O Circo chegou à Cidade Universitária

O coletivo Circursp surge para reunir as pesquisas acadêmicas de circo e ampliar a arte circense no espaço acadêmico
Arte: Lucas Fontana
Arte: Lucas Fontana

Atenção, respeitável público, o circo chegou! Ao longo deste mês de outubro, o campus Butantã será palco de uma extensa programação que valoriza a arte circense e que foi proposta pelo Circusp, recente coletivo que integra pesquisadores e alunos das várias unidades da USP. Com apresentações, amostras de cinema, discussões e oficinas, é hora de abrir as cortinas e prestigiar, o espetáculo está só começando.

O circo na Educação

O Circusp é um coletivo recente que se ramificou do antigo Infesta, série de eventos originados na Faculdade de Educação (FE-USP) que prestigiavam a arte do circo e do hip hop e que foram idealizados pelos pedagogos Marco Guerra e Thiago Batista, em 2011. Com 6 membros no núcleo de produção e mais de 30 colaboradores, o grupo objetiva unir as produções e pesquisas acadêmicas relacionadas à arte circense ao passo que desenvolve projetos de extensão para que o circo entre na Universidade. “A gente busca também se envolver na produção de artigos e na área mais acadêmica, mas a extensão é o grande foco, porque o circo é muito ‘da prática’, ‘do fazer’”, comenta o estudante de Educomunicação e colaborador do coletivo Narayan Barreira.

Além da parte acadêmica que reúne as pesquisas, o grupo deseja expandir seu alcance e se alojar na Faculdade de Educação, oferecendo aulas e atividades de circo que componham disciplinas optativas livres, tanto para alunos como ouvintes de fora da universidade. Por ser um grupo de pesquisa inter-unidades, o Circusp aspira envolver vários participantes em seu projeto.­­

Programação

A parceria entre os pedagogos na elaboração do antigo Infesta e a pesquisa de mestrado de Guerra na área da ‘pedagogia do palhaço’ manifestaram o interesse na criação de um novo projeto artístico. “Nesse ano, nós pensamos em criar um seminário sobre circo, com palestras e projetos de filme. Decidimos, então, propor ao Cinusp uma amostra de circo no cinema”, comenta Batista. Contudo, não se esperava um acolhimento e colaboração tão significativos: a amostra ‘O Circo Chegou’, exibida no Cinusp, contará com 14 produções audiovisuais com a temática circense.

Além disso, dia 17 de outubro, o grupo integrará a Virada Científica, na Praça do Relógio, com grande programação de atividades e oficinas, além da presença de vários artistas circenses no que será chamado de Encontro dos Encontros (reunião de grupos circenses de São Paulo no espaço universitário).

No final do mês de outubro, a proposta mais acadêmica ocorrerá na Faculdade de Educação. Serão mesas, discussões e palestras acerca de temas relevantes para pensar sobre o circo na universidade e como proposta educativa. Alguns dos convidados são professores da Unesp e da Unicamp que pesquisam sobre a arte do circo e contarão as experiências que tiveram em seus espaços universitários para que sejam pensados e apresentados os dados de como a USP se situa nesse quesito. “Teremos a participação de pessoas que praticam o circo e organizam eventos para trocarmos informações, treinar, aprender”, explica Lúcio Maia, colaborador e artista circense.

Finalmente, para celebrar toda a produção do mês, artistas apresentarão uma festa espetáculo com bandas e instrumentos na Prainha, da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).

Panorama nacional

A primeira escola circense que surgiu em território nacional foi a Piolin, no ano de 1977, em São Paulo. Atualmente, é incerto o número de escolas e instituições de formação de artistas circenses em território nacional. “Temos poucos levantamentos realizados e grande parte se mostra insuficiente e desatualizada. O Circo Conteúdo, principal site no setor de circo, contabiliza 56 instituições. Porém, fazendo um rápido levantamento pela internet, temos mais de 100 estabelecimentos”, comenta Rodrigo Mallet Duprat, doutor pela Unicamp que investigou a formação do artista de circo no Brasil e no estrangeiro.

Ademais a insuficiência dos dados, a única instituição de circo reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação) e mantida pelo Ministério da Cultura é a Escola Nacional de Circo, criada em 1982, no Rio de Janeiro. A Escola forma técnicos em circo gratuitamente em um período de 4 anos de curso, e suas vagas são definidas através de concurso público. Todavia, não existem cursos superiores que tenham o circo como principal linha de raciocínio, o que leva muitos artistas a buscarem outras áreas do conhecimento para pesquisarem o circo, como é o caso dos integrantes do Circusp. Duprat contesta a atual situação: “acredito que na Universidade o artista estará dentro do circo, estudando o circo, recebendo conhecimentos e técnicas da arte do circo. Ele estará estudando de dentro pra fora”.

Nesse sentido, devem ser apresentadas as diversas possibilidades de formação para o artista decidir qual irá seguir. Ter um nível superior abre portas para algumas coisas e dá reconhecimento de formação perante o MEC, contudo, para a classe artística o que torna um artista bom é sua presença em cena, sua estética, trabalho técnico”, conta o pesquisador.

Comparado a outras escolas mundiais, os cursos circenses nacionais diferem – além do reconhecimento pelos respectivos Ministérios da Educação de cada país-, em ausência de investimentos financeiros, níveis de infraestrutura e em insuficiência de escolas de formação profissionalizante.

Para o futuro

Tendo em vista o panorama nacional, o Circusp surge para trazer o debate do espaço do circo na Universidade de São Paulo. Cada um dos 6 integrantes traz sua contribuição acadêmica e vivências próprias para enriquecer o conteúdo do grupo. Por ser interdisciplinar, ele é aberto a todos que queiram contribuir, além de acreditar na pluralidade que cada integrante pode oferecer. “Toda a Universidade pode contribuir para esse projeto. Tudo o que precisamos está aqui, a estrutura está aqui. Queremos envolver a Universidade inteira e unir várias áreas, porque o circo é geral, é de todos”, explica Lúcio Maia.

A entrada do circo no ambiente universitário engrandece o valor cultural dessa arte. A academia oferece um espaço de discussão e estudos amplos que não são possíveis em outros locais. “Temos amigos que vão fazer curso superior de circo nas universidade europeias, e, aqui no Brasil, agora é que está se falando nisso, do circo dentro de processos educativos, como ferramenta do educador e como algo transformador”, comenta Narayan Barreira.

Conheça algumas atividades circenses na USP

Lab_Arte: Laboratório experimental de arte, educação e cultura localizado na FE-USP. Foi criado por iniciativa de alunos do curso de pedagogia para oferecer atividades a partir de experimentações e vivências nas várias linguagens artísticas. 
Não é necessária inscrição prévia e é aberto para pessoas de fora da universidade. Onde fica: Auditório Helenir Suano – sala 130 – bloco B – FE-USP. Neste semestre, as atividades circenses ocorrem às quartas-feiras, das 18h às 19h30.

Aprender com o Circo: Grupo de práticas de arte circense que ocorre todas às segundas-feiras das 11h30 às 13h, no ginásio do Salão D, na Faculdade de Educação Física e Esporte (EEFE-USP). Não é necessária inscrição prévia e é aberto para pessoas de fora da universidade.

Por Vitória Batistoti