Estrangeiros se queixam de acolhimento

Carência de orientações e integração são reclamações comuns de alunos que cursam graduação e Pós
Arte: Barbara Monfrinato
Arte: Barbara Monfrinato

Em uma época em que almeja se internacionalizar, a USP apresenta falhas em um ponto crítico: o amparo a alunos conveniados e intercambistas. É o que comentam os estrangeiros que estudam na USP. “Não tem uma política de integração”, diz Egas, estudante de Guiné-Bissau que cursa Relações Internacionais. Ele afirma que deveria existir uma reunião para que os estrangeiros falassem de suas dificuldades, o que eles acabam fazendo por conta própria. Egas aponta ainda como as diferenças do ensino e da avaliação foram difíceis para ele, que demorou a se adaptar. “Muitas das vezes, isso [diferença de ensino] não é ponderado, mas deveria haver mais compreensão. Alguns ficam frustrados e vão embora, não acabam a graduação”.

O convênio de graduação PEC-G é um programa do Ministério da Educação para que estrangeiros cursem o Ensino Superior no Brasil. Já o intercâmbio é uma atividade temporária.

Para o angolano Edmilson, que era aluno de Geologia e se transferiu para Relações Internacionais, a USP não recebe bem os estrangeiros. “Acho que falta bastante, eles não nos acolhem do jeito que a gente esperava”, comenta. Edmilson, que afirma já ter feito alguns trabalhos em grupo sozinho por conta do distanciamento dos colegas, diz que deveria haver orientações melhores quanto à documentação. Ele revela que deseja se formar e retornar para Angola, sem pretensão de permanecer no Brasil. Já Silviane, primeiranista de Nutrição que vem de Cabo Verde, diz que a relação com colegas e professores é boa, apesar de dificuldades de integração no começo. Ela afirma que somente após seis meses a SAS (Superintendência de Assistência Social) entrou em contato com ela, que desconhecia os auxílios estudantis. Silviane poderá concorrer a uma vaga no CRUSP apenas em 2016.

Dante, peruano que cursa o doutorado em Engenharia Elétrica, também reclama dos trâmites, quesito que, para ele, piorou nos últimos anos. “[O serviço] poderia melhorar, contratando pessoas especializadas”, opina. Ele diz que a relação com os colegas, porém, sempre foi boa. Carmen, doutoranda em Biociências que também é do Peru, fala que a USP poderia orientar melhor os estrangeiros e lembra que um acordo firmado no Mercosul em 2011 permite que peruanos estudem e exerçam atividade remunerada no Brasil. Os dois podem trabalhar somente em áreas relacionadas à pesquisa que desenvolvem.

Dieng Mamadou, senegalês e doutorando em Contabilidade, aponta que o acolhimento por conterrâneos é comum e pode ser a principal forma de integração. “Se eu souber que um senegalês vai chegar, a gente vai acompanhar na Polícia Federal, fazer o visto”, diz. Há quase 18 anos no Brasil, Mamadou veio à USP em 2012 para o doutorado. Ele, que é aluno regular, diz que teve dificuldades ao chegar no país.

Outra queixa é a barreira da língua. Mesmo quem vem de países lusófonos reclama da intolerância da sua variante linguística por parte dos professores, inclusive com descontos na nota. “A gente escreve ‘baptista’, ‘acção’, ‘objecto’… É um choque estar chegando de um país em que se escreve de uma maneira e aqui ter de escrever de outra”, diz Edmilson.

Outro Lado

“A gente não tem verba, não tem pessoal e não tem estrutura”, diz Thaise Desirree, do CRInt (Comissão de Relações Internacionais) da ECA, sobre a organização de atividades de integração. Cada Unidade tem um procedimento próprio para lidar com os a estrangeiros. “O pessoal da Aucani [Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional] dá o suporte necessário em termos individuais, mas reunião e integração eles não fazem”, afirma Thaise. Segundo ela, os alunos PEC-G não recebem tratamento diferente dos brasileiros. Os problemas dos estudantes conveniados são inclusive tratados pela Graduação e não pelo CRInt.

Procurada, pela reportagem, a Aucani não se pronunciou pela ausência de seu porta-voz