Falta de professores afeta alunos da FOFITO

O não oferecimento de disciplinas já resulta em turmas que não se graduarão no período ideal
Foto: Matheus Sacramento
Foto: Matheus Sacramento

Quem opta por estudar na Universidade de São Paulo busca ensino de qualidade e reconhecimento no mercado de trabalho, além das inúmeras vantagens que a USP proporciona aos alunos. A crise financeira da universidade, contudo, fomentou a partir de 2014 cortes de gastos em diversos setores, incluindo novas contratações. Para os alunos do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (FOFITO) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), isso gerou um empecilho na graduação: sem a contratação de docentes que substituam aqueles que estão se aposentando, muitos alunos não poderão se formar.

Mariana Lima, aluna do 4º ano de Terapia Ocupacional (TO), membro do Centro Acadêmico Arnaldo Vieira de Carvalho, do Conselho Universitário e da Congregação da FMUSP, afirma que o problema começou no fim de 2014, quando a professora Denise Dias Barros, responsável pela disciplina de Terapia Ocupacional Social, se aposentou. “Sem essa disciplina, os alunos dos atuais primeiro e segundo ano não se formam”, explica a aluna.

O atual corpo docente da Terapia Ocupacional da FOFITO é composto por muitos membros que estão prestes a se aposentar. “A professora Maria Inês Brunelo, também da Terapia Ocupacional, vai se aposentar no final do ano, e vamos ficar com mais uma disciplina sem docente”, aponta Regiane Nicolini, aluna do 2º ano de TO e integrante do Centro Acadêmico. “A FOFITO já não tem o número ideal de professores. As professoras daqui estão sobrecarregadas com as disciplinas que se dividem em teoria e prática, então elas não conseguiriam se reorganizar para dar a aula da Denise, e não vão conseguir também quando a Maria Inês Brunelo se aposentar”.

No início do ano, quando a professora Denise Dias Barros se aposentou, os alunos da FOFITO começaram a se organizar e fazer assembleias para discutir o que poderia ser feito. “A princípio, só iríamos aceitar um docente contratado em regime de de 40 horas semanais”, conta Mariana. No primeiro semestre, em reunião com o diretor da Faculdade de Medicina da USP José Otávio Costa AulerJr, foi dito que a universidade não estava contratando e que só era possível conseguir professores temporários, que cumprem apenas 12 horas semanais. “Mas ele garantiu que seriam contratados quantos professores temporários fossem necessários”.

Depois, no dia 10 de junho de 2014, houve uma reunião entre os alunos e o Vice Reitor da USP , Vahan Agopyan, e o Pró Reitor de Graduação, Antonio Carlos Hernandes. Ficou acertado verbalmente que a universidade contrataria dois temporários para cada docente aposentado. Seriam cinco professores no total, quatro para TO e um para o curso de Fonoaudiologia, que não precisaria de dois porque a disciplina sem professor tinha menor carga horária. Segundo as alunas entrevistadas, o corpo docente da FOFITO mandou um documento detalhado que deixava claro o que era necessário.

A resposta veio duas semanas depois. Seriam contratados três, não cinco docentes para a FOFITO inteira. “Um professor temporário, em regime de 12 horas semanais, teria que dar sozinho uma disciplina que deveria ter carga horária de 40 horas semanais. Isso é absurdo, porque só de aulas práticas deveríamos ter 7 horas por semana”, explica Mariana. O pedido havia sido recusado pela Comissão de Claro da USP, mas nenhuma justificativa foi dada aos alunos.

As alunas afirmam que um documento já está sendo produzido para pedir a reavaliação do caso. “A sensação que fica é que não somos prioridade nem para a Faculdade de Medicina nem para a universidade”, diz Mariana.

Professores Temporários

Na USP, os professores temporários, em regime de 12 horas, têm contrato de um ano, que pode ser renovado apenas uma vez. Depois de dois anos, é preciso abrir um novo edital para outra seleção. “O que temos na FOFITO é o vínculo aluno-professor, porque somos poucos alunos por sala. Isso facilita o aprendizado, as aulas práticas e o estágio obrigatório, que nasce a partir de uma parceria entre o docente e uma instituição de serviços. Com os professores temporários, esse vínculo entre o professor e a instituição terá que ser refeito todo ano, então não teremos estágios contínuos. Toda essa situação está fazendo a gente perder muito na formação”, explica Regiane Nicolini.

Foto: Paula Lepinski
Foto: Paula Lepinski
Clínica Escola

Outra das necessidades de alunos e docentes da FOFITO é uma clínica escola, local em que os três cursos do Departamento (Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional) trabalhariam juntos. A clínica serviria de espaço para ensino prático dos alunos, local de pesquisa para os professores e de atendimento para a população necessitada. “Essa clínica uniria o tripé da universidade, que é ensino, pesquisa e extensão”, diz Mariana. Atualmente, os alunos utilizam convênios firmados pelos professores com instituições de fora da universidade para estagiarem.

O curso de Fisioterapia foi particularmente afetado pela situação. Havia uma única clínica na qual eles podiam estagiar, e o local decidiu recentemente que irá contratar profissionais da área que substituirão todos os estagiários.

Além da clínica, principal reivindicação física da FOFITO, a unidade também precisa de piscina apropriada para aulas de hidroterapia, auditório e até mesmo um fogão, que falta no laboratório de TO. As aulas de hidroterapia do departamento, por exemplo, são realizadas dentro da sala de aula. Fica a cargo das professoras conseguirem piscinas emprestadas para realizar uma sessão prática.

Por Paula Lepinski