Propaganda eleitoral em tempos de mídias sociais

(Infográfico: Arthur Aleixo)

Nas eleições deste ano ficou clara a mobilização nas mídias sociais e sua maior participação no processo de propaganda eleitoral,  principalmente tendo em conta a penetração significativa da internet na população brasileira, que segundo a pesquisa TIC Domicílios do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), atualmente soma mais de 51% dos cidadãos, ou 85,9 milhões de pessoas. Com isso, a abrangência das informações nesse âmbito (sejam elas verídicas ou falaciosas) é muito maior, causando muito mais impacto e com disseminação ainda mais rápida, de forma que, em 2014, os boatos ganharam força e passaram a ser parte integrante do processo eleitoral.

Vale lembrar, contudo, que já em 2010 alguns partidos (principalmente  PT e  PSDB, que disputavam o segundo turno mais uma vez) já contavam com equipes responsáveis por criar perfis fakes e disparar notícias incompletas ou tendenciosas para ambos os lados, como lembra Ricardo Azarite, especialista em mídias sociais. “Eleições são feitas de boatos, principalmente quando são muito acirradas – e isso não é de hoje. Na campanha de 1960 nos EUA, por exemplo, espalhou-se um boato de que o governo (republicano à época), havia infiltrado uma equipe soviética em território americano; tudo não passava de um boato criado pela campanha de JFK, que pegou carona num envio de equipes militares soviéticos para Cuba (e não para os EUA, como divulgado)”, explica. Gilmar Lopes, criador do site E-Farsas (portal dedicado à desmitificação de boatos viralizados na internet), por outro lado, afirma que essas foram as eleições dos boatos: “Acredito que nunca houve uma eleição tão pautada em boatos como as de 2014. Muitos perceberam a força que tem um boato digital pela força e rapidez de disseminação e, até que se apure a verdade, o estrago já está feito”.

Ainda que a boataria gere um rebuliço fulminante nos círculos que atinge, ela não influenciando muito no processo de escolha do candidato pelo eleitor. “A internet, de maneira geral, não consegue gerar voto: um boato pró-Dilma, provavelmente só será certamente absorvido por um eleitor Dilma, que o usará como argumento para convencimento com sua rede social. Não acredito que o impacto tenha sido grande”, afirma Ricardo. Em contrapartida, essa tendência informativa gerou um novo mercado – a “mídia anti-mito”. Tomando como exemplo a estrutura comunicacional robusta criada pelo PT para o embasamento e desmistificação de críticas à campanha da Dilma, percebemos a criação de diversas campanhas com esse intuito, como foi o caso do Muda Mais, do Brasil Debate, da Plataforma Política Social, dentre outros. “Toda essa estrutura comunicacional foi feita exatamente pra alimentar a onda anti-boataria que o PSDB criava”, pontua Ricardo. “Além disso, havia um mecanismo interessante de envio de conteúdo por Whatsapp pelo Muda Mais, com o mesmo objetivo: sempre que havia um novo boate, eles logo desmistificavam e mandavam para a base aliada”.

De toda forma, fica claro que, se por um lado temos um maior acesso à informação e achamos que podemos procurar respostas para indagações políticas com maior facilidade devido à internet, por outro também estamos sujeitos a todo um conteúdo enviesado que podemos compartilhar sem nos dar conta do que ele omite ou desmente. “É muito mais fácil clicar em “curtir” ou em “compartilhar” do que perder alguns minutos pesquisando sobre a veracidade de determinado assunto. É preciso desconfiar de tudo, buscando verificar se a notícia apareceu em quais veículos, se cita alguma fonte, e tomar cuidado pois até alguns portais de notícias ‘sérios’, às vezes, caem nas pegadinhas virtuais e publicam um hoax (histórias falsas disseminadas pela internet) sem saber. A errata aparece alguns dias depois (quando aparece) bem pequenininha, no cantinho do portal”, lembra Gilmar

por MARIA ALICE GREGORY