Arborização da USP não foi planejada

Da antiga Fazenda Butantan à construção da Cidade Universitária, a flora do campus foi plantada seguindo modismos de épocas e passará por um plano diretor de arborização para sua manutenção

Ao entrar pela Portaria 1 da Cidade Universitária, exuberantes palmeiras podem ser vistas já na avenida principal. As tipuanas, tipo de árvore mais encontrado no campus, também residem na entrada, sendo encontradas na rotatória próxima ao Instituto de Oceanografia. Já na Rua do Matão, é possível encontrar grandes sibipirunas, com suas pequenas flores amareladas que colorem o chão daqueles que passam por debaixo de seus galhos.

(Foto: João Cesar Diaz)
Clique para ampliar. (Foto: João Cesar Diaz)

Arborização da USP
A USP é conhecida por aqueles que a frequentam como um dos locais mais arborizados de São Paulo. Contudo, nem sempre essa parte do Butantã tinha essa característica: no século 19 o local onde hoje é a universidade era uma grande fazenda com pastos e plantações, doada posteriormente para o Governo do Estado de São Paulo. “Como era uma fazenda de café, muito da vegetação original foi tirada. As plantas que temos hoje foram trazidas e plantadas no contexto de uma arborização urbana. Os professores que começaram a trabalhar na USP na década de 70 são unânimes em dizer que a USP era muito pelada, que não tinha árvores. Então essas plantas que hoje a compõem foram plantadas efetivamente, sendo a maioria de flora nativa”, conta o professor Paulo Takeo Sano, do departamento de Botânica do Instituto de Biociências.

As plantas escolhidas para arborizar a universidade seguiam os modismos da década de 60. A tipuana, por exemplo, também é muito presente no bairro do Jardins. “A disponibilidade de mudas da época não era tão vasta, por isso percebemos que nunca houve na USP um projeto paisagístico, digamos assim, bem estruturado. O que houve foram iniciativas de plantio, e daí não tem exatamente uma ordenação”, comenta Paulo.

Plantas de cada instituto
Cada instituto da USP é responsável pelo cuidado e manutenção de suas plantas. Muitas delas foram escolhidas pelos próprios diretores, professores ou funcionários, ou seja, iniciativas individuais ou de pequenos grupos, para assim compor os arredores dos edifícios. “Ao redor do IME existem várias plantas que são da flora brasileira e que não são frequentes na arborização urbana, mas que estão no IME por iniciativa de um professor que resolveu trazer para o entorno do instituto plantas que ele coletava nas suas andanças pelo interior do estado em meados da década de 70.

Já próximo ao Instituto de Oceanografia há uma rotatória com vários ipês, também trazidos por uma iniciativa de um diretor do instituto que quis plantar plantas do cerrado nativo. Ele contou com a colaboração de professores da biologia e de outros lugares que trouxeram essas mudas”, comenta o professor.

Palmeiras da USP
Uma das poucas plantas exóticas dentro do campus, ou seja, que não pertencem à flora brasileira, são as palmeiras. Plantadas na década de 80 por um reitor, essa árvore oferece perigo às plantas nativas da região. “Essas palmeiras vieram da Austrália por conta do paisagismo da cidade de São Paulo. É uma palmeira muito fácil de produzir e na época as pessoas achavam bonita, diferente. Começaram a plantá-la em jardins das casas de São Paulo, principalmente no Alto de Pinheiros. Virou meio que uma febre,
planta também entra em moda”.

“É preciso fazer um inventário arbóreo da Cidade Universitária: se eu não souber a quantidade e a qualidade dessas árvores, como é que eu vou planejar alguma coisa?”
– Sérgio Brazolin, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas

Por se reproduzirem muito rápido, as palmeiras passam por um programa de manejo: periodicamente, quando estão começando a produzir frutos, os funcionários da prefeitura os cortam para que não se espalhem. Em 2014, a Prefeitura da USP e o Instituto de Biociências concluíram uma ação que visava à recuperação da reserva do instituto e do Viveiro de Mudas da prefeitura, invadidos pelas palmeiras.

Plano diretor de arborização urbana
Em 20 anos, a USP deseja se tornar referência de gestão ambiental na cidade. Através de ações de educação ambiental, interação com as áreas florestais e até mesmo com as comunidades associadas à universidade, ela deseja promover a melhoria de suas instalações. O plano diretor de arborização urbana é um instrumento diretamente ligado a essas mudanças.

O biólogo Sérgio Brazolin, pesquisador do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, explica o que é um plano diretor: “Ele seria um plano que regulamentaria a arborização na USP para promover sempre a melhora contínua. Para isso é preciso fazer um inventário arbóreo da Cidade Universitária: se eu não souber a quantidade e a qualidade dessas árvores, como é que eu vou planejar alguma coisa?”, explica. Além disso, é necessário saber quais espécies estão presentes dentro do campus e se elas oferecem risco de queda.

A partir desses dados é possível fazer um diagnóstico para que possam ser definidos indicadores ambientais. “Para definir os indicadores, nós escolhemos aqueles que vão monitorar o trabalho que será feito com as árvores da USP. Por exemplo: quantas árvores plantadas? Quantas estão em estado crítico? Esse indicador tem que diminuir. Ou então a relação entre espécie nativa e espécie exótica. Esse indicador tem que ir melhorando ao longo do tempo. São indicadores que vão ajudar na gestão da arborização e a provar que a universidade está melhorando”.

A próxima etapa é definir programas, como o do plantio de árvores, de planejamento de paisagem e da memória da antiga
flora. “Temos um software para gestão de arborização urbana, que vai ajudar o técnico a realizar a inspeção. Além de permitir o registro de tudo de forma confiável, é possível mostrar esses dados para a comunidade”.

Por mais que já esteja formalizado, o início desse plano ainda precisa ser acordado. Já para 2015, a prefeitura pretende plantar mudas referentes ao plantio compensatório de obras, ou seja, quando árvores são removidas para a realização de construções. Os locais ainda estão em discussão com a Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP.

Por Mariana Miranda