FFLCH, até o dia 11 de agosto, quando o atentado aconteceu.

Ela havia combinado com dois amigos de se encontrar na USP para acertar detalhes de um trabalho que deveria ser entregue logo em seguida do fim da greve.

A aluna chegou um pouco antes do combinado e foi até a FAU para comprar um caderno. Ela desceu do carro, mas lembrou que havia esquecido o celular e precisou voltar. Foi exatamente no momento em que abriu a porta do seu veículo para procurar o celular que foi abordada pelo agressor. “Veio pelas minhas costas me segurando pelo pescoço e forçando a entrada no carro. Sem que me deixasse ver seu rosto, porque me segurava com força e violência pela nuca, falou meu nome e em seguida ‘eu te avisei’, repetidamente. Ele me imobilizou e se deitou em cima de mim. Quando tentou abrir minha calça, consegui acionar a buzina do carro com meu joelho, alta e continuamente”.

Assustado, o agressor bateu o rosto da aluna contra a porta do passageiro e fugiu do local. Mobilizada pela dor, ela não conseguiu se virar para identificar o rosto do homem. Um novo BO foi feito eum exame de corpo de delito.

MEDO E DESCONFIANÇA

Desde a retomada, com o fim da greve, a aluna vive em pânico: “convivo diariamente com o medo e a desconfiança de qualquer olhar mais demorado. Não ando mais sozinha. Não fico mais em paz, em qualquer lugar da universidade, não me concentro, mal consigo assistir às aulas com o mínimo de atenção”, ela relata.

No relato publicado nas redes sociais, ela afirma que, apesar de estar profundamente constrangida, tem o objetivo de “prezar minimamente pela minha segurança, chamar a atenção para um problema sério dentro de nossa sociedade e atentar para o fato de que a USP é cenário de diversos casos de abusos, assédios e estupros, e os episódios são abafados ou ignorados”.

Em entrevista ao Jornal do Campus, a estudante relatou que recebeu da polícia a sugestão para fazer algum tipo de emboscada com a ajuda de seus amigos para  atrair a atenção do agressor, prendê-lo em flagrante. A sugestão foi imediatamente recusada.

Ela ainda revelou que, ao procurar os órgãos responsáveis pela segurança no campus para recuperar imagens de monitoramento que poderiam ajudar nas investigações, foi informada de que nenhuma câmera funciona há um ano. Questionada sobre o caso, a assessoria da imprensa da USP afirmou que “algumas câmeras estão em funcionamento no local indicado pela estudante. Está adiantado o projeto de instalação do sistema de monitoramento eletrônico das áreas comuns (avenidas, bolsões de estacionamento, pontos de ônibus e acessos) do campus”. Por falta de provas, os BO’s feitos foram arquivados.

Na opinião da vítima, as condições da segurança na USP são também um pretexto para a terceirização da Guarda Universitária e uma justificativa para a entrada da Polícia Militar no campus.

A estudante afirmou que agora trabalha na publicação de uma carta-repúdio com a ajuda de outras mulheres vítimas de violência no campus. O texto deve ficar pronto nas próximas semanas.

por JOÃO PAULO FREIRE