Um novo destino às garrafas de vidro

Solução sustentável e de baixo custo para confecção de recipientes, trabalho de estudante de engenharia da USP São Carlos busca apoio para melhorias funcionais e produção em larga escala

Na procura por uma alternativa para adquirir renda extra, um estudante da USP desenvolveu um método inovador para a reutilização de garrafas de vidro. O projeto “EcoCups”, idealizado por Rubens Henrique de Carvalho Maria, que cursa o segundo semestre de engenharia mecatrônica na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), busca agora patrocínio para otimização e aplicação em larga escala. Por seu baixo custo e manuseio facilitado, pode ser alternativa para cooperativas que trabalham com a seleção, reutilização e reciclagem de materiais vítreos.

A técnica de produção de copos a partir de garrafas de cerveja é bastante famosa na internet. No YouTube, muitos vídeos ensinam a confeccioná-los com apenas um barbante, somado ao aquecimento localizado do vidro e posterior imersão em água. A elevação da temperatura e o súbito resfriamento da área em que a linha fica em contato com a garrafa, promove um “estouro controlado” do material, possibilitando que se dê forma aos recipientes. Rubens se inspirou no método para a criação de um dispositivo que padronizasse o processo, trazendo maior qualidade e apelo comercial ao produto final.

A renda obtida com a venda dos copos ecológicos servirá para manutenção e expansão do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução Ecocups)
A renda obtida com a venda dos copos ecológicos servirá para manutenção e expansão do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução Ecocups)

Buscando a orientação do professor Eduardo Bellini Ferreira, especialista em vidros do Departamento de Engenharia de Materiais da EESC, Rubens chegou ao atual protótipo, que consiste em duas resistências elétricas de chuveiro e dois tijolos refratários de churrasqueira. Posicionadas de maneira a formar um canal entre os tijolos, as resistências são aquecidas e, tamanha a temperatura a que são elevadas, adquirem aspecto de “laser”. Girando a garrafa em cima desse feixe de luz, faz-se um corte bem plano nos objetos, dando assim origem aos copos, posteriormente polidos para que adquiram um melhor acabamento.

O estudante mantém uma parceria com a cooperativa Coopervida, de São Carlos, da qual compra as garrafas que utiliza. Com o vidro custando de 25 a 28 centavos o quilograma – cada garrafa pesa de 200g a 300g -, o retorno financeiro é bastante significativo. “Para produzir uma unidade gasto cerca de 20 centavos, sem contar a mão de obra. Posso vender cada copo a dois, ou até três reais”, calcula.

A reutilização e reciclagem de garrafas de vidro é uma das principais atividades de reaproveitamento de material no Brasil. Segundo dados de 2011 da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro), 47% do total de garrafas produzidas no Brasil eram recicladas. Por serem feitas essencialmente de minerais, ao serem trituradas, estas podem adquirir formas diversas. Além da economia na extração de recursos naturais, poupa-se também energia e reduz-se a quantidade de CO2 emitida no processo de fabricação de novos materiais.

Porém, apesar dos notórios benefícios ambientais, atividades de reciclagem e reutilização ainda costumam ser bastante banalizadas, delegadas à pessoas com situação financeira desfavorável, normalmente também desprovidas de métodos que viabilizem tais processos.

“É de conhecimento das indústrias fabricantes de vidro que o material reciclado representa uma grande economia de energia e, portanto, menores custos de produção. Não reciclar uma garrafa hoje em dia é como jogar algumas moedas com ela no lixo” , comenta Bellini.

A deficiência nos processos de coleta, classificação, limpeza e distribuição, no entanto, é responsável por impedir que iniciativas que visam minimizar o impacto ambiental do vidro sejam adotadas em larga escala. As garrafas precisam chegar às indústrias limpas e separadas, o que dificulta que o processo seja realizado de forma econômica fora dos grandes centros produtores. Nesse cenário, projetos como o “EcoCups” têm sua importância dinamizada, por concentrar e simplificar os processos citados.

Concorrendo com 240 trabalhos, o EcoCups ficou entre os finalistas do concurso da 3M. (Foto: Reprodução Facebook 3M do Brasil)
Concorrendo com 240 trabalhos, o EcoCups ficou entre os finalistas do concurso da 3M. (Foto: Reprodução Facebook 3M do Brasil)

A versão atual da máquina de corte ainda possui caráter bastante artesanal, o que depreende do operador habilidade e controle para a realização do traçado no material e não permite que um usuário menos especializado a opere normalmente. A ideia, no entanto, é automatizar o processo, viabilizando o corte em série das garrafas.

Para tal, o estudante está montando uma equipe e criou uma campanha de crowdfunding para buscar apoio financeiro e seguir com o projeto. Finalista do Prêmio Instituto 3M para Estudantes Universitários, o “EcoCups” também está inscrito em outros concursos que dão espaço para a apresentação de ideias empreendedoras, como o promovido por empresas como a Odebrecht e Santander, que serão realizados no mês de agosto. A oportunidade de mostrar sua ideia, o que já pesquisou e desenvolveu, de acordo com Rubens, pode trazer maior visibilidade à iniciativa e possibilitar sua expansão.

Para o professor Bellini, ideias como a de Rubens possuem também potencial de contribuição científica, e deveriam ser mais incentivadas. O conhecimento adquirido na graduação, somado à confiança de que, se bem estruturada, uma ideia é capaz de gerar um negócio rentável, pode trazer soluções desde o ambiente acadêmico. “Esse espírito empreendedor deve ser cada vez mais reconhecido e estimulado em nossas escolas. Por exemplo, no desenvolvimento de projetos científicos nas universidades muitos equipamentos importados são na verdade simples e poderiam ser fabricados no país, mas não encontram similar nacional, ou, quando há, não alcançam qualidade suficiente”, explica.

(Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução Ecocups)
(Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução Ecocups)

Por Guilherme Eler