JC pode ser canal para cobrar de Zago gestão transparente

A entrevista feita pelo Jornal do Campus com o reitor da USP, Marco Antonio Zago, foi um passo importante no sentido de cobrar transparência e prestação de contas da reitoria aos alunos, professores e funcionários. Essa é uma missão fundamental do jornalismo, que ganha relevância em tempos de crise.

Nas últimas eleições para reitor da USP, os números da crise financeira da Universidade só vieram à tona depois que os candidatos passaram a debater nos grandes jornais da cidade. Esse tipo de susto não pode voltar a acontecer e cabe à cobertura feita pelos estudantes ficar sempre atenta.

A entrevista tratou de uma ampla gama de assuntos, passando pelas cotas, polícia militar no Campus, questões de gênero na USP e a proibição das festas. Todas questões são urgentes. Mas não se pode perder de vista a gravidade da crise financeira e seus desdobramentos cotidianos. Trata-se de um problema estrutural, do qual depende o futuro da USP.

Qual o caminho está sendo trilhado? A solução já foi definida? Quais são as linhas mestras? Na entrevista, Zago disse como os salários dos docentes, que representavam 45% do total, passaram a representar hoje fatia de 32% do orçamento. É uma proporção descabida? Ou será que os números do reitor buscam somente jogar o peso da crise sobre o ombro dos funcionários? O congelamento na contratação de professores se justifica ou está afetando a qualidade das aulas?

As portas foram abertas com a entrevista. A reitoria da USP costuma ser conhecida pela dificuldade em dialogar com a comunidade universitária. O JC pode ser esse canal. Sem nunca perder a independência e o senso crítico.

Bruno Paes Manso é jornalista, economista e doutor em Ciências Políticas pela USP. Trabalhou como repórter por dez anos no jornal O Estado de S. Paulo e já recebeu o Prêmio Vladimir Herzog. Hoje atua na Ponte Jornalismo, cobrindo temas de segurança pública, direitos humanos e justiça, além de fazer pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da USP.