Alimentação é mais um problema na EACH

Além da terra contaminada, USP Leste sofre com pouca variedade para refeições e preços altos

Tomar café da manhã na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades, a USP-Leste) pode causar alguns transtornos. Como o bandejão do campus não fornece a refeição, os alunos são obrigados a comer na única cantina da Escola, que apresenta preços considerados caros por eles, principalmente em comparação aos praticados no comércio da região em que a Faculdade está instalada, na Zona Leste de São Paulo. A direção da EACH afirma ter interesse em instalar novas lanchonetes, trailers ou food trucks no campus, mas diz ainda não ter autorização da Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C), responsável pelas instalações externas nos campi da capital. Enquanto isso, alunos e funcionários reclamam da falta de opção e de um “monopólio” empreendido pela única lanchonete.

Bruno Pirro, Representante Discente (RD) do Centro Técnico Administrativo (CTA) da Faculdade, afirma que, em reunião com a direção, os RDs costumam colocar em pauta a necessidade de ampliar a oferta de alimentação, o que os alunos, de forma geral, anseiam. Bruno percebe que a diretoria apresenta certa ressalva em aumentar o comércio de alimentos no campus: “Eles têm receio da vigilância sanitária e da burocracia envolvida nesse processo, apesar de ser uma pauta fundamental aqui na EACH”.

Marcos André e Luciano, responsáveis pela administração de infraestrutura da EACH, explicam que a Escola não tem responsabilidade sobre as instalações externas, onde poderiam ser instalados pontos de comércio de alimentos, como acontece na Cidade Universitária. Segundo eles, a Prefeitura do Campus teria de fornecer o cadastramento aos interessados em comercializar no local. Eles dizem que a direção da EACH ainda não enviou pedido formal à Prefeitura para a abertura do processo, mas que a possibilidade vem sendo discutida internamente. “Precisamos de mais tipos de alimentos. Há uma demanda tanto por parte dos alunos, quanto dos docentes e funcionários”, afirma Marcos André.

De acordo com a Prefeitura do Campus, qualquer tipo de comércio nas áreas internas da USP é permitido mediante licitação, que cabe à Unidade. O monitoramento dessas atividades seria de responsabilidade da PUSP. Além disso, estaria em avaliação a construção de um quiosque na área interna na EACH, mas um estudo de viabilidade econômica ainda deve ser feito. Eles afirmam que não têm emitido autorização para comércio de alimentos por pessoa física em áreas comuns do Campus desde 2010, sendo que tal ação contemplou apenas alguns comerciantes estabelecidos na Cidade Universitária há mais de dez anos, desembolsando uma taxa de ocupação à PUSP.

A Lanchonete

As queixas em relação à, atualmente, solitária lanchonete da EACH, Café COAC Comércio de Doces e Salgados LTDA, não são poucas. Bruno Pirro conta que alunos já reclamaram de produtos fora da data de validade e de repetidas situações em que o troco foi contabilizado errado, com diferenças de mais de 10 reais de prejuízo para o comprador. Além disso, os alunos apontam que a cantina da EACH não costuma oferecer nota fiscal após a venda dos produtos, mas apenas recibos de compra. Marcelino, dono do estabelecimento, negou a informação. “Isso é mentira, nunca trabalhei com recibo, só há dois anos atrás, mas agora é só Nota Fiscal”, explicou. Apesar da afirmação, o estudante Djonathan Gomes conta que, ao pedir uma Nota Fiscal em junho deste ano, o atendente lhe entregou um simples recibo.

No dia da entrevista, a reportagem pediu para que um aluno solicitasse a Nota, que, de fato, foi entregue. Djonathan e outros alunos afirmaram que nunca receberam uma Nota deste tipo quando solicitado. A reportagem também teve acesso ao recibo entregue a ele no semestre passado, sem validade fiscal. Até então, o problema já havia sido discutido em, reunião entre RDs e a diretoria. “Provavelmente é por isso que agora eles estão emitindo a nota e parecem ter abolido o recibo, que era dado até o fim do semestre passado”, pondera Bruno. Na entrada do estabelecimento é possível ler em cartaz afixado: “Este estabelecimento está obrigado por contrato a emitir nota fiscal a cada operação concretizada”.

