Diretoria da EACH repudia caso de racismo

(Foto: João Paulo Freire)

A diretoria da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) publicou, na última quinta-feira (30), uma resposta à acusação de injúria racial que um grupo de alunos fez contra o ex-vice-diretor da Escola, Edson Leite, e um de seus advogados. O caso teria acontecido ao término de uma reunião da CPI das Áreas Contaminadas para a qual a antiga diretoria foi convocada a fim de prestar esclarecimentos no dia 23 de setembro.

Segundo os alunos que compareceram à reunião, um dos advogados de Edson Leite, que não teve seu nome divulgado, teria mandado uma aluna da Escola ir “se lavar”, depois de ela ter questionado a atitude do professor durante a CPI de não se responsabilizar por um aterro instalado de forma ilegal no campus durante a sua gestão.

Foi gravado um vídeo em que alguns alunos questionam se a ordem de ir se lavar se referia à cor da estudante, que é negra, mas o material não foi publicado na web.

NOTA DE REPÚDIO

Na nota, endereçada aos alunos, funcionários e docentes da EACH, a diretoria “repudia veementemente quaisquer atos que violem os direitos humanos e os princípios democráticos”. A carta ressalta a interdisciplinaridade e a “formação de base humanística e comprometida com o respeito e a dignidade humana” como marcas da Escola.

Maria Cristina Motta de Toledo e Neli Aparecida de Mello-Théry, diretoras da Escola, defendem uma investigação que encaminhe providências e contribuam para o aperfeiçoamento do ambiente acadêmico. As professoras também repudiam “atos racistas, misóginos, machistas, homofóbicos e outras formas de preconceito que firam a dignidade da condição humana, bem como as diferentes formas de assédio”.

Em resposta às acusações, foi criada na Escola uma comissão com a responsabilidade de aplicar  medidas de educação para os direitos humanos e democracia, apurar, ainda que inicialmente, futuros casos eventuais da mesma natureza e contribuir com um encaminhamento adequado de cada situação.

A diretoria garante que trabalhará para que a Escola não protagonize casos de violação dos direitos humanos e para que, caso aconteça, as vítimas encontrem na Escola um espaço de acolhimento à “diversidade, respeito e às pluralidades que dão vida à humanidade”.

APOIO À FUNÇÃO DOCENTE

No dia anterior à publicação da nota de repúdio da diretoria, a coordenação do curso de Lazer e Turismo expediu uma carta que exige “garantir o pleno exercício da função docente do professor Edson Leite”.

Diversos setores da Escola têm organizado manifestações durante as aulas do docente, que estariam comprometidas com as mobilizações.

Os coordenadores Antonio Carlos Sarti e Sidnei Raimundo dizem ser “lamentável que qualquer pessoa seja julgada à margem das instituições competentes para conduzir o devido processo legal e para assegurar os direitos de defesa”. Para Sarti e Raimundo, “tolerar a violação desses direitos [como o de defesa] em relação a qualquer pessoa colocaria todos os brasileiros à mercê de regimes políticos de exceção, autoritários, antidemocráticos, possivelmente brutais”.

A carta ainda sugere que alunos que se sintam ofendidos com algum “ato irregular” do professor Leite procurem “as instituições e fóruns legalmente competentes”, uma vez que, segundo a carta, “a sala de aula, destinada a atividades didáticas e pedagógicas, certamente não é o fórum adequado”.

VERSÕES

A aluna que teria sido vítima da injúria racial não quis se identificar. A estudante contou que está emocionalmente abalada e faz acompanhamento psicológico. Ela é natural da região Norte do Brasil e viajou no último fim de semana para a casa dos pais.

O professor Edson Leite foi procurado, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição. Ele estava acompanhado de dois advogados, que não tiveram seus nomes divulgados durante a CPI e não foram encontrados. Ainda não se sabe se eles representavam apenas o ex-vice-diretor ou a USP.

De acordo com a assessoria de imprensa da Escola, “o mandato que ele [Edson Leite] tinha de vice-diretor se encerrou no mês de janeiro deste ano. Até o momento, nossa informação é que ele é professor da Escola”.

INTERDIÇÃO

O campus da USP-Leste ficou interditado de janeiro a agosto deste ano por decisão judicial depois de um laudo da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) atestar a inadequação do espaço para aulas devido a presença de gás metano no subsolo, com risco de incêndio e explosão. As aulas foram transferidas para outros prédios e voltaram a funcionar no campus apenas depois da instalação de equipamentos necessários à captação e ventilação de gás metano.

Foi criada uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo em 8 de abril para investigar denúncias de áreas contaminadas na cidade, dentre as quais o campus da USP-Leste. A Comissão é presidida pelos vereadores Rubens Wagner Calvo (PMDB) e Valdemar Silva (PT).

por JOÃO PAULO FREIRE