Coletivo da FAU apoia vítima de exposição

A aluna Tainá Toscani, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, teve um retrato de seu seio nu disseminada para várias pessoas desconhecidas após uma festa. Indignada com a repercussão do ocorrido, a aluna buscou o auxílio de um coletivo feminista e juntas conseguiram mobilizar um número ainda maior de pessoas a favor da liberdade do corpo da mulher e contra a opressão machista.

A jovem participou da “Peruada” no dia 17 de outubro, festa tradicionalmente organizada pelos alunos de direito da USP, e conhecida por acontecer ao ar livre, nas ruas do centro de São Paulo. Vestida de “grega” e acompanhada de amigos e do namorado, Tainá conta que, justamente por sua fantasia ter sido feita a partir de um lençol e não costurada, havia uma certa dificuldade em mantê-la no lugar. “Depois de um tempo, cansei de me preocupar com a fantasia e com meu possível peito aparecendo e resolvi desencanar. Ela caiu, deixando um seio à mostra, e eu continuei na festa”, relata.

Não demorou para que algns participantes da festa começaram a demonstrar sua insatisfação: mulheres vinham avisá-la de sua condição e a criticavam pelas costas, enquanto homens se aproximavam e pediam para tocar e fotografar seu seio. Ao final da festa, ela ainda conta que dois homens que diziam ser da “biqueira São Francisco” ofenderam a ela e a seu namorado, o que os motivou a ir embora.

Como se não bastasse, a aluna ainda descobriu que algumas pessoas haviam tirado fotos sem sua permissão e as estavam compartilhando indevidamente por meio do WhatsApp. “Fiquei chocada ao saber que a minha imagem estava sendo compartilhada e repassada para pessoas que eu sequer sabia quem eram. A foto era compartilhada com uma mensagem do tipo: ‘olha que engraçado essa menina de boa com o peito de fora no centro da cidade’”, conta Tainá.

Para além do absurdo que já é ter um retrato compartilhado para inúmeras pessoas sem consentimento, a aluna ainda ressalta o descaso com os vários casos de roubos, abusos sexuais e hostilidades misóginas e homofóbicas em geral acabam sofrendo um certo “apagamento” quando comparadas com algo tão banal quanto a exposição de uma parte do corpo humano em público.

O machismo em torno da situação se deu de forma tão forte que até as pessoas que se demonstraram preocupadas com a situação de Tainá acabaram por reproduzir o mesmo discurso opressivo. “Muita coisa me surpreendeu nessa situação. Primeiro, a reação das meninas, já na festa, que sentiam medo por mim, como se eu tivesse correndo perigo por estar com uma parte do meu corpo exposta. Depois, a ‘tranquilidade’ das mesmas quando viam que eu estava ‘protegida’ por ter um namorado, como se já que eu tivesse um ‘dono’, ninguém ia mexer comigo”, pontua, indignada.

Com a situação fora de controle, Tainá recorreu ao Coletivo Feminista da FAU (do qual já era uma integrante) para pensar em alguma forma de resposta. Da mesma forma que a confusão se instaurava no âmbito digital, o grupo resolveu combater a situação com as mesmas ferramentas: criando uma campanha que pudesse circular nos mesmos meios, levando uma nova mensagem.

“Modificamos diversas fotos de seios das meninas do coletivos e também de quadros antigos famosos, com frases de protesto e espalhamos por aí”, explica a aluna. A repercussão da campanha foi bastante forte e em poucos dias um grande número de alunos da universidade e de pessoas de fora que apoiavam a causa começaram a se manifestar em favor de Tainá. O caso ganhava cada vez mais espaço entre os debates estudantis, mas com um novo e mais positivo significado.

O debate sobre o machismo e a opressão do corpo e da liberdade da mulher encontra-se cada vez mais em pauta no âmbito universitários, mas ainda está longe de acabar. “Espero que as pessoas repensem ao julgar alguém. Eu estava com o meu seio à mostra porque eu queria, e ninguém tinha a ver com isso. Não existia nenhuma conotação sexual ou apelo no meu comportamento durante a festa e eu realmente acredito que um dia vai ser ok uma mulher andar sem camisa na rua, como qualquer homem pode fazer”, pontua Tainá.

por MARIA ALICE GREGORY