1° Torneio de Rugby na USP aponta avanço da modalidade

Vencido pela Engenharia, o campeonato foi criado para integrar estudantes. Rugby está cada vez mais popular (Foto: Anaís Motta)

O rugby é um esporte britânico oficializado há cerca de 150 anos, com a criação da primeira associação que regulamentou sua prática. Somente nos últimos 20 anos, ele tem se popularizado diferentes clubes por todo o Brasil, se tornando um dos esportes mais práticados fora do eixo futebol–vôlei.

Nos dias 8 e 9 de novembro, o Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPE) recebeu o 1° Torneio de Rugby realizado na universidade. A iniciativa partiu da pró-reitoria de graduação, visando integrar mais os alunos dentro do meio esportivo. A partir daí a Poli Rugby encampou a idéia de um campeonato entre as entidades da USP e com o auxílio da Pró-Reitoria de Graduação (PRG)ficou responsável pelo encaminhamento do campeonato.

O time vencedor da disputa foi o da Engenharia, que derrotou os “abóboras” da Faculdade de Direito na final, por 28 a 5. Os alunos da Poli venceram com tranquilidade a maioria das disputas. Alem da atuação nos esportes universitários, os engenheiros tambem tem competido no Campeonato Paulista de Rugby e estão na segunda divisão do campeonato nacional.

De acordo com Leandro Bastos, aluno da Engenharia Civil e um dos organizadores do torneio.“Com o aumento da visibilidade do rugby no Brasil, os times universitários tem recebido maior número de interessados em praticar o esporte”. Com esse crescimento, ele deixou de ser exclusividade de alguns clubes da cidade. “O rugby universitário tem atraído aqueles atletas que antes, buscando um nível mais alto, competiam por clubes mais tradicionais como Sâo Paulo Athletic Club ou o Bandeirantes”, disse o jogador, que levantou a taça no domingo.

ESTRUTURA DO CEPE

Uma das grandes dificuldades para o avanço do rugby na USP é o despreparo físico do CEPE para a sua prática. Entre os cinco campos do centro, não há nenhum com as especificidades para a modalidade, o que faz com que os times tenham que sempre adaptar o jogo em campos de outros esportes.

Algumas equipes tem improvisado para realizar seus treinos devido à falta de incentivo. Carina Prado, do time feminino da FFLCH, conta que, muitas vezes, a equipe acaba treinando em lugares como rotatórias e gramados. Em dias de chuva, as meninas usam a entrada do prédio da História e Geografia para se preparar. “Acabamos usando os campos do CEPE apenas em ‘treinos especiais’, pois precisamos pagar para usá-los. Como não temos nenhum repasse de patrocinador ou mesmo da Atlética, fica difícil pagar o campo, a treinadora e os materiais”, relata a estudante.

Apesar disso, Leandro ressalta que o CEPE tem aberto as portas para o rugby, permitindo a instalação dos H’s (traves de ferro posicionadas na linha de fundo) em um dos campos, durante treinos e jogos. Mesmo com esse avanço, as traves precisam ser montadas e desmontadas, o que acaba atrasando os treinos. Para ele, “falta oficializar um campo para o rugby, de forma que todos os times ganhem com isso”.

A PRESENÇA FEMININA

O torneio também contou com a participação de quatro times femininos do esporte, tendo como vencedor a Seleção USP, que conta com garotas de diferentes cursos. A baixa presença de times femininos dentro da universidade é explicada pelo pouco conhecimento que se tem sobre o rugby, que faz com que o esporte pareça muito violento e exclusivo para os homens.

De acordo com Marina Fré, estudante do curso de Letras na FFLCH, “uma das maiores dificuldades é fazer com que mulheres queiram quebrar essa barreira do mito que ronda o rugby como um esporte exclusivamente ‘masculino’”. Ela contou que muitas meninas aparecem nos treinos uma vez e depois não voltam nunca mais: “É difícil incluir mais mulheres em um esporte enquanto não somos levadas a sério e respeitadas como jogadoras, é bastante comum ouvir que as mulheres que estão no rugby não são mulheres de verdade, ou que elas estão praticando simplesmentepara se aproximarem de homens”.

Romper o preconceito é uma das lutas que os times universitários têm travado. Carina também conta já ter ouvido diversas falas machistas ao praticar o esporte. “Já ouvimos de um árbitro durante um torneio que não havia motivo para mulheres jogarem rugby se não fosse de calcinha e sutiã, como em uma das modalidade que ele assistia pela televisão”, contou.

Essa realidade tem gradualmente mudado. A seleção brasileira feminina conquistou bastante espaço ultimamente, se tornando um dos dez melhores times do mundo. Para Leandro, “muito embora ainda exista aquele preconceito de algumas meninas por se tratar de um esporte de contato, o número de times femininos na faculdade vem crescendo nos últimos tempos”. São exemplos desse crescimento o time da FEA/Odonto, que participou do próprio torneio, e o time da FFLCH, criado no ano de 2009 e pioneiro em toda a Universidade. “Cada vez mais as mulheres têm entrado em campo e mostrado para muito marmanjo que rugby também é esporte de mulher, sim”, afirmou o estudante.

por PEDRO PASSOS