NARRATIVA JORNALÍSTICA NÃO TEM DESFECHO, TEM LIDE

Lide é um dos jargões mais batidos do jornalismo. Indica a informação mais importante em uma reportagem, aquilo que ao mesmo tempo a justifica como notícia e orienta toda a sua construção. Quando o repórter encontra o lide, no final da apuração, seu trabalho está quase pronto. Basta colocá-lo no começo do texto e explicar como ele foi encontrado.
O JC 439 pecou nisso em mais de um texto, mas o caso mais grave está na reportagem sobre as acusações de racismo em uma aula no Instituto de Biologia. O lide não existe, e a história termina num desfecho anticlimático.
O leitor é levado a crer que o conteúdo racista do artigo indicado para leitura era ministrado aos alunos de pós-graduação. Mas não: a disciplina é “English for Science”. O artigo serviria de base para um debate entre os estudantes, em inglês. Esta foi a versão apresentada pelo Instituto de Biologia e comprovada por uma fonte. A abordagem dos fatos foi sensacionalista e embarcou na mesma barrigada do movimento Ocupação Preta, que invadiu um curso de inglês pensando ser uma aula de eugenia.
Apesar desse problema, a reportagem está bem apurada – como, aliás, todo o jornal. Mesmo nos assuntos mais polêmicos, a equipe ouviu os diversos lados e apresentou as versões com objetividade. Mas faltou valorizar o lide de cada reportagem: o melhor da apuração está escondido no final dos textos sobre assédio na Prefeitura, o tornado em Xanxerê e o machismo no esporte.
Também faltaram boas fotos para a capa. As publicações feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.

Guilherme Alpendre – secretário-executivo da ABRAJI