Restringir a alimentação não é a solução

A urgência em perder peso expõe as pessoas a dietas que não funcionam e podem trazer risco à saúde

A facilidade das pessoas se informarem pela internet e a preocupação estética que elas têm do próprio corpo são características visíveis no mundo atual. Com isso em mente, professores da USP criaram o site “Ciência InForma” com objetivo de levar conhecimentos para além da universidade e desmitificar alguns conceitos consolidados pelo senso comum.

Foto: Gabriel Carvalho
Foto: Gabriel Carvalho

Para Desire Coelho, co-coordenadora da pós em Nutrição Esportiva da EEFE-USP e uma das fundadoras do site, a dificuldade de acesso às informações científicas foi o principal estímulo para a criação do site. “A informação, quando chega, é por meio de uma forma enviesada, então decidimos passar nós mesmos as informações, que também são enviesadas, mas pela ciência”. Assim, utilizou redes sociais para debater temas relacionados à saúde. “As redes sociais foram um modo de atingir essas pessoas, pois vivemos numa ‘era fitness’, e elas estão buscando informações”, diz.

Um dos temas abordados no site é a eficácia das dietas, principal estratégia adotada pelas pessoas quando querem emagrecer com rapidez. Desire explica que a urgência em perder peso aparece aliada à imposição de padrões de beleza pela sociedade. “A partir do momento em que o padrão foi se tornando cada vez mais magro, as pessoas começaram a querer emagrecer para se adequar a esse modelo, experimentando diferentes métodos”, explica.

Porém, segundo ela algumas dietas não são saudáveis, além de não serem eficientes para emagrecer, pois após algum tempo muitos voltam a ganhar peso. “Alguns chegam a emagrecer nos primeiros dois ou até seis meses, mas nossos estudos mostram que depois de um ano eles voltam ao seu peso inicial ou até engordam”, comenta. Para Desire, o principal motivo desse fracasso é que as dietas são estritamente restritivas.

Victória Damasceno, estudante de Jornalismo da USP, já foi adepta de duas dietas. Buscando se sentir melhor com seu corpo, adotou uma voltada para a perda de gordura e ganho de massa muscular que consistia na ingestão de claras de ovos, frango, carboidratos integrais e suplementos alimentares. Além disso, fez também a Dieta de Atkins, conhecida como dieta da proteína, baseada no corte excessivo dos carboidratos, resultando na rápida perda de peso. “Cheguei a perder 16kg, associando a dieta aos exercícios físicos regulares”. No entanto, explicou que apesar de ter conseguido os resultados estéticos que queria por certo tempo, chegou a engordar, pois as dietas eram muito restritivas. “Sempre que comia algo que não estava na dieta, meu corpo estranhava e eu passava mal. Passei noites no hospital. Minha imunidade baixava bastante”, disse, alertando que só faria novas dietas novamente se não fossem tão restritivas.

Para explicar como a restrição alimentar traz resultados negativos, Desire cita o corte de carboidratos como proposta de dietas, mas destaca que esse rompimento é específico e precisa fazer sentido para quem adota a medida. “Se a pessoa não sente falta desse tipo de alimento, ela consegue ficar um tempo sem comê-lo. Mas se estão acostumadas a comer pão, por exemplo, não vão resistir e comerão em maior quantidade quando tiverem chance”, diz, ressaltando a importância do aspecto psicológico na alimentação, além de eventuais problemas fisiológicos, como a deficiência de nutrientes.

Desire destaca que os prejuízos emocionais são muitos. “A pessoa se sente triste por não poder comer quando todos estão comendo ou mesmo por não conseguir se controlar”. Ademais, como cada pessoa possui metabolismo e relação diferente com a comida, cada dieta funciona de modo distinto para cada indivíduo. “Cada um tem um histórico. Eu posso ficar sem tomar cerveja, mas não sem comer bolo de fubá”.

Por esses motivos, ela defende uma linha de trabalho próxima da terapia nutricional, valorizando o emocional, já que o estudo da comida vai além dos aspectos alimentícios, englobando questões culturais e sociais. “Muitas vezes, o que falta pro nutricionista é entender a vida das pessoas. Não se trata apenas do sabor dos alimentos, mas o que eles remetem para o paciente”.

DIETA DA SOPA:

O que é recomendado: trocar as refeições principais por um prato de sopa. Problemas: a sopa não fornece todos os nutrientes e a energia necessária ao corpo. Como exige pouca mastigação, a sensação de saciedade não é controlada. O ato de mastigar informa ao cérebro que a pessoa está se alimentando, de modo que, se há pouca mastigação, ele entende que não houve alimentação, e a fome persiste. Além disso, por ser uma dieta muito restritiva, as chances de os quilos perdidos voltarem quando se retorna à alimentação regular são muito grandes.

DIETA PALEOLÍTICA:

O que é recomendado: carne em abundância, verduras, legumes, frutas, gorduras. São vetados grãos, massas e alimentos industrializados. Problemas: Como grãos e massas são cortados, as verduras, os legumes e as frutas se tornam a principal fonte de carboidrato, mas podem ainda ser insuficientes. A supressão do carboidrato pode causar falta de energia, dores de cabeça e tonturas. Além disso, é preciso tomar cuidado com o excesso na ingestão de proteínas e de gorduras – em relação a estas, devem ser priorizadas as gorduras insaturadas, presentes no azeite de oliva e nos peixes.

CIÊNCIA INFORMA NAS REDES SOCIAIS

A criação do site trouxe a possibilidade de usar redes sociais para divulgar as informações. O instagram, por exemplo, traz diversas reflexões sobre temas delicados. Em um post, o perigo das dietas teve mais de 100 curtidas.
Acompanhe: @cienciainforma

Por Luís Viviani e Victória Pimentel