Em plebiscito, instalação de catracas na FEA é reprovada por 91%

Estruturas das catracas foram colocadas na portaria principal da faculdade; alunos se revoltam e diretor defende acesso monitorado
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Catracas sendo instaladas na entrada da FEA, durante a Semana da Pátria. Foto: Jessica Bernardo

Após o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva no estacionamento da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA), em abril de 2011, um debate intenso sobre a instalação de catracas na unidade foi travado. Nessa última semana, um novo episódio foi adicionado à discussão, com a instalação das estruturas das catracas no saguão de entrada da faculdade sem a consulta prévia dos alunos. Em plebiscito realizado pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), 91% dos votantes se mostrou contra a medida.

Aqueles que frequentam a unidade foram surpreendidos ao descobrirem que a instalação das estruturas havia sido realizada durante a Semana da Pátria, período de recesso para os alunos da graduação. “Foi uma surpresa, um aluno que tirou uma foto e isso viralizou, foi assim que a gente ficou sabendo”, relata André Salamanca, do segundo ano de Administração.

Segundo informações do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), até então a Congregação da FEA, que reúne alunos, professores e corpo administrativo, havia determinado que as catracas não seriam instaladas até que houvesse novo diálogo com a comunidade. Rodrigo Toneto, atual presidente do CAVC, comenta: “Houve diálogo, um diálogo falso e mentiroso. Eu ia quase quinzenalmente na sala do Adalberto. Em todas as vezes perguntava sobre isso, e em todas as vezes ele garantiu que não seria instalado nada. Pior, as catracas foram compradas sem haver a menor comunicação ao corpo discente e discente.”

Em entrevista ao Jornal do Campus, o professor Adalberto Fischmann, diretor da unidade, ressaltou que a instalação das catracas ainda não foi realizada: “Qualquer pessoa entra e sai a qualquer momento”. Segundo ele, as catracas continuarão inoperantes até que seja realizada uma obra na parte de trás da faculdade, que permita o fechamento total do perímetro.

Fischmann alega que os pilares foram colocados apenas para proteger a instalação elétrica e lógica das futuras catracas contra infiltrações e outros possíveis problemas.  De acordo o diretor, o esvaziamento do prédio na Semana da Pátria era o momento ideal para testar o novo equipamento, além de se encaixar no prazo de instalação gratuita que foi oferecida pelo fornecedor.

Entre os dias 15 e 16 foi realizado um plebiscito entre os alunos da faculdade, no qual 91% dos votantes se disseram contrários à instalação de catracas na unidade e uma porcentagem ainda maior, de 97%, se declarou contra a forma como essa instalação ocorreu. “Em 2012, na última vez que foi feito o plebiscito, em torno de 78% eram contrários às catracas. Ou seja, em três anos o número subiu muito”, comenta Toneto. A participação, contudo, abrangeu pouco menos de um quarto da quantidade total de alunos da FEA (23%).

Por que catracas?

Desde o assassinato de Felipe Ramos de Paiva, a instalação de catracas surgiu como alternativa para combater a violência dentro da faculdade. A proposta atual da catracas, segundo a diretoria, é que os alunos e a comunidade feana em geral tenham livre acesso e que as demais pessoas tenham que se identificar na portaria do prédio, realizando um controle: “Nossa ideia é implementar um processo de monitoria, de acesso controlado. O que nós não queremos são pessoas que nada tem a ver conosco frequentando todos os ambientes da faculdade”, afirma Fischmann.

Entre os alunos contrários à medida, prevalece o argumento de que não há comprovação da eficiência das catracas para resolver o problema da segurança. Ainda que o acesso não seja proibido, o aluno Victor Cioban, do segundo ano de Economia, acrescenta: “Eu sou contra pelo aspecto visual que a catraca impõe, já representa uma barreira. Você tá passando pela rua e fica intimidado de entrar em um local que tem catraca”. Para uma aluna de Economia que não quis se identificar, o problema está também no custo desse processo: “Esse é um dinheiro público que poderia estar sendo investido na melhoria do nosso ensino”, comenta.

O diretor afirma que o custo da compra das catracas foi por volta de 100 mil reais. Toneto conta que a primeira vez que os estudantes tiveram acesso a qualquer orçamento foi na última reunião da Congregação, realizada na quarta-feira (16), e critica a tradicional falta de transparência por parte da administração da FEA, constatando apenas que a estimativa oficial do custo total das reformas realizadas na unidade, incluindo a instalação das catracas, é de 600 mil.

Se para Fischmann a maior dificuldade no momento é lidar com uma ala mais “ruidosa” que ainda não aceita o projeto – “O problema central é uma mudança de cultura, de comportamento”, afirma –, a luta do CAVC é, nas palavras de seu presidente, contra “o autoritarismo e irresponsabilidade administrativa do diretor, que, não só neste momento, mas ao longo de sua gestão tem se mostrado intransigente, direcionando suas ações para um FEA mais fechada e com desprezo pelos órgãos colegiados.”

Por Beatriz Quesada, Jessica Bernardo e Paula Mesquita