Eleições do DCE são adiadas pelo segundo ano seguido

Próximo à sede do DCE, poucos alunos sabiam da mudança no calendário eleitoral (Foto: Dimitrius Pulvirenti)

O Conselho de Centros Acadêmicos (CCA) decidiu, em sua última reunião, no dia 1 de novembro, que as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) ocorrerão apenas no ano que vem. É a segunda vez, em dois anos, que o pleito é adiado. Entre os grupos de oposição à gestão do DCE, acredita-se que as eleições no começo do ano favoreçam a chapa de situação, devido ao voto dos calouros, pouco familiarizados com os grupos que integram o movimento estudantil na USP.

De acordo com participantes do CCA, o adiamento das eleições ocorreu devido a dois motivos: o pouco tempo disponível para a organização das eleições- em novembro, também estão sendo realizadas as eleições para os Centros Acadêmicos, como o Jornal do Campus informou na última edição. As datas restantes seriam entre o fim de novembro e início de dezembro, quando alguns estudantes já estão em férias. O CCA alegou também que, politicamente, seria prejudicial que as eleições ocorressem às pressas, com os grupos desarticulados em um período pós-greve. Para Gabriela Ferro, estudante de Relações Internacionais (e diretora do DCE), “a eleição do DCE deve ser mais do que uma coleta de votos, mas um momento que politize a USP e prepare os próximos passos do movimento estudantil”.

A estudante concorda que o melhor cenário para as eleições é no fim do ano, quando os novos ingressantes já estão familiarizados com o movimento estudantil uspiano. “Porém, especificamente nesse ano, o CCA entendeu que seria melhor o adiamento”, afirmou. Em contato com a reportagem do Jornal do Campus, um integrante do Diretório Central dos Estudantes que não quis se identificar afirmou que a realização da votação apenas em 2015 é problemática. “Seria preferível que fosse no final do ano”, disse.

OPINIÃO DOS ESTUDANTES

O Jornal do Campus conversou com alguns alunos sobre a opinião deles em relação ao adiamento das eleições. “[A participação de calouros e calouras] acaba influenciando um pouco”, disse Mirella Napolitano, estudante da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Matheus Ferreira, da Escola de Educação Física e Esportes, discorda da realização da votação em 2015: “É muito ruim. Os bixos ficam alheios à eleição”, afirmou. Helena M., que não quis revelar seu sobrenome, ressalva que “é função dos centros acadêmicos informarem os ingressantes sobre todas as chapas”. Blas Sanchez, da Poli, acredita que a organização das eleições em 2015 é injusta com os grupos que não fazem parte da gestão do Diretório Central. “Sou contra. O DCE em diversas situações se posicionou favor da greve, então a gestão deve arcar com as consequências do que eles apoiaram”, afirmou.

Leonardo Chagas, aluno do primeiro ano de Letras, disse que as eleições deste ano para o DCE foram marcadas pela desinformação. “Percebi que muitos dos grupos políticos depositavam todas as forças nestas eleições e não priorizavam a mobilização dos seus cursos e do movimento estudantil em geral”, disse. Para Chagas, o objetivo deveria ser mobilizar os cursos e identificar os grupos para os estudantes desde o primeiro dia. “Minha principal desconfiança”, disse sobre as eleições em 2015, “é de que seja apenas mais uma eleição que manterá mais do mesmo sem se preocupar com a integração dos estudantes ao movimento e suas lutas”.

No ano que vem, deverá ocorrer o Congresso dos Estudantes. Para Gabriela Ferro, o calendário eleitoral e os métodos e fóruns do movimento estudantil precisam ser abordados lá. “Precisamos ser criativos e ousados pra conseguir fazer com que o movimento estudantil da USP possa responder à altura as lutas que teremos que travar para o próximo período”, indicou.

ENCONTRO DE CENTROS ACADÊMICOS

Para diminuir o distanciamento com os estudantes, o DCE organizará o Encontro de Centros Acadêmicos (EnCA) nos dias 29 e 30 de novembro, na Faculdade de Medicina. Entre os convidados do evento, estão o lider do Movimento de Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos, os professores Raquel Rolnik e Vladimir Safatle, e o cartunista Laerte. “O EnCA vai cumprir com a função de nos formar e também antecipar as discussões congressuais que serão tomadas com mais centralidade em 2015”, explicou a diretora do DCE.

O distanciamento dos representantes estudantis em relação aos corpo discente causa preocupação para Leonardo Chagas: “Espero que cada grupo que disputará o DCE tenha em mente a necessidade de se construir a mobilização 365 dias por ano, e não apenas nos dias que as eleições ocorrem”, disse. Nenhum dos estudantes ouvidos pela reportagem sabia do adiamento das eleições. Guilherme Kranz, do coletivo Juventude ÀS RUAS, afirmou que além das eleições, outros temas são importantes para os calouros. “Como os calouros vão lidar com a crise orçamentária instaurada, ou como muitos calouros chegam de outras cidades e não existem vagas no Crusp. Ou até mesmo os trotes opressores que existem em todas as unidades”, lembrou.

O EnCA marca, também, o fim a atual gestão do Diretório Central, que passará a ser gerido por uma comissão gestora, composta por centros acadêmicos definidos no CCA e responsáveis pela realização da Calourada Unificada e pelo processo eleitoral do DCE de 2015.

por DIMITRIUS PULVIRENTI