Fotografias de Roger Ballen mostram pobreza dos sul-africanos na época do apartheid

Da fotografia de rua à psicanálise, exposição no MAC registra a evolução da obra do artista
Dresie and Casie twins, Western Transvaal, 1933 – Roger Ballen

Após passar pelo Rio de Janeiro e por Curitiba, a exposição “Roger Ballen: transfigurações, fotografias 1968-2012” – a primeira na América Latina do fotógrafo radicado na África do Sul – chega ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC).
A mostra, que começou em 28 de março e vai até 27 de setembro, reúne uma seleção de 113 fotografias – todas em preto e branco – das oito séries criadas pelo artista desde a década de 1960.
Ballen nasceu em 1950, em Nova York (EUA). Geólogo de formação e autodidata na fotografia, se interessou primeiramente pelos retratos de rua, captando o cotidiano dos norte-americanos, desde negros esperando o ônibus em uma rodoviária no sul do país até jovens nus no festival de Woodstock. Em seguida, fez a sua primeira proposição temática, fotografando o universo de meninos de diversas nações.
Nos anos 80, Ballen se mudou para a África do Sul, e passou a retratar a arquitetura do país. Em seguida, com a série “Platteland”, o fotógrafo expôs a pobreza dos sul-africanos brancos, em contraste com a ideia de supremacia racial que o regime do apartheid, então vigente, difundia.
A obra gerou enorme repercussão, e Ballen foi acusado de usar suas imagens para fins políticos. De acordo com a curadora da exposição no Brasil, Daniella Géo, as críticas pegaram o fotógrafo de surpresa.“Ele se assustou com a repercussão política de suas imagens. Não era essa a sua intenção. O que ele queria na ‘Platteland’ era representar a alienação universal do homem, não a pobreza. Ballen buscava o aspecto psicanalítico, não o social”, explica Daniella.
Por ter sido mal interpretado, Ballen mudou a sua abordagem artística, radicalizando suas pesquisas estéticas sobre a psique humana, a universalidade, e os arquétipos junguianos, conta a curadora. Isso começa a aparecer em “Outland”, mas se intensifica a partir de “Shadow Chamber”, quando são retratadas pessoas em ambientes escuros, muitas vezes cobrindo seus rostos com as mãos ou com máscaras.
Um elemento muito presente nas fotografias de Ballen são os animais. Nas obras mais antigas, eles são retratados como companheiros do homem. Porém, com sua radicalização estética, o fotógrafo passa a inseri-los em uma relação dialética de humanidade x animalidade, levantando a pergunta “afinal, quem é o animal?”, analisa Daniella.
E esse é um dos aspectos que torna a obra do fotógrafo especial, aponta a curadora: “As relações que ele promove entre os elementos, e a abordagem realidade x ficção, humanidade x animalidade, que traz uma noção de enigma, fazem com que a arte de Ballen seja singular”.

Roger Ballen: transfigurações, fotografias
1968- 2012
De 28/03 a 27/09
Terças-feiras das 10h às 21h
De quarta a domingo, das 10h às 18h
Entrada franca
Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, São Paulo (SP)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

 

por SÉRGIO RODAS OLIVEIRA