O maior problema da USP Leste: descaso

Primeira matéria da série sobre infraestrutura esportiva aborda os problemas da EACH
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Foto da fachada do ginásio da EACH tirada em junho mostra as obras ainda inacabadas e falta de previsão de abertura. (Foto: Laura Tosini)

O Centro de Estudos e Práticas de Atividade Física (CEPAF) – ginásio poliesportivo do campus da USP Leste – foi construído com o objetivo de suprir a demanda dos alunos por um local adequado a práticas esportivas. Inaugurado em 2009, o espaço permaneceu aberto para uso por menos de quatro anos, quando, em abril de 2012, foi interditado pela Diretoria da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). Apesar de reaberto parcialmente na semana passada, as obras não tem prazo para terminar e os estudantes não sabem quando poderão voltar a usufruir livremente do local.

Com a interdição do CEPAF, os estudantes sofreram com a falta completa de uma infraestrutura esportiva adequada. Além do ginásio, há outras duas quadras poliesportivas no campus, mas ambas estão localizadas no espaço interditado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) – orgão governamental que está responsável por realizar os estudos acerca do risco de contaminação do solo do campus. Há também um pequeno campo de futebol, que por falta de cuidados parece mais um terreno baldio. A solução encontrada pelos estudantes, para amenizar o problema, foi transformar o heliponto – que praticamente nunca foi utilizado – em quadra esportiva. Mas essa medida com certeza está longe de ser  uma  solução.

Segundo o responsável pela Assistência Técnica de Infraestrutura da EACH, Luciano Piccoli, após a entrega e utilização do ginásio, foram detectados alguns problemas de engenharia, de natureza estrutural, que colocavam em risco a construção e os ocupantes. No entanto, ele atenta para o fato de que não há relação entre a interdição do ginásio com as questões ambientais de contaminação do solo em 2012.

A falta de infraestutura prejudica não só aqueles que desejavam utilizar o espaço para praticar esportes no seu tempo livre, mas também estudantes que necessitam de instalações  esportivas adequadas para se graduarem, como é o caso dos alunos do curso de Educação Física e Saúde, oferecido pela EACH. “A falta do ginásio comprometeu muito a nossa formação, já que muitas aulas práticas tiveram que ser adaptadas e outras foram suspensas”, afirma Laura Tosini de Andrade Borges, que está no quarto ano do curso de Educação Física e Saúde. Laura completa dizendo que “o mais difícil é aceitar o pouco tempo que o ginásio ficou aberto, pois sua inauguração foi em 2009 e teve que ser interditado em menos de quatro  anos”.

Para complementar suas atividades, alunos e professores utilizam os espaços comuns do Campus, além de salas de aulas improvisadas que contam com alguns equipamentos didáticos. “As atividades têm sido realizadas em vários locais onde foi possível montar a estrutura necessária: o saguão dos Edifícios do Ciclo Básico (B3), o espaço em frente à entrada do edifício A2 e espaço aberto do edifício I1, onde foram instalados tatames e equipamentos de ginástica artística; a sala 112 do edifício I1 onde são realizadas as aulas de práticas corporais, como dança, pilates e ginástica; sala no térreo do bloco B2 onde foi instalado o Laboratório de Ciências da Atividade Física (LabCAF) para atividades de treinamento de força, aprendizagem motora e testes de avaliação física”, explica o coordenador do curso de Educação Física e Saúde, Prof. Dr. Marco Antonio Bettine de Almeida.

Maíra Siqueira de Souza, formada no curso de Educação Física e Saúde em 2012 e hoje professora de um programa de atividade física para idosos na EACH, diz que, atualmente, os alunos conseguem se formar, independentemente do ginásio, já que os professores adaptam suas aulas ao que eles têm e ao que é oferecido pelo curso. Porém, as perdas acadêmicas para os estudantes são inúmeras, principalmente quando se leva em conta o fato de que não há piscina e pista de atletismo no Campus da USP Leste.

Segundo o coordenador do curso, essas necessidades já serão discutidas no novo Plano Diretor da EACH que está em construção. Resta saber quanto tempo levará para o projeto sair do papel.

Não há lugar para o esporte universitário

Que as autoridades uspianas não dão muita atenção para o esporte universitário não é novidade para ninguém. Mas o caso da USP Leste é mais preocupante: simplesmente não há, atualmente, um espaço adequado para a prática esportiva.

A inauguração do ginásio poliesportivo em 2009 representou uma boa notícia não só para os estudantes, mas também para toda a comunidade local, já que diversas atividades de extensão são realizadas no campus. Para a Atlética da EACH, então, foi um grande passo em direção à adesão dos alunos aos esportes universitários. O problema é que o espaço foi interditado em 2012 e permaneceu fechado até recentemente, quando foi reaberto para algumas atividades específicas.

