Por onde anda o circular cinza?

Os dois pontos de acessi à CPTM são hoje os mais saturados da Cidade Universitária (Foto: Júlia Pellizon)

São sete e quarenta e cinco da manhã. Por volta de 20 pessoas se aglomeram no ponto de ônibus da CPTM e aguardam o circular que sai do metrô e transita dentro da Cidade Universitária, no campus Capital. Ao chegar o ônibus, o qual já se encontra em estado de lotação, as pessoas se espremem para conquistar um espaço livre na esperança de se chegar ao destino no horário certo. Isso não é só às 7h45 nesse ponto, mas também entre 18h30 e 19h15 no mesmo local; e em tantas outras paradas espalhadas pela USP.

Essas situações diárias afetam não só os estudantes, mas também funcionários e cidadãos que utilizam os serviços de atendimento social disponíveis na Universidade. A linha de ônibus circular interna da USP não atende à comunidade desde a greve de funcionários, que parou as atividades por mais de 100 dias. O circular interno  –  também conhecido como “circular cinza” –, era disponibilizado como transporte próprio do campus do Butantã, na zona oeste de São Paulo. O veículo servia de alternativa aos estudantes, e, para além disso, mostrava-se necessário para o acesso gratuito da comunidade de fora da USP, que depende dele para chegar ao Hospital Universitário, por exemplo.

O serviço dispõe de dois tipos de circulares que realizavam rotas diferentes para suprir o transporte por todos os locais do campus. Para usá-los não é preciso pagar passagem, pois eles são gratuitos para todos os passageiros, sem necessidade também de se apresentar cartões de identificação para utilizar o veículo. Mariana Maria, aluna do sexto ano de Letras, era usuária do circular interno e descreve sua percepção sobre o sumiço dos ônibus: “o número de ônibus foi diminuindo com os anos”, e, de acordo com ela, isso foi possível analisar pela “frequência com que eles passavam e o inchaço nos pontos de ônibus”, afirma a aluna.

PREFEITURA DO CAMPUS DIZ

Ao ser contestada pela falta dos circulares, a Assistência Técnica de Relações Institucionais e Comunicação (ATRI), da Prefeitura do Campus da Capital, esclareceu que os circulares internos saíram de curso no dia 27 de maio deste ano. A assessoria afirmou que as linhas de circulares passam por um processo de avaliação pela Alta Administração da USP, a qual visa “atender da melhor forma possível as demandas acadêmicas da Universidade”.

Além disso, a ATRI realçou a importância dos ônibus que saem da Estação Butantã e percorrem as ruas da Cidade Universitária, pertencentes às linhas 8012 e 8022. Inclusive, a Prefeitura do Campus estuda a ampliação do oferecimento de ônibus dessas duas linhas. Porém, sobre a questão atual, “o serviço têm sido suprido pelas linhas de ônibus circulares da SPTrans (8012 e 8022)”, segundo informação fornecida pela assistência. Desde fevereiro de 2012 existe uma parceria entre a USP e a SPTrans,responsável pelo desenvolvimento do Bilhete USP, que permite o acesso gratuito da comunidade uspiana com o uso dessas linhas que saem do metrô.

O SUMIÇO TEM CONSEQUÊNCIAS

Renier Vasconcelos fazia uso intenso desse meio de transporte durante o ano de 2013. “No ano passado fazia cursinho na Poli e usava quase todos os dias, às 18h”. Atualmente, estudante do segundo semestre do curso de Letras, Renier descreve a dificuldade de se chegar à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) diariamente. Isso porque o ponto de ônibus CPTM II só é atendido pelo ônibus da linha 8022, o qual faz um caminho mais longo para atingir o seu destino. Ele revela que o circular auxiliava “porque desço na CPTM e vou pra FFLCH, e o circular normal dá uma volta pra chegar lá”.

Para Jean Carlos, motorista dessa mesma linha, a falta do circular cinza prejudica bastante o trajeto, principalmente pela superlotação frequente. “O horário da manhã é um dos piores, porque os veículos já saem do cheios do terminal e ao chegar na USP fica difícil que mais passageiros entrem”, relata. Os pontos mais críticos são, respectivamente, o da CPTM II e o que fica próximo à saída do Portão 3 (P3). Em ambos seria possível diminuir a quantidade de passageiros, que aguardam o transporte para se locomover dentro da Cidade Universitária, com auxílio das linhas de circulares internos. Entretanto, questionada sobre a ligação entre a falta desses circulares e a piora da lotação dos ônibus das linhas que saem da Estação Butantã, a ATRI “não entende que isto [a falta dos circulares internos] tenha sobrecarregado as linhas 8012 e 8022”.

No entanto, para Mariana, a questão-chave é o público que o circular interno atende. “Muitas pessoas da comunidade usam o circular, como crianças indo e voltando das escolas e os moradores da São Remo” e completa “agora com o BUSP só a comunidade USP tem esse privilégio”, afirma a estudante.