ICB busca vacina contra a dengue

Em meio a surto da doença no Brasil, estudo busca formas inovadoras de imunização

Estão em curso no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) as pesquisas em etapa inicial para uma nova vacina contra a dengue. Trata-se de uma técnica inovadora, diferente das abordagens tradicionais, para produzir a formulação a partir de apenas uma proteína, a NS1.
“É um método mais seguro, porém mais difícil de ser desenvolvido”, explica Luis Carlos de Souza Ferreira, chefe do Laboratório. Um dos grandes desafios está no fato de a dengue possuir quatro tipos de vírus diferentes, dificultando a obtenção de uma vacina eficaz contra todos eles. Isso também possibilita que uma pessoa contraia a dengue mais de uma vez. “A vacina precisa ser longeva”, diz.
A proteína NS1 é gerada apenas nas células infectadas pelo vírus da dengue – independente de seu tipo – após a contaminação do indivíduo. Ao receber a vacina, o sistema imunológico se especializa e forma uma colônia de linfócitos dedicados a combater a proteína, atacando as células doentes. As fórmulas mais promissoras estudadas pelo Laboratório já alcançam taxas de 50 a 60% de proteção contra os vírus em testes feitos com camundongos. Os números são vistos como positivos, porém ainda não são suficientes para que a pesquisa avance para testes em humanos.
Segundo explica Jaime Henrique Amorim, doutor em biotecnologia pela USP e um dos cientistas do projeto, os resultados parciais de sua pesquisa feita em camundongos contrariam as principais abordagens para produção da vacina utilizados atualmente por outros laboratórios. “A ideia de que somente a indução de anticorpos garante proteção não foi suficiente no caso do teste clínico da vacina desenvolvida pela Sanofi-Pasteur”, diz.
O Instituto Butantan também está envolvido na produção de uma vacina desenvolvida em parceria com o National Institute of Health (EUA). A fórmula é baseada em vírus atenuados e passa pela segunda fase de testes clínicos no país, com previsão de liberação em 2018, seguindo o trâmite padrão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em meio a uma epidemia em diversos pontos de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin quer a liberação da vacina ainda em testes.
A autorização especial para imunizar a população antes de finalizados os testes depende da Anvisa, que analisará o caso assim que o Butantan protocolar um pedido formal para antecipar o uso da vacina. Para Amorim, a medida “seria irresponsável”. A diferença entre a segunda e a terceira etapa está na amostragem, que é muito maior e representativa na última fase.

(Ilustração: Stella Bonici)
Desafios à imunidade

A preocupação está em uma reação adversa descrita apenas para o vírus da dengue, chamada de ADE (Antibody-dependant enhancement). O fenômeno provoca o agravamento da dengue e dos sintomas em pessoas que já tenham sido imunizadas contra um tipo de vírus. “Ao contrair a doença por outro tipo, estes anticorpos que a pessoa já tinha contra um tipo de dengue podem até aumentar a infecção por outro tipo, direcionando os vírus para as células do nosso sistema de defesa”, descreve Ferreira.
Apenas aguardando a liberação das autoridades sanitárias, a vacina em estágio mais avançado é a desenvolvida pela francesa Sanofi-Pasteur. Apesar de não conferir um alto nível de imunização para os quatro tipos de vírus da dengue – a taxa de proteção é de 42% para o tipo 2 – a fórmula é segura, na opinião de Ferreira. “Foram realizados testes em mais de 20 mil pessoas de diferentes regiões do mundo, sem nenhum registro de uma reação de exacerbação de uma infecção, característica da ADE”.

por ANDRÉ SPIGARIOL