Bandejões da USP em crise

Poucos funcionários e fechamento de restaurante causam precarização dos serviços
(Foto: Pamela Carvalho)
(Foto: Pamela Carvalho)

Desde sua aplicação, o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), implantado pelo reitor Marco Antonio Zago, vem prejudicando alunos e funcionários da Universidade. Um dos setores afetados pelo programa é o dos restaurantes universitários, que estão passando por crise. O PIDV causou redução no número de funcionários dos bandejões, o que resultou no fechamento do restaurante da prefeitura. Graças a esse quadro, os poucos funcionários que permaneceram em seus cargos estão sofrendo pressão para dar conta da demanda dos restaurantes, que atendem diariamente milhares de estudantes. Além disso, as grandes filas que se formam durante quase todo o horário de funcionamento prejudicam o cotidiano dos alunos.
Fazer uma refeição no bandejão agora demanda mais tempo, já que as filas estão muito grandes. Os mais afetados são aqueles que recorrem ao serviço para a maioria, ou mesmo todas, as refeições. De acordo com Jonathan Rocha, aluno do curso de Relações Internacionais da USP e morador do CRUSP, o cotidiano de quem vai com frequência aos restaurantes universitários foi prejudicado após o PIDV. “Começo de ano todo mundo frequenta bandejão, então sempre é conturbado, mas esse ano foi diferente. A fila está grande em todos os restaurantes, o que atrapalha muito a vida da gente que precisa estudar, trabalhar ou fazer ambos, já que temos que nos programar pra ficar cerca de uma hora na fila”, diz.
Os alunos não foram, entretanto, os únicos prejudicados. Atualmente, o número de funcionários dos bandejões é muito inferior ao que seria necessário. Dessa forma, trabalhadores estão sofrendo assédio moral para dar conta da demanda. Alguns já estão com doenças ocupacionais, graças ao trabalho repetitivo. O aumento do fluxo de alunos causado pelo fechamento do restaurante da prefeitura, tornou o trabalho mais árduo e colocou em risco a saúde de outros funcionários. “Por lá, é assim: você tem que fazer seu trabalho. Não interessa se você está com dor, se você aguenta ou não. Se você reclama, dizem que o problema é seu, que tem que sair o serviço, que os usuários precisam ser atendidos”, afirma Solange Lopes, funcionária da Superintendência de Assistência Social (SAS) afastada do cargo e membro do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).

Fechamento de bandejões
A reitoria fechou o restaurante da prefeitura alegando a necessidade de obras para reformar o local. Todavia, segundo Solange, há evidências que sustentam a suspeita de que tais obras não irão ocorrer. Solange acredita que essa foi apenas um pretexto usado para encobrir o grave desfalque de funcionários do bandejão e abafar a necessidade de novas contratações. “Não existem datas de início e término de obras no restaurante da prefeitura. Não está claro também se vai ser aberto concurso público para contratação de novos trabalhadores, após a reabertura. Podemos até acreditar que essa é uma desculpa para que a terceirização ocorra”, diz Solange.

O processo que está ocorrendo atualmente com o bandejão da prefeitura é muito semelhante ao que ocorreu anos atrás com o da química. A reitoria, na época, fechou o restaurante, alegando a necessidade de obras. Cinco anos depois, o bandejão foi reformado e terceirizado. Há, portanto, o temor de que o mesmo ocorra não só com o restaurante da prefeitura, como também com o central e o da física, cuja situação atual também é grave. “A reitoria não está preocupada com a assistência estudantil. A presença de restaurante com refeições baratas e de qualidade é fundamental para a permanência estudantil, mas eles não se preocupam com isso”, completa Solange.

Mobilização estudantil

O Sintusp está se mobilizando para reverter o quadro atual dos restaurantes universitários, que foi pauta nas recentes reuniões.
No entanto, o sindicato acredita que ainda há a necessidade da participação de entidades discentes. “Temos que ver o que podemos fazer em conjunto. A participação do movimento estudantil na luta por uma universidade pública de qualidade é fundamental, e isso não é diferente no caso particular dos restaurantes”, afirma Solange. Apesar da vanguarda na busca pela melhoria na situação dos bandejões ser dos funcionários, alunos acreditam que podem auxiliar. “Acho importante a nossa participação, mas não acredito que possamos ter protagonismo nessa luta. Os mais prejudicados são os funcionários, é visível o cansaço deles, que parecem estar trabalhando dobrado”, declara Jonathan Rocha. “Acredito que seria interessante a promoção de rodas de conversa entre os setores”, completa.
A ex-funcionária também acredita que, se a situação atual se perpetuar, não há condições dos restaurantes continuarem funcionando. “Os trabalhadores estão em situação muito precária, eles não vão aguentar a pressão. Por isso precisa haver mobilização, principalmente no sentido de mais contratações”, defende Solange. E acrescenta: “precisamos da ajuda dos estudantes para evitar o total sucateamento dessa universidade”.

por PAMELA CARVALHO