Mudança no BIFE mostra que esportes individuais têm menor atenção

Adiantamento das competições de atletismo e natação isolam essas modalidades do resto dos jogos entre faculdades (Foto: Carolina Leonardi)

Ao contrário de outros anos, a natação do BIFE, torneio entre faculdades (inter) com a participação de unidades da USP como Biologia, IME, FAU e ECA, entre outras, foi realizada em São Paulo antes do resto da competição, que acontece no próximo feriado na cidade de Araraquara. O atletismo também aconteceu antecipadamente, mas já havia sido assim no ano passado. Com as competições esportivas, o objetivo do Bife é, além da disputa, o de promover a integração dos atletas participantes. A opção de adiantar duas modalidades, no entanto, não contribui para integrar participantes de diferentes cursos e esportes.

A comissão de organização (CO) explica que é muito difícil encontrar cidades com o perfil da competição, geralmente pequenas, que ofereçam pista e piscina semi-olímpica adequadas. “A maior dificuldade se dá pela especificidade dos esportes. Natação, atletismo e até mesmo tênis acabam sendo mais difíceis de serem organizados por demandarem espaços específicos para sua execução”, explica Thalita Cardoso, aluna da ECA que faz parte da CO do BIFE.

Mesmo dos atletas que apenas competiram em São Paulo, foi cobrada a taxa de R$ 95 do kit CO, que inclui os custos, além da estrutura esportiva, das festas promovidas durante o inter. “O preço foi excessivamente alto em comparação com outras competições universitárias”, diz Felipe Freitas, técnico de natação das equipes da ECA, da Física e da FFLCH. Por outro lado, a opção pela cobrança do mesmo preço foi escolhida para incentivar que os praticantes destas modalidades participem da integração em Araraquara. “Durante a reunião da CO, houve também a justificativa de que, se fosse cobrado um valor diferente, seria como se esses esportes não fizessem parte do inter”, conta Thalita.

ESPORTES INDIVIDUAIS NA SOCIEDADE E NA USP

Não apenas em alto rendimento, mas também na prática esportiva amadora em escolas e clubes, a atenção com os individuais é  menor. Algumas vezes, nem quando grandes destaques, como César Cielo na natação ou Fabiana Murer no atletismo, competem, acompanha-se estes esportes. No âmbito da competição universitária, acontece como no resto da sociedade: os setores que têm menos representividade recebem menor atenção, deixando os praticantes desses esportes à margem dos campeonatos.

Para João Francisco Meireles, diretor geral de esportes (DGE) da Liga Atlética Acadêmica da Universidade de São Paulo (Laausp), o principal fator que dificulta a organização de competições de esportes individuais é a diferença no modo como elas acontecem. “Com jogos, só precisamos achar um horário adequado para as duas faculdades participantes. Já no atletismo e na natação, o fato de termos de encontrar uma data boa para todas as atléticas ao mesmo tempo complica tudo”, explica ele. Os diferentes times participam também de outras competições, o que acaba por tornar muitas datas inviáveis. “Por causa dessas dificuldades, a adesão dos times à Copa USP, competição organizada pela Laausp, acaba sendo muito baixa”, completa o diretor.

No caso do atletismo, segundo o diretor de modalidade (DM) da Faculdade de Economia e Administração (FEA), Pedro Vinicius da Silva, o mau planejamento das competições atrapalha o desempenho e atrai menor torcida. “Na InterUSP, a falha da comissão organizadora é não buscar uma cidade sede com pista de atletismo. A competição sempre ocorre fora da cidade que recebe os jogos, fazendo com que sofra com falta de torcedores e exige um esforço extra por parte dos atletas para que possam competir”, conta o DM. Outro fator prejudicial ao desempenho dos esportistas do atletismo é a confusão para organizar competições por falta de conhecimento da modalidade. “Nos últimos Jogos da Liga, apresentaram um péssimo programa em relação à ordem das provas realizadas, o que diminuiu muito o nível da competição” diz Pedro.

A natação também sofre com a desvalorização. “Em geral, as modalidades individuais são menos cativantes ao público. A principal consequência desse fato é que as instituições responsáveis pela organização acabam por não priorizá-las, visando aquilo que lhes trará melhor retorno, tanto no aspecto financeiro quanto no de abrangência do público”, explica o DM da Escola Politécnica (Poli), Caio Pantarotto. O atleta explica também que, para tentar vencer as adversidades, sua equipe tenta participar de muitos campeonatos. “Para suprir a demanda que os atletas das modalidades individuais têm, tentamos participar do maior número de competições e encarar todas com seriedade, independente das equipes participantes e a estrutura envolvida. Acreditamos que a melhor forma de tentar fazer o esporte crescer é levá-lo a sério sempre”, conta Caio.

Esportes de luta, além de contarem com a dificuldade de organização e a falta de tradição, sofrem com outro problema. “Há todo um preconceito que essas modalidades recebem, erroneamente carimbadas como violentas”, alega o DM de jiu jitsu e judô da FEA, Patrick Nasser. Além disso, ele critica a falta de iniciativa de entidades esportivas da Universidade. “A Laausp não possui equipes de lutas, e, quando os campeonatos de grande porte estão se aproximando, correm para as atléticas perguntando quem pode participar das competições, como se fosse apenas para ‘cumprir tabela’”, completa o diretor.

MELHORIAS PARA O FUTURO

Com a finalidade de melhorar a situação dos esportes individuais, João Francisco Meireles explica que a Laausp está planejando uma melhor organização para o próximo ano. “Nós já definimos as datas do tênis de mesa, do atletismo e da natação para a Copa USP, e também criaremos torneios mensais de tênis de mesa”, conta o DGE.

Outra iniciativa é a de começar uma seleção com os melhores atletas da Universidade, que já existe para os esportes coletivos, também para os individuais. Para as lutas, a entidade estuda a criação da modalidade de judô no campeonato de calouros BichUSP, que ainda não conta com essa modalidade.

por VICTORIA SALEMI