Única cantina da EACH é alvo de reclamações. Foto: Fernanda Guilen
Única cantina da EACH é alvo de reclamações.
Foto: Fernanda Guillen
Alternativas

Acompanhamos Matheus Portela, aluno da EACH, em um caminho percorrido por muitos: ir até o comércio mais próximo fora dos muros da Faculdade, no Jardim Keralux, comunidade próxima. Esse percurso de ida e volta leva cerca de 20 minutos, enquanto o intervalo entre aulas é de apenas 15 minutos. Encontramos vários alunos que buscam por preços mais em conta e maior variedade de produtos, além de vários comércios pequenos. Douglas, dono de uma dessas vendas, conta que muitos alunos costumam comprar alimentos na região. Outro comércio muito frequentado pelos estudantes é a “Padaria USP” que oferece um café da manhã com pão na chapa e café com leite por R$3,00 e, para quem tem mais fome, o X-salada a R$4,00, enquanto o café pequeno na cantina da EACH é R$2,80.

Em busca de opções e preços mais atrativos, alunos vão à comunidade vizinha para comer. Foto: Fernanda Guillen
Em busca de opções e preços mais atrativos, alunos vão à comunidade vizinha para comer.
Foto: Fernanda Guillen

Carol, estudante da EACH, vende doces veganos no campus. Porém, ela conta que essa prática não é tão fácil. “Mesmo sem ser uma concorrente direta da cantina, já que seus produtos têm outro tipo de público, se um funcionário da cantina me visse vendendo doces, chamaria a segurança”, explica a aluna, lembrando de experiências de outros alunos. Isso acontece porque a venda de alimentos por parte dos alunos é proibida. Carol nunca foi pega vendendo seus produtos, de forma a ser proibida, mas colegas que também vendem alimentos já a alertaram: “Assim que eu comecei a vender, já me falaram para tomar cuidado”. Dessa forma, a aluna carrega uma placa discreta avisando que tem os doces, ou avisa previamente via Facebook, nos grupos da EACH.

A direção da EACH, através de Marcos André e Luciano, explicou que não é permitido aos alunos venderem qualquer tipo de alimento das dependências da Faculdade por conta da vigilância sanitária, considerando que, segundo eles, não teria como estes se responsabilizarem por qualquer problema, já que não possuem CNPJ. “Não há medida de punição, mas orientamos que eles não vendam produtos por conta da Vigilância Sanitária: Se alguém passar mal após comer um alimento vendido por outro aluno, como vamos responder a isso?”, afirma Marcos André. Questionados sobre a possibilidade de organizações estudantis que possuem CNPJ, como o Dasi (Diretório Acadêmico de Sistemas de Informação), venderem produtos alimentícios, eles não souberam responder com clareza. A Prefeitura do Campus informou que o comércio por pessoa física sem alvará é proibido na Universidade São Paulo.

Na sala do Grêmio dos Funcionários da EACH, entidade que reúne funcionários e docentes, ocasionalmente é feito comércio de doces, trazidos por comerciantes externos à faculdade, sem autorização licitatória. A direção concede uma espécie de autorização informal à prática, responsabilizando o Grêmio por qualquer ocorrência. Cláudia Gil, presidente da entidade, diz que todos os “expositores” que usam o espaço do Grêmio são pequenos comerciantes e que a entidade tem a preocupação em analisar a procedência dos alimentos.

Grêmio dos Funcionários vende alimentos fornecidos por comerciantes. Foto: Fernanda Guillen
Grêmio dos Funcionários vende alimentos fornecidos por comerciantes.
Foto: Fernanda Guillen

Por Fernanda Guillen e Letícia Paiva