Atualmente, os times da EACH são obrigados a treinar em locais alternativos. Segundo Giovanna Capelari, presidente da Atlética da instituição, a “estrutura é extremamente precária. Os atletas muitas vezes tem que treinar fora do Campus, aumentando os gastos com locação de espaços minimamente decentes para um bom treino. Não há estrutura para natação, atletismo e os treinos de tênis de mesa e lutas são feitos em espaços improvisados nos vãos de alguns prédios. Isso impacta diretamente na adesão dos alunos à prática esportiva na Universidade.”

O ginásio já está em processo de reabertura, mas só isso não será suficiente para atender a demanda dos alunos e da comunidade local, já que ainda faltam investimentos em estruturas essenciais, como a construção de uma piscina e de uma pista de atletismo. O responsável pela Assistência Técnica de Infraestrutura da EACH, Luciano Piccoli, afirma que “faz parte das demandas da EACH a construção de uma piscina e ampliação das instalações esportivas.”. Mas lembra que “atualmente estão suspensas todas as obras e não há condições para aprovação de solicitações desta natureza, devido às questões financeiras que a Universidade está passando”.

A infraestrutura dos campi da USP são de responsabilidade da Superintendência de espaço Físico (SEF), que não quis se pronunciar sobre as obras no campus da USP Leste.

Além do ginásio, há outras duas quadras poli esportivas no campus interditadas por conta do risco de contaminação do solo. Segundo a diretoria da EACH, a Cetesb não estipulou um prazo para concluir os estudos que estão em andamento. Dessa forma, não se sabe quando as duas quadras interditadas serão reabertas. O Jornal do Campus entrou em contato com a Cetesb, mas não obteve resposta.

Na opinião de Giovanna, “a demanda de novos problemas que a EACH enfrentou nos últimos anos fizeram com que o ginásio fosse deixado em segundo plano. As autoridades não dão e nunca vão dar a atenção que a EACH merece, não só com a parte esportiva”. Ela acrescenta dizendo que “é inadmissível o governo se omitir e postergar soluções para alguns problemas que eles causaram. O esporte universitário é tratado com desleixo e a atenção às atléticas é precária. Nós sabemos os limitadores, mas nem o mínimo é feito”.

O responsável pela Seção de Práticas Esportivas da EACH, Charles Augusto, rebate dizendo que “não houve descaso dos funcionários quanto às comunicações acerca da obra. Nos diversos Colegiados da EACH, nas reuniões temáticas, em e-mails encaminhados pela Diretoria e na página da EACH, houve e há informações sobre as obras; além disso, professores e alunos do curso de Educação Física e Saúde tiveram a oportunidade de visitar as obras e conversar com os engenheiros envolvidos”.

Enquanto isso, os problemas continuam sem prazo para serem solucionados. Mesmo que o ginásio já tenha sido parcialmente reaberto, não há previsão quanto a  liberação integral do espaço para utilização.

Quem sofre são os alunos.

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Por falta de cuidados, este campo localizado na USP Leste parece mais um terreno baldio (Foto: Leonardo Milano)
Os desafios da infraestrutura esportiva na USP

Se já é difícil estudar na Cidade Universitária e treinar no CEPEUSP imagine estudar em um dos campi da USP que não possui infraestrutura esportiva. Essa é a realidade de muitos estudantes da universidade dita a “melhor do Brasil”, como os que estudam na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) ou na Faculdade de Direito. Esse problema acomete também os estudantes dos cursos da Faculdade de Saúde Pública, da Faculdade de Enfermagem e da Fofito, que não podem usufruir do clube da Faculdade de Medicina. Foi pensando nisso, que a equipe do Jornal do Campus decidiu fazer uma série de reportagens para denunciar o descaso das autoridades com a prática de esportes na USP. Nosso objetivo é chamar atenção para um tema que é pouco discutido na universidade.

O JC fará uma série de quatro reportagens. A primeira, publicada já nesta edição, trata da falta de infraestrutura esportiva do Campus da USP Leste, o que prejudica, inclusive, a graduação dos alunos do curso de Educação Física e Saúde, oferecido pela Escola de Artes e Ciências Humanas, a EACH. Na próxima edição trataremos da questão do Campo do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito, que contraiu uma dívida milionária com a prefeitura ao longo de anos e da perspectiva dos alunos da Sanfran quanto a esse tema. Na terceira reportagem da série, falaremos sobre o clube da Faculdade de Medicina, e discutiremos a sua utilização, considerando o fato de que apenas os alunos da medicina podem usar o espaço livremente. Por fim, será debatida a infraestrutura do próprio CEPEUSP, que como todos sabem, carece de melhorias.

Convidamos toda a comunidade uspiana para refletir acerca das dificuldades que muitos alunos enfrentam ao decidirem praticar esportes pela sua faculdade.

Por Giovanna Chencci, Leonardo Milano e Hailton Biri