Alunos da EACH ocupam incubadora

Após terceiro espaço estudantil perdido, Assembleia decidiu tomar bloco M7 da unidade
Faixa indica ocupação estudantil no bloco M7 da EACH, onde fica a Incubadora-Escola Habits (Foto: Vinícius Crevilari)
Faixa indica ocupação estudantil no bloco M7 da EACH, onde fica a Incubadora-Escola Habits (Foto: Vinícius Crevilari)

Quem entra no campus da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) mal percebe que ali ocorre uma ocupação estudantil. O Bloco M7 da unidade, local onde está instalada a Incubadora-Escola Habits (Habitat de Inovação Tecnológica e Social), administrada pela Agência USP de Inovação, foi tomado pelos alunos após decisão da Assembleia Geral da USP Leste no dia 25 de fevereiro, como resposta à retirada de seu prévio espaço estudantil localizado no prédio do Ciclo Básico (CB).
Essa foi a terceira vez em que os alunos da EACH perderam seu espaço de convivência. O Bloco M1, conhecido como “Azulzinho”, foi o primeiro a ser retirado, sendo interditado no início de 2012. Na época, a diretoria da EACH alegou que o local não tinha saída de emergência e corria risco de incêndio. Hoje, lá se encontram grupos de pesquisa.
Após negociação com a diretoria, foi prometido aos estudantes um espaço de mesma dimensão que o Azulzinho. No entanto, os estudantes tiveram de dividir o novo local, chamado “Laranjinha”, com outras entidades da comunidade eachiana. Em 2013, a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), monitorou a contaminação do solo e constatou presença de gás metano em 107 pontos do campus da Zona Leste. No prédio M3, foi detectado a presença do gás em um nível um pouco acima do constatado em outras partes, e o Laranjinha acabou demolido.

O eterno retorno

Com a demolição do Laranjinha, a diretoria ofereceu aos estudantes o anfiteatro 1 do prédio do CB. O espaço, provisório, serviu por 6 meses como único lugar onde se localizavam as diversas entidades estudantis da EACH.
Após realização de laudo elaborado em dezembro de 2014 pela CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), o qual apontava problemas estruturais no local, a diretoria tomou a decisão de interditar o anfiteatro 1 ao final de janeiro deste ano.
O documento também dizia que foram encontrados no local materiais considerados inflamáveis, tais como sofás, rampa de madeira para prática de skate, cadeiras estofadas e ligação elétrica inadequada para uso de eletrodomésticos (no caso, uma geladeira que pertencia aos estudantes), o que é impróprio para um anfiteatro. Em comunicado, os estudantes da EACH refutaram o documento, indagando o porquê de, no relatório, não existir nenhuma avaliação de técnicos especializados ou bombeiros, profissionais mais aptos a realizar uma vistoria no local. Além disso, afirmaram que os materiais encontrados ali eram de uso estudantil e que muitos foram encontrados danificados.
Sem espaço estudantil e em meio a impasses com a diretoria, os estudantes deliberaram pela ocupação do prédio da Incubadora. Em nota, os estudantes afirmaram que não reocuparam o Azulzinho porque neste edifício funcionam projetos de pesquisa, envolvendo professores e estudantes, enquanto a Incubadora, antes da ocupação, “abrigava apenas três empresas privadas, nas quais um grupo reduzido de alunos e ex-alunos atuam como funcionários. As demais salas desse edifício encontravam-se ociosas e assim permaneceriam até março”. No mesmo texto, os alunos dizem que a motivação em ocupar a Incubadora é “pressionar a direção para conseguirmos um espaço que comporte essas demandas”, não necessariamente fazendo do local um novo espaço estudantil. Em nota, a Incubadora-Escola Habits disse que a ocupação “impede o acesso e a realização das atividades dos jovens incubados (ex e atuais estudantes) bolsistas e interessados no tema empreendedorismo e inovação” e que, apesar de concordarem com a necessidade de espaços estudantis na universidade, é questionável a “invasão de um laboratório, pois este ato agride o que a universidade tem de mais rico que é poder ir e vir ao encontro da sociedade, através de ações concretas de pesquisa, ensino e extensão”.

Negociações

Após a Incubadora ser ocupada, foi formado um Grupo de Trabalho (GT), nomeado pelo Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da EACH, para resolver a questão da falta de um espaço de convivência.
Em reunião no dia 4 de março, o GT tirou como propostas para os estudantes a utilização de uma sala situada no Bloco I4
VINÍCIUS CREVILARIdo campus (
hoje utilizada por funcionários terceirizados da unidade) e a montagem de um quiosque adjacente, com cobertura, iluminação e bancos para vivência. O encaminhamento das propostas tinha como contrapartida a existência de responsáveis formais pela administração dos espaços cedidos, pelo atendimento das normas de seguranças e por procedimentos de vistoria do novo espaço, com concordância prévia e acompanhamento dos estudantes.
Reunidos em nova assembleia no dia 12 de março, os alunos aceitaram a proposta do novo espaço provisório. No entanto, decidiram acrescentar adendos ao documento antes da aprovação do Conselho. Entre eles, os principais são a ampliação da comissão tirada no CTApara formulação de um espaço permanente; realocação em lugar adequado dos funcionários terceirizados, e que a direção não puna os estudantes que ocuparam a incubadora.
Nesta mesma assembleia, os estudantes decidiram continuar a ocupação do edifício e apenas deixá-lo no momento em que o espaço prometido for entregue e o quiosque estiver em construção. Além disso, ressaltou-se a necessidade da direção da escola se responsabilizar pelos bens danificados durante a retirada dos móveis do anfiteatro 1.
Na última segunda-feira, 16 de março, os estudantes fizeram nova reunião com a diretoria, onde também estiveram presentes os membros do CTA e o advogado da Incubadora. O objetivo foi discutir a proposta do GT após os adendos deliberados pela assembleia dos estudantes.
As partes não entraram em acordo quanto à punição dos envolvidos com a ocupação. A diretoria não se comprometeu com a exigência, afirmando que tem de verificar as condições físicas do prédio para tomar uma posição.
Os estudantes que estão na incubadora garantem que o edifício se mantém no mesmo estado do momento da ocupação.

por VINÍCIUS CREVILARI