Alunos da FAU realizam projeto com o Centro Cultural

Duplas de alunos ficaram responsáveis por identificar cada uma dessas estações (Foto: Carolina Shimoda)

O projeto final da disciplina História do Urbanismo Contemporâneo foi proposto de forma diferente aos alunos de arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Os estudantes trabalharam diante da exposição “Uma modernidade paralela”, no Centro Cultural de São Paulo (CCSP), que trata da arquitetura soviética entre 1956 e 1991, e criaram legendas que explicassem a disposição das fotografias, vídeos e objetos que compõem a exibição. O resultado do trabalho rendeu uma brochura que foi impressa pelo CCSP e deixada à disposição dos visitantes.

A ideia do trabalho surgiu quando Renato Cymbalista, que ministra a disciplina História do Urbanismo Contemporâneo, visitou “Uma modernidade paralela” no Centro Cultural, que traz uma grande produção da época, da qual se tem pouco conhecimento no Brasil. “Eu pensei que o meu desconhecimento dessa realidade poderia ser uma oportunidade de trabalho, porque eu sozinho jamais conseguiria decifrar essa mostra, mas, eventualmente, com a ajuda de uma turma de 40 estudantes, eu conseguiria multiplicar a capacidade de compreensão da exposição”, explica Renato. Os estudantes, então, separados em pequenos grupos ficaram responsáveis por “desvendar” cada parte da exibição com um tema específico, construindo um conjunto de legendas explicativas. Todo o material produzido foi compilado em uma brochura que está disponível junto com o material da mostra, tornando-se um guia para os espectadores.

“O resultado superou a expectativa que era apenas proporcionar um bom ambiente para o desenvolvimento da aula”, comenta Pena Schmidt, diretor do CCSP. Ele ainda destaca um ponto valioso da parceria, em que o aprendizado dos alunos se tornou também dos frequentadores. “O trabalho entregue pelos alunos transformou-se em uma verdadeira ação educativa, agora dirigida aos frequentadores da Modernidade Paralela, auxiliando na leitura e compreensão de cada uma das estações da mostra”, completa. A conclusão do trabalho também surpreendeu os próprios alunos. “O resultado final ficou mais completo do que eu imaginava. É realmente uma aula em cima da exposição”, afirma Karoline Andrade. “Fiquei orgulhosa”, enfatiza.

RELAÇÃO ALUNO E PROFESSOR

O trabalho foi um processo de pesquisa coletivo e participativo, e ficou distante da dualidade que se criou separando alunos e professores, procurando colocar as duas categorias do mesmo lado, trabalhando e aprendendo juntas. “Me colocar na situação de aprendizado ou de aprendiz junto com os alunos me pareceu uma questão bem atraente”, comenta Cymbalista. Durante o desenvolvimento, o professor também aprendeu, reforçando a ideia de que ele não estava ali somente para ensinar, mas também para instigar a capacidade dos estudantes. “A ideia de que o professor sabe e ensina, e o aluno não sabe e aprende é um pensamento que não se sustenta mais”, completa o docente.
Juntos, professor a alunos assumiram um papel de risco em conjunto. “Nós oferecemos um trabalho e, se o resultado fosse ruim, o CCSP iria simplesmente ignorá-lo”, afirma Renato. Tendo um objetivo em comum, a turma criou uma identificação com o projeto, e a confiança tanto da parte dos estudantes quanto do professor foi essencial para que o trabalho fluísse com sucesso. “No início achei que a proposta talvez fosse um pouco ambiciosa demais”, conta Karoline Andrade. “Mas quando iniciadas as pesquisas percebi que era possível entender do que se tratava, desvendar do que se tratava tudo aquilo. Foi aí que a proposta ficou ainda mais interessante”, completa.

Além de testar uma estratégia pedagógica diferente, o trabalho também teve como diferencial sair dos muros da Universidade e ter contato mais direto com a sociedade. Para o professor Renato Cymbalista, o projeto mostrou como a condução de trabalhos assim é necessária para se atingir uma produção de relevância social. “Foi muito mais empolgante elaborar algo que dissemina um pouco do que aprendemos para a sociedade em geral do que elaborar algo cujo alcance fosse limitado à comunidade uspiana”, diz Karoline, ressaltando ainda que o triunfo do projeto foi sua aplicação como material da própria exposição.

As horas de trabalho empregadas pelos alunos se transformaram em uma retribuição para as pessoas fora da USP, servindo a outras instituições públicas, como o CCSP. “O público visivelmente aprecia e consome as informações com satisfação. Espero que possamos continuar com esta parceria produtiva”, afirma o diretor do Centro Cultural, Pena Schmidt.

por CAROLINA SHIMODA