Problemas no apoio à permanência estudantil refletem precarização da USP

Questões vão de atrasos nos resultados de auxílios à situação das dependências do CRUSP

Foi através de um comunicado por e-mail, em 30 de abril, que os estudantes da Universidade de São Paulo foram notificados do atraso nos resultados das inscrições do Programa de Apoio à Permanência Estudantil de 2015 (PAPFE-2015), para suporte à moradia e auxílios para alimentação, transporte e livros. O resultado foi adiado para 13 de maio.

(Foto: USP Imagens)

No mesmo informe, a Superintendência de Assistência Social (SAS) justificou que o grande número de inscritos neste ano e outras demandas urgentes do Serviço Social “impossibilitaram a conclusão do processo no prazo inicialmente previsto”. O aviso, dado no mesmo dia em que os resultados das bolsas-auxílio deveriam ser publicados, coloca em debate as dificuldades enfrentadas pelos estudantes em busca de apoio à realização de seus estudos na USP.

“Sou do interior e não sabia ao certo se conseguiria estudar aqui, porque não tinha condições financeiras de me manter na capital. Só consegui minha vaga depois de esperar por uma lista de espera, e tive de me garantir em outro espaço, até que minha situação fosse resolvida. Minha graduação estava em risco”, diz S.T., morador do CRUSP e representante da Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP (Amorcrusp). O “espaço” referido pelo estudante é o Alojamento Coletivo Provisório, que, segundo o site da SAS, existe exclusivamente para atender calouros no início do ano, até que seja divulgado o resultado final da seleção para os apoios à permanência estudantil.

Porém, ali também não há lugares suficientes, e para conseguir um é necessário entrar em uma lista de espera, que é precedida por uma outra, que por sua vez é preenchida com nomes de estudantes considerados em situação de emergência. Conforme as vagas no alojamento são ocupadas pelos alunos da lista emergencial, os nomes dos estudantes na lista de espera vão rodando. Mas isso não significa que sobrem vagas, pois a maioria dos casos são emergenciais e, por vezes, não há espaços para os alunos no alojamento.

Acampamento

A resposta dos moradores do CRUSP a esse tipo de dificuldade foi fazer um acampamento para acomodar os estudantes que necessitavam de moradia, a partir de uma lista com o contato destes alunos, feita desde o período de matrícula. A decisão pela medida partiu de deliberação em assembleia dos moradores do CRUSP.

O acampamento se estabeleceu na sala 51 do bloco F e durou cerca de um mês, até que os estudantes fossem alojados. “Todos os estudantes que ficaram no acampamento conseguiram suas vagas”, afirma D.G, que, assim como, S.T., não quis se identificar por “temer perseguições políticas por parte da SAS”.

D.G. completa que as ocupações dos blocos continuam sendo a única saída para minimizar o problema da falta de vaga, frente às dificuldades de diálogo com a SAS e a reitoria: “Todos os blocos do CRUSP utilizados como moradia foram conquistados através de ocupações, pois a reitoria nunca entregou nada sem pressão dos moradores. O CRUSP nunca foi dado, sempre foi tomado”. O estudante lembra ainda a ocupação da reitoria em 2013, quando o movimento estudantil se mobilizava por eleições diretas para reitor e pela devolução dos blocos K e L, com sua entrega prometida desde 2009 e onde hoje se encontra o prédio da antiga reitoria.

Problemas de infraestrutura

Superada a dificuldade em encontrar um apartamento no CRUSP, os discentes esbarram em outra questão: a infraestrutura dos blocos e quartos ocupados. A reportagem presenciou inúmeros problemas estruturais, os quais podem comprometer a integridade física e a saúde de muitos moradores. Elevadores com fiação exposta, entulhos espalhados pelos corredores, problemas de iluminação, falta de cadeiras nas cozinhas e saídas de emergência contra incêndios sem os degraus no primeiro andar (o que seria fatal em ocasião de incêndio) são apenas alguns dos problemas estruturais com os quais os estudantes se deparam.

Precariedade do CRUSP reflete descaso na assistência aos estudantes (Foto: Vinícius Crevilari)
(Foto: Vinícius Crevilari)
(Foto: Vinícius Crevilari)

“A precarização não deixou o CRUSP de fora. Por conta dos cortes, a falta de limpeza tem tornado nossa vida um caos, e isso vem desde a greve do ano passado. Já vi rato andando pelo corredor do meu bloco e até encontramos uma pomba morta em um tubo de ventilação, que desemboca em uma das cozinhas”, contou S.T. Foi relatado também que a falta de conexão com a internet em alguns blocos permance desde 2012, bem como problemas com infiltração e rachaduras nas paredes dos prédios.

O Jornal do Campus tentou contato com o Superintendente de Assistência Social da USP, Waldyr Antonio Jorge, bem como com a diretora da Divisão de Promoção Social da SAS, Rosana Campanhã da Silva e a reitoria para esclarecimento em relação ao adiamento nos resultados das inscrições do PAPFE-2015, a questão da disponibilidade de vagas no CRUSP, bem como a situação física dos apartamentos e a devolução dos blocs K e L, mas não obteve respostas até o fechamento desta edição.

Uma questão histórica

A luta por apoio à permanência na Universidade é antiga e remonta aos tempos tensos de Ditadura Militar, quando estudantes ocuparam, em 1964, os prédios da Vila Pan-Americana localizados na Cidade Universitária – única construção feita exclusivamente para abrigar os atletas durante os Jogos Pan-Americanos de 1963, em São Paulo, e que hoje serve como Conjunto Residencial da USP (CRUSP). Da reintegração do local por tropas do exército cinco dias após decretação do AI-5, em 1968, à atual situação da moradia, uma sequência de ocupações e reintegrações de posse marcaram o cotidiano do espaço, evidenciando problemas de ordem política entre estudantes e reitoria, os quais se arrastam até os dias de hoje.

Por Vinícius Crevilari