”Polícia diferenciada para gente diferenciada”?!

A edição foi quente, equilibrada e o Jornal do Campus acertou ao colocar na capa o debate sobre a segurança na USP, um tema que chama a atenção público de dentro e de fora da universidade. É uma boa solução editorial misturar matérias relacionadas ao cotidiano da Universidade, como os drones na Praça do Relógio, os preços altos nas cantinas da USP Leste, a reinauguração da biblioteca da FFLCH, os crowdfundings que viabilizam os documentários dos alunos de comunicação, com as novas pesquisas nos departamentos, como os artigos sobre o acelerador de partículas do Instituto de Física e os carros sem motoristas da USP São Carlos. Esse balanço de assuntos revelam uma universidade viva, formada por pessoas reais, que estudam e pesquisam interagindo com o dia a dia e os problemas da cidade.

No caso da cobertura da segurança na USP, no entanto, havia espaço para uma abordagem mais crítica. Na entrevista que deu ao jornal, o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, justificou a necessidade de uma “equipe diferenciada” de policiais para lidar com uma “população diferenciada”. A afirmação infeliz merecia destaque, que provavelmente teria repercussão em outros veículos. Diante da postura violenta da polícia paulista nos bairros mais pobres, a frase chega a insultar. O que isso significa? Que para os bairros com maiores taxas de crime são mandados policiais menos preparados? A lógica não deveria ser inversa?

Creio que a discussão sobre a segurança no Campus não se esgota e merecerá novas matérias. A reportagem trouxe boas explicações e entrevistas. Mas existem questões importantes sobre as quais o Jornal do Campus pode ainda avançar: qual a taxa de crime na universidade e qual real a dimensão do problema quando comparado a outras regiões da cidade? Será que a suposta insegurança dos frequentadores do campus é real ou vem sendo mais explorada pela imprensa e pelas autoridades por que a USP é frequentada por “gente diferenciada”?

Bruno Paes Manso é jornalista, economista e doutor em Ciências Políticas pela USP. Trabalhou como repórter por dez anos no jornal O Estado de S. Paulo e já recebeu o Prêmio Vladimir Herzog. Hoje atua na Ponte Jornalismo, cobrindo temas de segurança pública, direitos humanos e justiça, além de fazer pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da USP.