EAD investe na produção cinematográfica

Após 67 anos de tradição no ensino dramaturgo, o primeiro filme da escola será produzido

Pela primeira vez em seus 67 anos de história, a Escola de Artes Dramáticas (EAD) da ECA-USP está produzindo um longa metragem. Para a realização do filme, os alunos da EAD firmaram parceria com estudantes do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da ECA. Reunindo mais de 40 alunos das duas escolas, o filme leva o nome de “13 andares”.
Tradicionalmente, os alunos do sétimo semestre da EAD realizam alguma grande produção dramática. O espetáculo, porém, sempre é uma performance teatral, sendo que a turma desse ano está sendo a primeira a realizar um longa metragem. Para produzir o filme, os alunos convidaram a atriz e roteirista Eliana Fonseca, professora da EAD formada por essa mesma escola. Conhecida internacionalmente por produções como “Frankestein Punk”, “Castelo Rá-tim-bum”, “Rá-tim-bum” e “Ilha Rá-tim-bum”, ela ministra aulas de interpretação para produções Audiovisuais na EAD.

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Ilustração: Stella Bonici

O projeto

A professora Eliana Fonseca se destaca no ensino dramaturgo ao encabeçar aulas que não só orientam os alunos sobre como interpretar, mas também como participar ativamente dos longas como produtores. Assim, a ideia da produção cinematográfica surgiu após a professora indagar aos estudantes sobre o que gostariam de tratar. O semestre de “Atuação para Câmera”, aula dada para o último ano do curso por Fonseca, foi o ponto inicial para a iniciativa.

Em vídeo de divulgação do projeto, a professora reafirma que um dos objetivos da iniciativa é fazer com que os alunos aprendam a ser não só atores, como também produtores. “Perguntei para eles sobre o que queriam falar, sobre que assuntos queriam tratar”, afirmou Eliana Fonseca. Sendo assim, cada um dos treze atores participantes traçaram a história e as características psicológicas de suas personagens. “O legal desse projeto é que ele ensina os alunos a pensarem fora da caixa, fora do que é comum”, afirma o aluno Renato Cruz, do terceiro ano da EAD.

Temática

Os alunos escolheram tratar de assuntos que reverberam na atualidade. Corrupção, amor, solidão, tecnologia são alguns dos temas abordados. O estudante Júlio Mello, por exemplo, escolheu representar o individualismo e o isolamento pessoal, causados pelos avanços tecnológicos. “Meu personagem vive dentro de um quarto, não sai de lá. Ele trabalha e faz todas suas compras pelo computador pessoal. Seu isolamento é tanto que até mesmo seus relacionamentos afetivos se dão através da tela do seu micro”, declara.
Todos os personagens são bem independentes, mas suas histórias acabam se cruzando. “O próprio nome do longa já mostra que os personagens conversam entre si. A Eliana sugeriu ‘13 andares’ porque somos em 13 atores e também porque a narração se passa dentro de um edifício em São Paulo, moradia de todos os personagens. Eles acabam se cruzando no dia a dia, no cotidiano”, afirma Mello.

Financiamento

Apesar da inovadora proposta, os colaboradores do projeto encontram uma dificuldade: o orçamento. “Quando as turmas do sétimo semestre da EAD produziam peças de teatro, era mais fácil. Como a própria escola já tem um grande acervo ficava mais barato. Para nós está mais difícil porque filme é caro. Uma produção de baixo orçamento custa cerca de 1 milhão de reais”, afirma Julio. A professora Eliana declarou que, graças a incentivo cedido pela universidade, o capital necessário será menor do que o esperado de filmes independentes de baixo orçamento. Esse incentivo é estrutural, tendo em vista quea parte técnica necessária para a produção, os estúdios de edição e outros equipamentos, foi cedida pela EAD e pelo CTR. Todavia, ainda são necessários 30 mil reais para que o filme passe a ser rodado, já que o transporte, a alimentação dos atores, além de elementos da cena e do figurino ainda necessitam ser adquiridos ou alugados pela produção.

Para arrecadar os 30 mil, iniciou-se uma campanha de crowdfunding no site catarse. São aceitas diversas quantias de doações e, para cada uma delas, é oferecida uma recompensa, que vão desde nome nos créditos do filme (colaboração de R$ 25,00) até o “Pacote Cobertura”, que permite que logo da empresa do colaborador apareça nos créditos, além de outros vários benefícios (ajuda de R$ 5000,00).

A crise econômica da Universidade de São Paulo também afetou a produção. Normalmente, a USP cede uma verba para que se contrate pessoas de fora da universidade para dirigir os trabalhos do sétimo semestre. Esse ano, no entanto, essa verba não foi cedida, e os próprios professores da EAD ficaram a cargo da direção, além de desempenharem seus trabalhos usuais nas aulas de todas as turmas. “A gente pressionou bastante para que disponibilizassem verba para pagar a professora Eliana Fonseca. Depois de muita discussão, conseguimos que eles cedessem pelo menos nisso”, afirma o estudante Júlio de Mello.

Lançamento

O filme será produzido entre os meses de julho e agosto, sendo que se espera que seja lançado em setembro, após a edição realizada pelos alunos de Audiovisual da ECA.
Todavia, no que diz respeito ao lançamento, os alunos e colaboradores encontram outro obstáculo, o da divulgação. Segundo Mello, é muito difícil se divulgar filmes no Brasil, principalmente se levando em conta que a indústria cinematográfica brasileira tem um domínio absoluto do humor, não sobrando muito espaço para produções independentes dos outros gêneros.

O objetivo dos participantes do projeto é buscar produtoras que possam financiar o longa após sua conclusão. O auxílio da Eliana Fonseca, que é um nome de destaque no cinema nacional, será importante para que o filme seja lançado em algum cinema.
Até o dia 21 de junho a produção ainda está aceitando doações. As contribuições podem ser enviadas para o site www.catarse.me/13andares.

Por Pâmela Carvalho