Dança na USP é alternativa ao academicismo

PoliDance, Dança de Salão EEFE e forrIO&gafieira reúnem curiosos no espaço universitário

“Sempre quis fazer aulas de dança, mas nunca tive tempo e as escolas eram longe”. Assim como Cássia Oliveira, aluna de Engenharia Química da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, muitos estudantes já desejaram fazer uma atividade diferente, fora do meio acadêmico. No entanto, encontraram as mesmas dificuldades: falta de tempo e de lugares próximos que se adequassem à rotina universitária pesada. Mas e se essa atividade estiver perto de você? Grupos de dança de vários institutos da USP oferecem aulas gratuitas e de diferentes estilos na Cidade Universitária. Elas são frequentadas não só por estudantes, mas também por funcionários da Universidade e até por pessoas que não possuem vínculo direto com ela. PoliDance, Dança de Salão EEFE e forrIO&gafieira são alguns desses cursos, que em sua maioria possuem aulas ministradas por estudantes da USP. Todos eles enfrentam algumas dificuldades para manter o projeto. O principal problema é a burocracia para conseguir recursos e salas de aula pouco adequadas para a prática.

PoliDance agrupa professors, alunos e funcionários  para a prática da dança. (Foto: Amanda Manara)
Polidance agrupa professors, alunos e funcionários para a prática da dança.
(Foto: Amanda Manara)
Origem

A motivação para o surgimento dos grupos é quase sempre a mesma: a enorme vontade de dançar e de proporcionar os benefícios dessa atividade para outras pessoas. Em alguns desses grupos, também há a intenção de ocupar o espaço público de uma maneira que proporcione retorno para a comunidade externa à USP. Daniel Beppu, um dos professores do forrIO&gafieira — grupo do Instituto de Oceanografia (IO) —, afirma que: “A apropriação do espaço público é um pilar incontestável da natureza do coletivo”. Lá é comum debater esse e outros assuntos como segurança pública e machismo antes das aulas. O grupo, que oferece aulas de samba de gafieira e forró, começou com apenas um casal de professores e 20 alunos por aula. Atualmente, possui sete professores, nenhum com formação em dança. No entanto, isso não desincentiva os alunos, que já passam de cem por aula, apesar de quase não terem divulgação. A maioria dos inscritos, no entanto, deriva da própria Universidade, o que, segundo Daniel, não deveria ser um fator tão recorrente: “A maioria [dos alunos] é do campus, entre estudantes, funcionários e professores. Há uma parcela pequena de pessoas de fora da USP, o que acreditamos ser importante que mude. O campus passa por um processo de privatização que segrega mais ainda o bairro e pode perder sua capacidade de retorno social para a cidade”. O PoliDance também é um gurpo com bastante procura, e em um dos semestres já chegou a ter mais de 80 inscritos. O projeto começou em 2012 por iniciativa de duas alunas da Poli, Jacqueline Carvalho e Beatriz Barreto, ambas bailarinas. No início, a intenção era fazer apresentações e participar de competições. Como foi complicado encontrar pessoas já preparadas, elas começaram a formar turmas e ensinar a dança de salão. As aulas acontecem na sala do Grupo de Teatro da Poli e os professores atuais são todos ex-alunos do projeto, que oferece aulas de jazz, zumba e dança de salão. Outro projeto que conta com aulas de seus próprios ex-alunos é o Dança de Salão EEFE – USP. A professora Aline Santos começou como aluna do grupo em 2008 e se manteve até começo desse ano, quando assumiu a coordenação do projeto. Ele já teve mais de 15 professores e Aline enxerga isso como um fator positivo na diversificação das aulas e dos ritmos ensinados. As aulas desse semestre, no entanto, correram o risco de não acontecer. Mesmo com a liberação do projeto pela Seção de Cultura e Extensão da EEFE, a Seção de Alunos demorou para disponibilizar o som usado nas aulas, que começaram com dois meses de atraso. Assim como Daniel Beppu, a professora também acredita que a gratuidade do projeto é um fator importante para que mais pessoas se insiram no projeto.

Dificuldades

Não é apenas a burocracia que dificulta o trabalho dos organizadores. O próprio espaço oferecido para os cursos muitas vezes não corresponde ao cenário ideal da prática. A Dança de Salão EEFE-USP, por exemplo, conta com um bom espaço para as aulas, mas peca no tipo de piso implementado em sua estrutura. Idealmente, um pavimento de madeira seria mais apropriado por provocar maior aderência aos pés dos alunos. Esse problema é o mesmo que atinge os praticantes do forrIO&gafieira, que costumam dançar na parte externa do instituto, conhecida como “sombra acadêmica”. Além do assoalho, o alto número de integrantes por aula vem provocando problemas de espaço, o que obriga os organizadores a pensar em alternativas para as aulas. E, como vários eventos de alto porte, as festas organizadas pelo forrIO&gafieira começaram a revelar alguns problemas estruturais recorrentes do grandevolume de pessoas, como casos de machismo e intolerância, nos quais o anonimato, segundo o professor Daniel Beppu, pode garantir a impunidade do indivíduo. Por isso, a contratação de seguranças é uma das principais pautas. Outro curso que sofre com problemas é o PoliDance. Mesmo à procura de uma sala maior no CEPE — sem sucesso pelos trâmites burocráticos — e no prédio de engenharia de minas — já ocupado por outro curso de dança —, a alternativa foi se manter em seu espaço atual. A pequena sala obriga os organizadores a dividir suas turmas, principalmente no começo do ano, quando a procura por vagas é usualmente maior.

Benefícios

Segundo a professora Aline Santos, o programa tem uma condição importante para os alunos: “A maior motivação das pessoas é aprender a dançar e, por ser gratuito, dá a oportunidade de experimentar”. Além disso, a professora explica que o grande valor do projeto está no aprendizado: “É um ótimo laboratório, você aprende a dar e planejar aulas e lidar com o público. Ao mesmo tempo em que ensino, eu aprendo”. Já para Hellen Resende, uma das professores da PoliDance, “aqui é mais um grupo de de dança e menos uma escola. Tem o fator diversão, lá fora é algo mais sério”. Mas não é apenas isso que vem atraindo alguns estudantes da Universidade. Para Cássia Oliveira, aluna do mesmo projeto, a imensa vontade de aprender algo diferente, fora do âmbito do acadêmico, é uma das principais motivações.”

PoliDance
Quando? De segunda à quinta, 17h
Onde? Biênio Av. Prof. Almeida Prado, travessa 2, nº 158

forrIO&gafieira
Quando? Às segundas-feiras, 18h
Onde? Instituto Oceanográfico (IO) Praça do Oceanográfico, 191

Dança de Salão EEFE
Quando?
Às sextas-feiras 14h – 15h20 (iniciantes) e 15h40 – 17h (experientes)
Onde? Salão D da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) Av. Prof. Mello Moraes, 65

 

Por: Bruna Eduarda Brito e João Henrique Furtado