Desculpem-nos o transtorno: Reformas alteram dinâmica do CEPE-USP

Em meio a atrasos em obras e licitações, o desafio é conciliar as atividades às reformas estruturais

(Foto: Leonardo Milano)
(Foto: Leonardo Milano)

Em um dia qualquer, já tendo o sol se despedido da Cidade Universitária, uma equipe de handebol feminino da USP se dirige para treinar no CEPE, o Centro de Práticas Esportivas da universidade. A descrição não causa, à primeira vista, estranheza, não fosse o fato de que o time não vai rumo a qualquer uma das quadras, mas, sim, ao desativado velódromo.

Tal cena é cada vez mais comum e será ainda mais frequente nos próximos meses. As reformas no principal centro de treinamento e sede da maioria das competições esportivas relacionadas às faculdades da capital, têm obrigado as atléticas a readequar seus horários e lidar com locais alternativos para a continuidade de suas programações.

Em maio de 2014, o módulo 3 foi interditado após o piso, ainda de madeira, ter cedido. Após grande período de espera, marcado por entraves em licitações e permeado pela burocracia que qualquer instituição pública é sujeita, as obras puderam ser anunciadas. Desde junho deste ano, os módulos 3 e 4, duas das cinco quadras poli-esportivas cobertas que compõem o CEPE-USP, entraram em reforma e estão com os pisos quase finalizados. Não se esperava, no entanto, que problemas de infraestrutura pudessem postergar ainda mais as obras.

Faz tempo que São Paulo não vê chuva, porém, ainda assim, era comum que se notasse o acúmulo de água nas quadras, que descia das goteiras nos telhados. Descobriram que o culpado era o sereno formado durante a noite. Pela manhã, com o sol, este começava a pingar, prejudicando o piso, justamente o alvo das reformas. As obras, então, foram paralisadas para que se estudasse uma solução para o problema. A realização de eventos neste último final de semana (15/08) no CEPE também contribuiu. O cheiro forte de cola impermeabilizante que precisava ser aplicada inviabilizaria as atividades.

As obras nas quadras cobertas, porém, não vão parar tão cedo. Após a reinauguração, os espaços terão de ser fechados novamente, já que a empresa responsável pela licitação assumirá o processo de reforma no começo de setembro (05/09). Isso aconteceu porque a licitação da troca dos telhados saiu durante o trabalho de restauração do piso, o que fará com que todos os módulos sejam paralisados durante mais um ano. A diretoria do CEPE se defende dizendo que as duas obras são serviços diferentes e teriam, portanto, duas licitações independentes. “Nós começamos a reforma do piso antes, porque não tínhamos certeza se o telhado ia sair ou não”, diz José Carlos Simon Farah, chefe técnico de divisão.

Aviso
Foto: Cesar Isoldi

Para João Francisco Vargas Meireles, diretor geral de esportes da LAAUSP (Liga Atlética Acadêmica da USP), a principal parte prejudicada vem sendo os eventos esportivos. “Nossa demanda é gigantesca. 21 atléticas treinam aqui, sem contar Medicina e São Francisco”, explica. “Isso afeta principalmente a questão de campeonatos. Eles precisam ser em uma quadra coberta, para se ter a garantia de um bom jogo. E o módulo garantia isso.” Estuda-se, segundo João Francisco, a utilização também do estádio da EACH, ainda a ser inaugurado. Os treinos dos times da USP Leste, ao menos, já teriam um local para acontecer, contribuindo para diminuir a demanda dos espaços remanescentes no campus Butantã.

Para lidar com a disponibilidade física restrita, as atléticas também tiveram de alterar sua programação de treinos. Segundo Giovanna Montevequi Trindade, diretora de modalidade do time de vôlei feminino da ECA, intensificou-se o tradicional rodízio de quadras, realizado entre as atléticas. “Muitos dos treinos que antes eram nos módulos agora tem que ser nas quadras externas. Em junho/julho a gente congelava à noite lá fora. É que tem muitos times querendo reserva ao mesmo tempo, então com essas reformas e o número reduzido de módulos, rola um ‘rodízio’.” Devido à demanda, não é sempre que o time consegue ficar com as quadras cobertas. Em média, dois dos três treinos semanais acabam por acontecer nas áreas externas. “Varia de mês para mês”, conta a estudante de relações públicas.

Segundo a diretoria do CEPE, a EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) pretende colaborar, cedendo alguns espaços para treinos e jogos. Além disso, as quadras externas terão que ser utilizadas, bem como a do Velódromo, que também conta com projetos de reforma. “Nós vamos ter um ano meio complicado, mas, por outro lado, vamos ter uns 20 anos mais tranquilos”, projeta Emílio Miranda, diretor do CEPE.

De acordo com Miranda, é difícil prever quando, de fato, as obras vão terminar. “É um ano a partir do início das obras”, explica. “Burocracia de licitação publica é certo, mas também atrapalha um pouco. Você tem que esperar, não tem jeito, e a gente fica sem prazo”, completa Farah.

A troca dos telhados vem para atender uma reclamação antiga dos usuários. Com os anos sem receber grandes reformas, ficando apenas por conta dos reparos de manutenção, as goteiras se tornaram um grande incômodo. Ambos os representantes da diretoria do CEPE reconhecem que será um período complicado, em que deve prevalecer o diálogo entre as atléticas e a administração. “Todo mundo está cedendo um pouquinho para todos saírem ganhando depois”, explicam.

João Francisco também defende que a chave para que se trabalhe da melhor forma possível com a nova realidade é que se chegue a um consenso quanto à relação de uso de espaço. “O maior número de usuários do CEPE é o de pessoas que vem para treinar pelas atléticas. Existe uma hierarquia de prioridades, primeiro os eventos, depois as atléticas. É começar a rediscutir essa questão. Ceder um pouco mais, da nossa parte e da parte deles”.

Por Guilherme Eler e Cesar Isoldi