MAC expõe grandes nomes da gravura no Brasil

Mostra é composta por obras contemporâneas dos artistas Oswaldo Goeldi e Evandro Carlos Jardim

O MAC (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo), no Ibirapuera, está apresentando a exposição “Goeldi / Jardim: A gravura e o Compasso”. Reunindo 40 trabalhos de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Evandro Carlos Jardim (1935-). A mostra tem curadoria de Claudio Mubarac, gravador, desenhista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP.

“Santo Amaro III”, 1986 Nanquim e aquarela sem papel. Evandro Carlos Jardim (Divulgação).

A exposição possui obras de dois artistas com estilos diferentes, mas que são temporalmente próximas: as gravuras são datadas das décadas de 1960 e 1950, anos finais de Goeldi e época dos trabalhos inaugurais de Jardim.

Outro fator que aproxima as obras dos dois mestres é a grande importância cultural que possuem, principalmente por representarem uma área das produções visuais pouco divulgada no Brasil, a da gravura. Segundo Claudio Mubarac, a falta de divulgação leva a um prejuízo no entendimento do papel que essa forma de construção artística cumpre na contemporaneidade. A exposição é fundamental para explicitar essa função. “

Os dois mestres que motivaram o recorte da exposição do MAC são prova da força dessa forma de arte, pois ambos têm sido fonte constante para os artistas jovens na criação de diálogos francos não restritos aos meios gráficos, mas como desafios para reflexão ampla diante da produção artística geral. Não é difícil estabelecer relações entre pintores, escultores, fotógrafos, por exemplo, e as obras de Goeldi e Jardim” , afirma o curador.

As gravuras de Goeldi retratam as ruas de sua cidade, assim como os pescadores de suas margens. Ele tinha um consciente artístico inconformista, que concordava com sua inquietude perante as injustiças sociais. Através de seus trabalhos, buscava retratá-las. A mostra do MAC traz as últimas obras da sua vida, um acervo de cerca de 12 obras, que apresentam cor forte. Os vermelhos se projetam nas xilogravuras, colorindo guarda-chuvas, sol, lua, mar. Uma de suas mais célebres gravuras é a arte sob papel “Pão de Açúcar”. A imagem retrata um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro, representado com contornos desfocados, uma marca do artista.

Jardim, por outro lado, não costuma interferir nos aspectos gerais da paisagem que xilografa. Ele apenas a particulariza nos objetos da cena. Algumas das suas obras podem até mesmo ser confundidas com fotografia contrastada. “Interlagos XIV, Luz e Sombra”, trabalho feito em 1967, é um exemplo disso, e pode ser observado na mostra do MAC. Outro importante trabalho do artista em exposição é o “Novembro, 1964”. Exuberantes, suas gravuras chamam a atenção desde a primeira observação.

Em seu trabalho, Goeldi e Jardim representam as imagens de uma maneira diferente. As figuras são muito distintas no imaginário de cada um dos artistas. No entanto, segundo Mubarac, ambos foram capazes de representar com excelência a visão de um universo internalizado, medido por afetos.

Cada um deles restaurou, através das suas gravuras, os arredores da própria realidade, sendo que Goeldi gravou paisagens cariocas e Jardim, as paulistanas. Os dois mestres registraram as margens das cidades com olhar de um geógrafo andarilho, segundo o curador.

A técnica de produção dos dois artistas se aproxima também na simplicidade de meios empregados na elaboração das gravuras. “Há, em ambos, uma enorme economia de meios, que se revela nas linhas xilografadas de Goeldi, frestas exatas de luz, e nas gravuras de metal de Jardim, que combinam as vezes a linha cortada, direta e indiretamente, com chapados xilográficos secos, erodindo a matéria corroída em contraluz”, declara Cláudio Mubarac.

Goeldi/Jardim: A Gravura e o Compasso

De 28.03 a 29.11
MAC USP Ibirapuera: Terça, das 10h às 21h. Quarta a domingo, das 10h às 18h.
Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, Moema, São Paulo/SP.
Entrada franca

Por Pâmela Carvalho