Crowdfunding viabiliza curtas-metragens produzidos por alunos do curso de Audiovisual

Cada vez mais utilizado, método de arrecadação financia trabalhos práticos de alunos da ECA  
oceano
Reprodução: Oceano

Produzir um filme custa caro. Os blockbusters de Hollywood normalmente ultrapassam o valor de US$ 200 milhões. Já as grandes produções nacionais costumam custar cerca de R$ 5 milhões. Resguardadas as proporções, a produção de curtas-metragens dos alunos do curso de Audiovisual (AV) da ECA/USP também pode ser bastante dispendiosa. Embora o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) contribua fornecendo estúdios, equipamentos e uma verba que pode chegar a R$ 4.600, em muitos casos ainda falta dinheiro para produzir os filmes, que, além de serem projetos pessoais, também servem como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos.

A saída encontrada por esses estudantes é recorrer a sites de financiamentos de projetos, conhecidos como crowdfundings. O mais frequentemente utilizado pelos ecanos é o catarse (www.catarse.me), que ajudou Renato Duque, aluno  de AV, a arrecadar R$ 34.295 para a produção do filme Oceano. O curta é uma animação em rotoscopia, técnica em que atores são transformados em desenho animado a partir de filmagens em vídeo. Entre atores, desenhistas, animadores, produtores e técnicos em geral, a produção contou com cerca de 30 pessoas, profissionais e estudantes. O dinheiro arrecadado foi investido, principalmente, na remuneração da equipe. “Estávamos já há um ano desenhando, mas o filme andava a passos muito lentos, pois as pessoas envolvidas precisavam trabalhar para se manter, e o Oceano não era remunerado”, comenta Renato. “Recorrer ao catarse foi a solução para conseguir pagar essas pessoas por um tempo determinado, e assim garantir que todos trabalhariam por meio período diariamente: o tempo mínimo para se dar conta de um projeto desse porte”, conclui. Além do dinheiro arrecadado na campanha, Renato Duque contou ainda com a verba do CTR e com cerca de R$ 2.000 que ganhou do Programa Nascente, prêmio oferecido anualmente a projetos artísticos de alunos da USP.

Guilherme Siqueira, diretor do curta-metragem  Qualquer Um, também contou com o financiamento coletivo para produzir seu TCC do curso de AV. Ele arrecadou R$ 3.620 para complementar a verba fornecida pelo Departamento: “É comum alunos colocarem dinheiro próprio para financiar os trabalhos práticos. Tinha como proposta não fazer isso no meu filme, pois não queria onerar ninguém com meu TCC”, comenta Guilherme. A solução foi recorrer ao catarse: “O CTR dá uma ajuda financeira para os projetos práticos de TCC, mas, no nosso caso, o orçamento do filme era maior que o aporte do CTR, por isso usamos o crowdfunding como modo alternativo de pagar pelo filme”, explica o estudante.

Processo trabalhoso

Apesar das evidentes vantagens oferecidas pelos sites de financiamento coletivo, como a viabilização e a ampla divulgação de projetos pessoais, o processo de captação de recursos também pode ser muito trabalhoso. Renato Duque conta que, para atingir sua meta de arrecadação, teve que “alimentar muito as redes sociais, e investir em divulgação pesada, além de caprichar nas recompensas: todas essas coisas se tornaram um trabalho de meio período. Era metade do dia fazendo o filme, metade divulgando-o para conseguir fazê-lo”.  

No entanto, para Luiz Dantas, professor do CTR, todo esse esforço é positivo, gerando aprendizagem: “É um dinheiro que traz certas responsabilidades, uma forma de entender que o dinheiro que você recebe tem que oferecer algo em troca – acesso ao produto, algum brinde ou parte daquilo que está sendo criado. É entender que você está fazendo uma obra que é coletiva e visa visualização coletiva.” O professor Sérgio Bairon, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP), concorda: “O crowdfunding pressupõe uma preocupação coletiva em sua origem e desdobramento. Há uma questão ligada à noção de coletividade, como se o produtor do projeto fosse um sujeito coletivo, que propõe algo que vai significar muito para muitas pessoas”.

Outras alternativas

Mas nem todos os alunos de Audiovisual recorrem ao crowdfunding para financiar seus projetos de TCC. Dani Seabra, diretora do curta Serenata, foi financiada pela verba recebida do CTR e por dinheiro arrecadado em uma festa, além de contar com recursos próprios e parcerias com comércios. “Complementamos a verba com uma festa, apoios (por exemplo, de uma padaria que forneceu café da manhã de graça no set) e recursos próprios da equipe”, conta. Mariana Lopes, produtora que trabalhou com Dani na criação de Serenata, explica quais foram os gastos envolvidos no desenvolvimento do filme: “Recebemos R$ 4.600 do Departamento, mas esse dinheiro não foi suficiente para a produção do curta. O dinheiro foi utilizado para custear alimentação e transporte da equipe, aluguel de locação, produção de arte (cenários, objetos de cena etc), consumíveis e pagamento de terceiros (atriz e segurança). Ao todo, gastamos R$ 6.587,46″.

Apoio da USP

Embora, frequentemente, seja inviável realizar um filme como TCC contando apenas com o apoio financeiro da USP, o aluno Renato Duque destaca a existência de outros auxílios oferecidos pela instituição que foram essenciais para a viabilização de seu projeto: “A Universidade forneceu estúdio, equipamento para gravação do live-action (cenas com atores reais), além de oferecer os computadores para que trabalhássemos. Essas coisas todas, na “vida real”, tornariam o Oceano um projeto realmente dispendioso”. Já o professor Luiz Dantas, do CTR, acredita que o auxílio financeiro disponibilizado aos alunos já é suficiente: “O valor é correto, mais do que isso não seria necessário, nem desejável, porque os alunos também precisam se virar. E, como não é uma produção profissional, não faz o menor sentido a gente bancar. A escola é pública, oferece um auxílio. Muitas outras escolas nem oferecem isso. Acho que já está mais do que bom”. Esse modelo de arrecadação, segundo Sérgio Bairon, é voltado para o perfil universitário: “A melhor estratégia para o audiovisual na USP é buscar parcerias, com uma preocupação coletiva”.                  Confira as sinopses dos curtas clicando aqui

Por  Juliana MeresVinícius Andrade