Plano de demissão atinge HU

Cortes do reitor para aliviar a crise na universidade impedem serviços básicos do hospital
Mais de 200 funcionários devem sair e diversos leitos serão fechados; Hospital é referência na região (Foto: Isabelle Almeida)
Mais de 200 funcionários devem sair e diversos leitos serão fechados; Hospital é referência na região (Foto: Isabelle Almeida)
Proposta do reitor Marco Antonio Zago para aliviar a folha de pagamento de funcionários da Universidade de São Paulo, o PIDV (Programa de Incentivo à Demissão Voluntária) também afetará o Hospital Universitário. Dos 1.784 funcionários que trabalham hoje no HU, 209 devem sair até abril, sendo 101 apenas da ala de enfermagem, agravando um problema de defasagem de 32 enfermeiros que o hospital já enfrentava.

Além da enfermagem, vários outros setores do hospital estão sendo prejudicados. Os casos mais preocupantes são nas unidades de tratamento intensivas e semi-intensivas, onde, no total, oito leitos foram fechados por falta de profissionais suficientes para atender os pacientes , conforme manda a regulamentação do Coren (Conselho Regional de Enfermagem).
As clínicas de consulta também tiveram uma diminuição significativa de leitos. Pelo menos dez pararam de ser usados em cada unidade de internação, e é possível que mais sejam fechados com a saída da última leva de funcionários em abril. Entre os funcionários demitidos estão médicos clínicos, cirurgiões, anestesistas e ortopedistas.
Segundo afirma a funcionária do HU e também diretora do Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp) Rosane Meire Viera, essa demissão em massa causará grandes transtornos ao atendimento: “O HU já é superlotado e com as demissões será muito prejudicado. O atendimento não será o mesmo. Hoje, por exemplo, você marca uma consulta para ser atendido somente em junho, julho”, disse. Outra queixa comum aos funcionários é a piora das condições de trabalho: “no setor da nutrição por exemplo, o café da manhã e o sopão que era oferecido à noite aos funcionários já foi retirado”, explica.
A administração do hospital não retornou contato para comentar a situação.

Proposta de Desvinculação

Somado a esse quadro de crise, existe ainda a preocupação de que o HU seja desvinculado da Universidade e passe a ser responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o que também acarretaria em uma perda de qualidade de atendimento e de condições de trabalho. “Na Secretaria de Saúde, temos vários exemplos de hospitais públicos administrados por OS (Organizações Sociais) em péssimo estado para a população e para os funcionários. Para nós que somos da Universidade vai ser um problema sério, porque não existe o interesse de ensino e pesquisa e toda a nossa experiência é com alunos”, afirma Rosane. “Também existe a questão salarial, já que somos concursados e nossos salários são melhores. Devido à precariedade de condições de trabalho, em hospitais administrados por OS há uma grande rotatividade de empregados, o que não é bom nem para gente, nem para os pacientes”, acrescentou.
O medo dos funcionários não é infundado. A proposta de desvinculação tanto do HU quanto do HRAC (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacias) foi feita pelo reitor Zago em meio a greve de funcionários em agosto de 2014 e já em setembro, a desvinculação do HRAC foi aprovada pelo Conselho Universitário, sendo posteriormente contestada pela Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), que chegou a fazer uma petição para revogar o processo.

Referência na Zona Oeste

O HU-USP hoje atende a população do subdistrito do Butantã (cerca de 500 mil habitantes) e a Comunidade USP, sendo um dos principais na região oeste da cidade de São Paulo.
A reitoria já sinalizou que só voltará a contratar novos funcionários em 2018.

por ISABELLE ALMEIDA