Proibição de festas asfixia “vida universitária”

Impedimento compromete a renda de Centros Acadêmicos pequenos e recém-criados
(Ilustração: Laís Tiranossauro)

O ano de 2015 começou, e junto a ele veio a vigência da decisão “anti-festa” do Conselho Gestor da universidade: “Só serão autorizados eventos festivos que tenham compatibilidade com a vida universitária”. É o que diz o documento que, no entanto, falha em explicitar de que maneira seria essa “vida universitária” para o conselho.
Com a morte do estudante Victor Hugo Santos, em setembro do ano passado, na raia olímpica do campus Butantã durante uma festa no velódromo, as festas já se encontravam suspensas, porém, apenas isso. Seguindo esse fato, outro evento de 2014 que trouxe força à resolução da proibição foi a CPI que investigou as violações de direitos humanos nos trotes e eventos das universidades paulistas. Procurando esquadrinhar e discutir as violências contra calouros e demais estudantes após denúncias de casos de homofobia, machismo e opressão, a CPI não propôs o fim das festas como uma solução para os crimes em seu relatório final. O deputado estadual Adriano Diogo (PT), que presidiu a CPI em questão, apesar de demonstrar sua posição contrária às festas “open-bar”, disse: “Não tem que se proibir o movimento estudantil e nem outras formas de convivência entre os estudantes”. Entretanto, a despeito da natureza das observações e conclusões da comissão parlamentar, na grande mídia e nos discursos das autoridades, a CPI serviu apenas como mais uma das desculpas para o banimento das festas para fora dos limites da universidade.
Para Maria Júlia do movimento feminista “Marcha Mundial das Mulheres”, presente no desenrolar da CPI, a decisão do conselho gestor não traz nada em relação às medidas de segurança e o respeito com a mulher no ambiente da universidade, servindo apenas para corroborar o mito do álcool. “Se ele bateu na mulher porque estava bêbado, então por que não bateu no dono do bar e
no amigo também?” indaga Maria Júlia. “O que está por trás da violência contra mulher não é o álcool ou outra droga, mas a cultura machista que nos envolve”, completa.
Por fim, a proibição da venda de bebidas alcoólicas, os rumores de “batidas” em espaços estudantis e processos para quem desobedece a resolução do conselho gestor, – processos que já estão acontecendo – para os centros acadêmicos, trouxe a extinção de grande parte da renda que os suporta, levando a um desmonte de parte vital da organização política universitária: CAs pequenos ou recém estabelecidos não possuem terrenos em aluguel para carregá-los frente a perda da venda de bebidas e acabam por não possuírem o dinheiro que custeia a impressão de panfletos e a elaboração de eventos. “Isso traz uma clara supressão à diversidade e liberdade de vozes no cenário do movimento estudantil”, disseram alguns dos entrevistados dos centros acadêmicos procurados pelo JC.

por JOÃO CESAR DIAZ