Balanço das eleições para o DCE e perspectivas do movimento estudantil

Frente à crise da USP, chapas responderam sobre o contexto da mobilização dos estudantes
“Acreditamos que a pauta de democracia e acesso será prioritária", diz Gabriela Ferro, da chapa "Manifesta!" (Foto: William Nunes)
“Acreditamos que a pauta de democracia e acesso será prioritária”, diz Gabriela Ferro, da chapa “Manifesta!” (Foto: William Nunes)

No começo de abril ocorreram as eleições para a nova gestão do Diretório Central de Estudantes da USP (DCE-Livre da USP) e para Representantes Discentes de 2015. O quórum foi de 8994 estudantes e a chapa vencedora foi “Manifesta! Ousadia para vencer”, com 3949 votos, dando prosseguimento à última gestão. Paralelo ao resultado e ao balanço das eleições, é importante também discorrer sobre os meandros e as perspectivas do movimento estudantil (ME) no atual cenário brasileiro e da USP. O Jornal do Campus conversou com as cinco primeiras chapas sobre o desenvolvimento desses temas.

Manifesta!
Para Gabriela Ferro, estudante de Geografia e integrante da chapa, a vitória se deu com uma quantidade representativa. “Fomos a única chapa presente em todos os campi. Somando apoiadores e membros da gestão, somos mais de 600 estudantes”. Em relação ao programa, disse que a aceitação das pessoas foi excelente, por tratar de três grandes eixos: os cortes orçamentários; a falta de democracia na USP e as opressões existentes. Outro ponto ressaltado foi a importância da chapa ser independente dos Governos Estadual e Federal. “A polarização nacional entre PT e sua oposição de direita não serve a nenhum dos estudantes, pois ambos são os responsáveis pelos cortes de investimento da educação”.

Gabriela, entretanto, reconhece que o ME passou por um momento difícil em 2014, com assembleias pouco representativas. “A legítima greve dos funcionários e professores, por motivo salarial, que tomou grandes proporções e saiu vitoriosa, acabou fazendo com que o ME estivesse aquém de sua capacidade de mobilização”. E alerta para a necessidade de uma reorganização do movimento: “[o ME] precisa se arejar, queremos construir neste ano o Congresso dos Estudantes da USP. O próximo CCA [Conselho de Centros Acadêmicos] agendado já tem como pauta de discussão o planejamento do Congresso”. Por se tratar de um ano ímpar de lutas, ela observa como um caminho a maior unidade com os CAs, Frente Feminista, LGBT, Núcleo de Consciência Negra, pois “quanto mais participativo, mais forte e empoderado se torna o ME, que pertence a todos os estudantes”.

USPInova
Alexys Lazarou, estudante da Faculdade de Direito e membro da chapa que alcançou o 2º lugar com 2228 votos, viu avanços nesse ano. “Conquistamos espaço nos conselhos da universidade, tivemos alcance maior no eleitorado, mais pessoas participando e resultados contundentes em faculdades como FEA e ESALQ”. Segundo ele, houve um amadurecimento no programa e uma habilidade maior em traduzir suas ideias, apesar de comentar que outros grupos difamaram alguns pontos da chapa.

Sobre o ME, Lazarou explica que o maior problema é a falta de diálogo com as instâncias. Além disso, ele diz que existe um distanciamento com instituições e com o próprio estudante. “Uma universidade de mais de 80 mil alunos, um quórum por volta de 8 mil mostra que a maioria desconhece, ou ignora, o DCE. Falta um trabalho direcionado, fazer do DCE uma entidade presente na graduação dos estudantes”. Nesse sentido, ele comenta que as últimas gestões erraram em aproximar pautas movimentadas “puramente por grupos políticos” e negligenciaram as demandas estudantis que buscam “foco na graduação de qualidade”.

Compor e Ouvir: todo o povo quer cantar
Segundo Kyo Kobayashi, estudande da Letras e membro da 3ª colocada, com 1760 votos, a chapa se consolidou como oposição de esquerda à atual gestão, obteve resultados satisfatórios na apresentação do programa e em institutos como FFLCH, IRI, FEA, São Francisco e São Carlos. Porém também advertiu que sofreram com calúnias. “Alguns grupos se propuseram a fazer campanha de queimação contra a nossa chapa, no entanto, acreditamos que pudemos convencer estudantes de nossa perspectiva política”.

Kobayashi citou que a chapa vencedora tem um grande potencial de articulação política, mas espera que, pela reeleição, ela não caia no imobilismo e na falta de diálogo. Para ele, é imprescindível que o DCE se articule com os CAs, pois assim vai fazer política “com” os estudantes. “O ME precisa estar massificado, caso contrário, as lutas e bandeiras que levantamos, por mais nobres que sejam, serão apenas pautas vazias”. Por fim, ele entende que é fundamental a luta por cotas, acesso e permanência, a discussão sobre a problematização da crise orçamentária da USP e do processo de estatuinte em curso, “propondo sempre uma Universidade menos elitista e mais democrática que combata as opressões de gênero, raça e classe”.

Do Impossível Ao Inevitável
Para Guilherme Kranz, estudante da Letras e integrante da 4ª colocada com 468 votos, o objetivo principal, que era expandir as ideias do programa, foi atingido.“Muitos ficaram entusiasmados, principalmente à nossa proposta de gestão proporcional para o DCE, à necessidade de nos aliarmos aos funcionários e professores da USP e à democratização radical no acesso à universidade, através de cotas raciais como parte de uma luta pelo fim do vestibular”.

Segundo Kranz, os problemas enfrentados pelo ME são o governo Estadual do PSDB, a reitoria da USP, o Conselho Universitário e a grande mídia que “manipula informações em defesa dos interesses de alguns poucos”. Além disso, diz que o principal erro da atual gestão do DCE seria não enxergar que para superar esses problemas é preciso se “aliar aos setores de dentro e fora da Universidade para construir uma verdadeira mobilização”. Porém, ele aponta que, apesar de algumas limitações, “é um programa que deixa claro a sua independência com relação à reitoria e aos governos, diferente das chapas USPInova e Compor e Ouvir”.

Território Livre
Ocupando a 5ª colocação com 167 votos, Franciel de Souza, estudante de Artes Cênicas, disse que prioridade da chapa não era a conquista de votos, mas a discussão mais incisiva do programa. “Somos contra o reformismo conciliador no movimento e a favor de radicalizar a luta na defesa das nossas condições em unidade com os trabalhadores, que a reitoria vem atacando”.

Franciel também criticou a atual gestão na sua dificuldade de mobilização. “No ano de 2014, era decisivo erguer o ME contra os ataques da reitoria e dos governos, mas o movimento ficou paralisado e vazio”. E afirmou que o DCE não consegue atuar nas bases, além de super valorizar fóruns burocráticos como o CCA. Porém, como ponto positivo disse que a atual gestão se diferencia de maneira mais determinada do ‘petismo’. “Dos partidos da ordem, o único que atua no movimento, de forma disfarçada, é o PT. E este será um dos nossos entraves, pois controlam movimentos sociais, estudantis e sindicais, barrando os enfrentamentos contra os ataques dos governos. O DCE aponta um bom caminho atacando o PT e se colocando como oposição de esquerda, mas ainda falta determinação e ação”.

As outras chapas foram: “Nada será como antes”, com 149 votos; “Poder Estudantil”, com 65 “Autonomia Universitária: Fora Zago! Fora PM!”, com 30 .Brancos e nulos somaram ao todo 178.

Por LUÍS VIVIANI