Fofito presta atendimento a disléxicos

Mestrandas criam projeto para auxiliar no aprendizado de leitura e escrita dos pacientes

Com o objetivo de atenuar as dificuldades de aprendizado de crianças disléxicas, duas mestrandas da Fofito (Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP), Lígia Zanella e Débora Manzano, iniciaram um programa de atendimento gratuito na unidade. O projeto, que teve início na primeira metade de 2014, é oferecido pelo Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Leitura e Escrita da faculdade, e tem orientação da professora Maria Silvia Carmo.

O distúrbio

A dislexia é uma doença de caráter genético e hereditário, com origem neurobiológica. A criança disléxica demonstra dificuldade no processo de aprendizagem da escrita e da leitura. Isso ocorre porque, em diferentes graus, elas não são capazes de estabelecer a memória fonêmica. Assim, a associação entre fonemas e letras fica comprometida.

Os sintomas já podem ser notados na primeira infância ou após os sete anos e em cada um desses casos os sinais são diferentes. Na primeira situação, são comuns o atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar, distúrbios do sono e, ainda, hiperatividade e choro constante. Já a criança maior manifesta complicação ao realizar tarefas escolares, tendo a fluência em escrita inadequada para a idade e também dificuldade em compreensão de texto. Além disso, as memórias a médio e curto prazo podem ficar comprometidas, de forma que é comum que esqueça rapidamente o que acabou de aprender. No entanto, segundo especialistas, o sinal mais conclusivo da doença em uma criança, independentemente da idade, é o atraso no desenvolvimento da fala e da percepção fonética. Caso esse sintoma se manifeste conjuntamente a casos do distúrbio na família, o tratamento deve ser procurado com urgência.

Cerca de 2 mil de brasileiros procuram, todos os anos, a Associação Brasileira de Dislexia para buscar maiores informações. A busca pela entidade, e também outros profissionais especializados, é importante para desmistificar a doença. Popularmente, lugares comuns a seu respeito são difundidos, o que dificulta a percepção dos sintomas e a consequente procura por tratamento. A dislexia ainda é confundida com déficit de atenção ou mesmo com retardamento intelectual, por exemplo. A entidade esclarece, entretanto, que a criança disléxica não é menos inteligente do que as outras somente porque possui o distúrbio. Algumas vezes os pacientes possuem capacidade intelectual acima do normal.

De acordo com a Associação, o transtorno acomete até 17% da população mundial. No entanto, ainda não é conhecida a cura para a doença. Após o diagnóstico, é recomendável que a criança seja encaminhada para tratamento com participação de especialistas em várias áreas, como a fonoaudiologia e a psicologia. O projeto da Fofito, portanto, representa um importante estágio no processo de tratamento, uma vez que visa a melhora de capacidades comprometidas em uma criança afetada.”Esse programa fonoaudiológico é importante pois atende a necessidade constante de buscar por novos e melhores meios de estimular a leitura e escrita das crianças com dislexia do desenvolvimento”, declara Ligia Zanella.

O programa

O projeto atende crianças entre o terceiro e o quinto ano do Ensino Fundamental da rede pública. Ele é dividido em 21 sessões de terapia, nas quais são oferecidos exercícios de leitura e escrita, sendo que o nível de dificuldade sobe progressivamente até o fim do tratamento. Cada uma das mestrandas é responsável por ministrar sua área de pesquisa: Lígia comanda as atividades de compreensão de texto enquanto Débora coordena a parte de ortografia. No início e no fim das sessões são aplicados testes fonoaudiólogicos, os primeiros com o objetivo de verificar se a criança possui capacidade básica de escrita e leitura para que possa participar do programa. Já os segundos colocam à prova os resultados do tratamento, para que se saiba se o paciente pode receber alta fonoaudiológica ou não. Caso ele não tenha apresentado grande melhora, é encaminhado para continuação da terapia no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fofito, caso haja vagas disponíveis.

De acordo com Ligia, uma das motivações principais para a elaboração do projeto foi a carência de programas fechados voltados para crianças com dislexia. Segundo ela, quando um paciente com o transtorno procura tratamento, não se sabe quanto tempo ficará em terapia. Portanto, seria importante a promoção de um instrumento de auxílio voltado para esses pacientes, com tempo e estratégia definidos. Além disso, o projeto também auxilia a diminuir as filas de espera por atendimento no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Leitura e Escrita. Especializado em atendimento de pacientes com distúrbio de aprendizagem, o local recebe constantemente vários casos de dislexia, mais do que de déficit de atenção. Sendo assim, segundo a mestranda, a criação do programa especializado acaba descongestionando o atendimento do laboratório.

O resultado

Após quase um ano da criação do projeto, os resultados têm sido satisfatórios. De acordo com Lígia, as crianças atendidas demonstram melhora nas capacidades de escrita e leitura. Esses avanços não são observados somente ao fim do programa, já que após cada nível de dificuldade distinto é possível observar forte evolução. Notou-se também um aumento na autoestima dos pacientes, uma vez que eles próprios conseguem observar a evolução que fizeram durante o tratamento, o que os motiva a continuar buscando melhoria.

Agendamento de Consultas
Como? Entrar em contato com Ligia ou Débora, pesquisadoras da Fofito.
Quando? Às quartas-feiras das 11h às 15h ou às sextas-feiras das 8h às 10h.
Contato? (11) 3091-8412

Por Pâmela Carvalho