Transporte uspiano está em meio ao caos

Incentivo e integração ao transporte coletivo de São Paulo trariam melhorias à locomoção dentro da Cidade Universitária (Foto: Tauã Miranda)

Assim como no restante da cidade de São Paulo, a USP agora começa a ver o transporte coletivo como prioridade dentro dos seus limites. O projeto de instalação de faixas exclusivas de ônibus e ciclofaixas no campus deixa clara a necessidade de melhorias na estrutura de transporte coletivo para quem entra e sai da Cidade Universitária. Segundo a Prefeitura do Campus, o objetivo da implementação é “melhorar a infraestrutura pedonal e viária do campus, para a coexistência de diferentes modais de transporte”.

Historicamente favorecendo o deslocamento por meio de carros, a Universidade não consegue se sustentar mais nesse modelo anacrônico, e isso é refletido em todos os problemas que a comunidade enfrenta diariamente para chegar e sair do campus. “A USP foi planejada para o transporte individual”, relembra o arquiteto e urbanista Renato Cymbalista, que ministra a disciplina de História do Urbanismo Contemporâneo, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

A realocação de todas as unidades de ensino juntas em um campus suburbano, sem as adaptações necessárias nas rotas do transporte coletivo, aliada ao próprio desenho da Universidade, contribuiu muito para que a cultura do transporte individual se estabelecesse tão fortemente. “Além do tamanho e da localização do campus, a disposição das unidades e a distância entre elas fazem com que os caminhos sejam percorridos preferencialmente de carro”, completa Renato.

Outro ponto é o desenho viário, com inúmeras rotatórias e poucos cruzamentos. “Mesmo em uma velocidade reduzida, um ônibus não foi feito para passar por uma rotatória e isso provoca um desconforto absurdo para os passageiros. Com um automóvel individual, contudo, isso não acontece, porque a rotatória é perfeitamente desenhada para um carro”, explica o professor. Esse modelo também prejudica os pedestres e ciclistas que têm que cruzar avenidas largas, sem sinalização.

ALTERNATIVAS AO CAOS

A partir do cenário atual, a Universidade tem que criar novas estratégias e procurar investir mais na estrutura para a locomoção coletiva. “Uma opção seria fazer pequenos terminais aqui dentro, porque a USP tem muito espaço para isso”, afirma Leonardo Graciani, autor do artigo “Mobilidade Urbana: Um estudo sobre a Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira”, pesquisa do Departamento de Geografia da FFLCH. “Fazer uso da Praça do Relógio, por exemplo, já que é tida como uma centralidade dentro do campus”, completa.

Além disso, as próprias linhas circulares (8012 e 8022) poderiam ter sua lógica repensada. “Os circulares, que desde 2012 integram a Cidade Universitária e o metrô, fortalecem a conexão entre a circulação interna da USP e o transporte de massa. Mas surgiram diversos problemas decorrentes disso”, pontua Renato.

Além de incluir trajetos de tráfego pesado até o metrô, principalmente nas horas de pico, a própria ideia dos circulares não foi trabalhada com base em uma pesquisa origem-destino dos passageiros. Esse diagnóstico que identifica aonde as pessoas querem chegar e em qual horário torna possível a criação de lógicas específicas de percurso que atendam a todos os usuários, sem que o transporte seja caótico. “Cada unidade tem uma hora de pico muito significativa, então, uma alternativa seria optar por uma lógica pendular – e não circular – de trajetos que liguem o metrô diretamente à unidade em questão, obedecendo os horários, muito previsíveis, em que os estudantes precisam chegar ao seu destino”, expõe  Renato Cymbalista. Esse projeto também deveria ser alinhado com uma melhor distribuição dos ônibus ao longo dos dias, analisando os horários e a demanda de circulação.

SISTEMA VIÁRIO ÚNICO

Além de repensar o transporte dentro da USP, a Universidade também deve tratar de se manter como parte da cidade, integrando-se com as diversas localidades dela. Apesar dos muros que interrompem essa conexão, a USP não pode acreditar em um sistema viário só seu; ele é da cidade como um todo e, por isso, destinar recursos e investimentos a esse setor é indispensável diante do momento que vive São Paulo.

Essas medidas devem servir para alavancar o transporte coletivo dentro da USP, considerando, principalmente, que a Universidade é parte da cidade e não um universo isolado.

por CAROLINA SHIMODA