Revista Beat cresce solitária na divulgação do esporte uspiano

Deficiência na cobertura e promoção do esporte universitário não é exclusividade da USP e se estende até a grande mídia

Quase 3000 atletas reunidos em 25 Associações Atléticos Acadêmicas, que disputam campeonatos de temporada, jogos interuniversitários, copas, ligas e amistosos, em mais de 20 modalidades. É muita informação rolando dentro e fora de quadras, campos, mesas, piscinas e tatames. Mas pouco se sabe realmente sobre esse mundo esportivo da USP além da divulgação de tabelas e resultados e do reconhecimento de cores e mascotes. Afinal, quais os times que estão se destacando? Quais jogadores estão despontando? Quem são os técnicos por trás das mudanças? Que modalidades estão crescendo? Quais atléticas estão fazendo boas gestões?

A Liga Atlética Acadêmica da USP – LAAUSP, que reúne todas as atléticas da Universidade e organiza os campeonatos internos (BichUSP, Copa USP, Copa dos Campeões e Jogos da Liga), abandonou o site oficial em 2012 e restringe a comunicação à sua página no Facebook (https://www.facebook.com/laausp). Os posts reúnem fotos e vídeos das competições e tabelas dos campeonatos, mas não faz uma cobertura completa nem vai além dos resultados. Sobre o fechamento do site, o presidente da LAAUSP, João Meireles, esclarece que o mesmo “não condizia mais com as necessidades de comunicação da Liga”, por isso a transferência à rede social, onde a Liga se propõe a “divulgar todas as atividades que envolvem a LAAUSP”. A expectativa é que um novo site seja feito neste segundo semestre.

Em 2013, um grupo de alunos-atletas decidiu mudar o cenário e apostou em um projeto para divulgar o dia a dia esportivo da USP, promover os jogadores, técnicos e atléticas da Universidade e ainda produzir conteúdo que ajudasse a melhorar a qualidade do esporte universitário de maneira geral. Em 2014, estreava a revista digital Beat. Ícaro Ferrarini, diretor executivo da publicação e um dos sete idealizadores do projeto, conta que a ideia surgiu da vivência pessoal como atletas uspianos e da influência de publicações estrangeiras. “Nós conversávamos sobre essa carência na divulgação e começamos a notar que faltavam registros das histórias das equipes. Eu, por exemplo, não tinha fotos minhas jogando. Uma vez peguei para ler uma revista americana que trazia em evidência as eliminatórias, análises de jogos, classificações e os atletas destaques do basquete universitário. Comecei a me questionar por que não poderíamos ter algo parecido”, revela.

A publicação é desenvolvida em parceria com a LAAUSP e a Jota Júnior, empresa de comunicação dos alunos do curso de Jornalismo da ECA. “A Beat é feita por voluntários, que se esforçam para ajudar, mas não podem se dedicar totalmente à iniciativa. A relação com a Jota foi uma maneira de garantir a periodicidade do material publicado e ainda contribuir para o desenvolvimento da empresa júnior no ramo esportivo”, explica Ícaro. O núcleo de Jornalismo Esportivo da Jota Jr nasceu com a proposta de cooperação, e hoje conta com uma equipe de dez repórteres e dois editores, todos alunos do primeiro e do segundo ano. A produção de cerca de sete matérias por mês é totalmente voltada para a revista, mas a empresa não descarta produzir material para um site próprio futuramente.

A USP tem quase 3000 atletas reunidos em 25 Associações Atléticos Acadêmicas que disputam mais de 20 modalidades. (Fotos: Amanda Manara e João Henrique Silva Arte: Ana Paula Machado)
A USP tem quase 3000 atletas reunidos em 25 Associações Atléticos Acadêmicas que disputam mais de 20 modalidades.
(Fotos: Amanda Manara e João Henrique Silva
Arte: Ana Paula Machado)


Esporte digital

Criada por um grupo de alunos, a revista Beat nasceu como uma iniciativa sem fins lucrativos para promover o esporte da USP e desenvolver o esporte universitário de maneira geral. A publicação é 100% digital e, além do site oficial (http://www.revistabeat.com.br/), conta com páginas no Facebook (https://www.facebook.com/beat.revista) e no Instagram (https://instagram.com/revista_beat/). Mensalmente, divulga cerca de sete matérias dentro das editorias: Perfil, que apresenta as histórias de vida de atletas ou ex-atletas uspianos, buscando aproximar as pessoas da realidade de um aluno-atleta; Análise de Jogo, que debate didaticamente o diferencial de times que obtiveram sucesso recentemente; Mito ou Verdade, que resolve, com explicações de especialistas, as incertezas presentes no universo esportivo; Especial, que discute um tema que repercutiu naquele mês; e Cartola, que trata de gestão e marketing esportivo.

A cobertura do esporte universitário no Brasil

A deficiência na cobertura esportiva no ramo universitário não é uma exclusividade da USP. Em 2010, estudantes de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero também identificaram essa falta de informação e, como parte de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),criaram um portal dedicado aos jogos universitários no Brasil, o Esporte Universitário.Net (http://esporteuniversitario.net/). O projeto cresceu, indo além da simples cobertura dos campeonatos para a discussão de temas relacionados ao esporte e a inclusão de notícias internacionais. Também entrou para as redes sociais (facebook.com/esporteuniversitarionet, twitter@esp_uni, instagram @esporteuniversitario), ganhou uma coluna na Rádio Bradesco Esportes FM e criou um prêmio próprio. Mas, depois de cinco anos, o portal foi encerrado pelos responsáveis. Em nota divulgada na época, a equipe esclareceu que “dificuldades no setor de mídia fizeram com que o Esporte Universitário.Net voltasse a ser um projeto paralelo de seus diretores em 2014, ano em que cada um deles optou por novas prioridades profissionais e pessoais.”

De maneira geral, o problema se espalha pelas instituições do país e atinge também a grande mídia. Para o professor de jornalismo esportivo Ary José Rocco Junior, este tipo de cobertura está restrita a órgãos e veículos de imprensa segmentados e blogs de praticantes ou jornalistas que se interessam pelo tema. Segundo Rocco, a inexistência do esporte universitário na grande mídia se dá principalmente porque esta “não enxerga no esporte universitário um ‘produto’ que possa interessar à sua audiência”. O resultado negativo, na visão do professor, se dá pela baixa qualidade, estrutura e organização das competições; pelo trabalho inadequado de divulgação por parte das entidades junto à grande mídia; e na forma que boa parte da sociedade ainda enxerga os inters: “locais de festas, paquera e, principalmente, muita bebida”. “A dificuldade, a meu ver, não está tanto na comunicação, mas sim em como as entidades do esporte universitário vendem o seu produto”, finaliza.

Por: Ana Paula Machado