Jornalismo é apuração, não opinião e ativismo

A edição 437 do JC acertou ao dar manchete para o movimento negro na USP. A universidade vive intenso debate sobre o sistema de cotas e o assunto acaba de ganhar um documentário. Mas a reportagem escorregou na apuração: não ouviu ninguém.

O texto prova com dados quão raro é o ingresso de negros na universidade a despeito dos esforços de cursinhos comunitários. Mas é somente na coluna de opinião, na pág. 16, que o leitor encontra a mais relevante informação: que apenas 2,4% dos ingressantes em 2013 eram negros.

Nenhuma fonte comentou os números ou coisa alguma. Nem mesmo o movimento Ocupação Preta foi ouvido: o leitor não sabe quem são seus integrantes, quantas intervenções já foram feitas, quais os planos do grupo para o futuro. A publicação do manifesto na íntegra faz o jornal pender para o ativismo, o que não é bom.

Também faltaram fontes e comparações na reportagem sobre o Piso do Museu da FAU. Qual é a situação dos espaços de vivência estudantis das outras unidades? A proposta da FAU é muito diferente? Qual seria o impacto palpável dessa regulamentação? Sem essas respostas, o leitor não consegue se posicionar.

A melhor forma de combater injustiças quando se escolhe a trincheira do jornalismo é com informação de qualidade. A equipe do JC está engajada nessa luta, ou não teria dado manchetes seguidas para violência contra minorias. Mas é preciso que as informações falem por si, que o jornal esteja a serviço de seus leitores e prepare-os para os debates relevantes da universidade. Em suma: menos opinião e mais apuração farão bem ao jornal, à USP e à sociedade.

Por Guilherme Alpendre , secretário-executivo da ABRAJI e ombudsman do JC