Devido à baixa no quadro de funcionários do restaurante universitário em função do PIDV, a Prefeitura do Campus local diminuiu o número de refeições oferecidas
O PIDV (Programa de Incentivo à Demissão Voluntária), implantado pela gestão do reitor Marco Antonio Zago, está impactando todos os campi da USP. Recentemente, o programa teve como consequência o comprometimento nos serviços oferecidos pelo restaurante universitário de São Carlos. Graças a falta de funcionários, que deixaram seus postos de trabalho devido aos incentivos do PIDV, e ao sobrecarregamento dos que ficaram, a Prefeitura do Campus da cidade anunciou que o bandejão não funcionará mais aos sábados. Antes dessa decisão, os alunos já notavam a precarização dos serviços. As filas para se conseguir fazer uma refeição no restaurante aumentaram muito e, em consequência disso, mais tempo é demandado para se fazer uma refeição. “Nós estamos demorando muito tempo para bandejar, tempo que alguns deveriam estar estudando ou fazendo alguma outra coisa importante”, afirma Caíque Honorio, aluno da USP São Carlos. Além disso, os cardápios diários também sofreram alterações, como a diminuição na diversidade de vegetais disponíveis para a alimentação, e também o fim da opção de comida vegetariana nas refeições. Graças a essas mudanças, muitos alunos estão deixando de comer no bandejão. No entanto, o restaurante é de extrema importância para a permanência estudantil de alunos menos privilegiados. “Muitos alunos não têm outra opção, precisam comer no bandejão. Os alunos do alojamento, por exemplo, dependem muito disso, e nós estamos tendo que conviver com essa precarização”, afirma Caique. Após a implementação do PIDV, sete funcionários saíram da USP, outros seis foram afastados por motivos de saúde pelo INSS, devido à exaustiva jornada de trabalho. Além disso, cinco funcionários, sentindo-se sobrecarregados em demasia, foram transferidos para outras funções e outros oito estão sem poder carregar peso, por orientação médica. Sendo assim, a decisão de fechar o bandejão aos sábados, apesar de danosa aos alunos, foi recebida com certo alívio pelos funcionários. “Estamos cansados. Não podemos mais descansar aos sábados, todos nós viemos trabalhar direto. Gostamos da nossa função, mas essa situação está cada vez mais insustentável. Embora gere tristeza, foi um alívio a diminuição de alimentos nas refeições e foi um alívio não servirmos mais refeições aos sábados, porque quem gosta de ser explorado em seu trabalho?”, escreveram os funcionários em carta aberta.
Os trabalhadores também afirmam que suas críticas são direcionadas à atual gestão da universidade, e de forma alguma se posicionaram de forma contrária a permanência dos restaurantes de forma integral aos estudantes. “Ambas as soluções (diminuições nos alimentos e fechamento do bandejão aos sábados) não foram propostas por nós! Inclusive, temos a impressão de que somos colocados nessa situação limite para que a tercerização se torne inevitável”, completam os funcionários. O aluno Mateus Fumes, membro do CAASO (Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira), também acredita que a decisão aconteceu para que uma possível tercerização ocorra no futuro. “A Prefeitura do Campus fez uso de uma ferramenta de mercado. Essa decisão causa uma pressão que pode ter como consequência o restaurante ser tercerizado no futuro”, declara. O estudante também destaca que os usuários do bandejão estão notando o esforço dos funcionários que, apesar de sobrecarregados, tentam manter o funcionamento do restaurante. “Os trabalhadores estão com bastante gana para manter a qualidade do serviço, a gente percebe bem isso”, afirma. A Prefeitura do Campus da USP São Carlos, em nota enviada à redação do Jornal do Campus, afirma que o fim das refeições aos sábados no bandejao foi necessário. De acordo com eles, o número de estudantes que usam o restaurante aumentou: no primeiro trimestre de 2013, foram servidas cerca de 199 mil refeições, contra 309 mil nesse ano. Sendo assim, o aumento da demanda aliado à diminuição no quadro de funcionários tornou a situação insustentável e, segundo eles, recorreram a única alternativa que julgaram viável.
Solução
Para fazer frente à decisão da Prefeitura do Campus, o DCE da USP, o CAASO e o grupo estudantil Alojas organizaram um ato para o dia 2 de junho, terça-feira, no horário do jantar do bandejão. Eles têm o objetivo de reivindicar a volta do bandejão aos sábados, além da melhora no trabalho precário dos funcionários do restaurante. Os trabalhadores também apresentaram, em carta aberta, uma proposta para o fim da crise, para que funcionários e alunos não sejam afetados. Eles afirmam que os problemas da universidade não são de caráter financeiro, mas sim administrativo. Para eles, a auditoria pública da dívida, o maior repasse de ICMS para a universidade e a contratação de mais funcionários fazem parte da solução ideal para a crise atual, evitando que a USP continue caminhando para o sucateamento.
Por Pâmela Carvalho