Quem são os alunos com deficiência?

Marina Santos, Sheila Santana e Fábio Borges relatam sua experência na USP, desde o ingresso por meio do vestibular da Fuvest até as dificuldades encontradas na graduação
Foto: Giovanna Bellini
Foto: Giovanna Bellini
“O que falta é justamente a universidade divulgar que ela está preparada para ouvir o aluno e para realizar a mudança que precisa ser feita para ele conseguir estar inserido na USP.”

Assim pensa Marina Santos, aluna de 26 anos do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Biociências (IB) da USP. Ela possui uma doença neurodegenerativa e progressiva que afeta a sua coordenação e a sua fala. Marina conta que a sua primeira preocupação em relação à acessibilidade à universidade foi no momento de realizar o vestibular. “Naquele tempo eu não usava cadeira de rodas, mas tinha dificuldade para escrever e andar. Tinha preocupação se o lugar que iria fazer a prova era acessível”, conta ela. No ato da inscrição na Fuvest, declarou precisar de uma sala com bom acesso e, como também possui dificuldade para escrever, obteve o direito de uma hora a mais para realizar a prova.

Do laboratório às sala de aula do curso de Biologia, Marina não consegue ir sozinha. “Eu entrei em 2010. Quando entrei, até tinha elevador na Biologia, mas quebrou em 2012. Desde então eu não acesso a biblioteca nem o ‘xerox’ sem precisar da ajuda de alguém. Sempre acabo precisando da boa vontade dos funcionários, professores e alunos.”

Aos finais de semana, para ir ao mercado, sair com os amigos ou visitar a família – que mora em Guarulhos – Marina vai de ônibus. “O ônibus em si não é o problema, mas sim chegar a ele. Só com a ajuda de colegas, que precisam me levantar para subir a guia.”

Apesar da falta de acessibilidade, ela conta que a USP Legal tem um carro dentro da universidade que é de uso exclusivo das pessoas com deficiência de locomoção dentro do campus. “Não é o melhor carro, não está nas melhores condições, mas ele existe” relata Marina, e “tem a boa vontade dos motoristas também”, completa.

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Foto: Giovanna Bellini
“À medida que fui ficando cego, o computador veio cada vez mais como uma ferramenta que se adapta à minha deficiência visual.”

Fábio Borges namora Sheila há dez anos. Quando a conheceu, não era totalmente cego, mas o tempo lhe tirou o restante da visão. Um fone de ouvido e um software sintetizador de voz movido por leitor de tela são as ferramentas que Fábio utiliza para ler. Ele, que não se adaptou muito bem ao braile, tem na tecnologia uma forma de acessibilidade muito grande. O computador ganhou tanto espaço em sua vida que substituiu sua graduação em Matemática no IME por um curso técnico de informática.  Apesar de ter trancado o curso de Matemática, ele também é funcionário da USP e, para se locomover dentro do câmpus, utiliza o serviço da USP Legal.

Sua relação com a USP começou antes mesmo da graduação: fez curso preparatório para vestibular no Instituto de Psicologia (IP). Na prova da Fuvest, teve o auxílio necessário para realizar a prova: “como ainda enxergava um pouco, recebi uma prova ampliada (texto e figuras) e tive uma pessoa que leu a prova junto comigo”, explica.

Já na graduação em Matemática, considera que a dificuldade e a facilidade que enfrentava eram similares às de colegas do Instituto: “talvez um pouco pior por causa da minha deficiência, mas bem parecida à de outros colegas sem deficiência com dificuldade na matéria”. Com a perda mais severa da visão, a dificuldade com os textos matemáticos aumentou.  

Fábio explica que “a organização da linguagem matemática, se assemelha a uma figura e fica difícil do leitor de tela fazer a leitura”.

“A princípio, eu fico chateada, mas depois eu respiro e penso que tenho sim uma deficiência e eu vou ter que conviver com ela; afinal, é o que eu sou.”

Aos 32 anos, Sheila Santana conta que a idade a ensinou a superar as situações de preconceito. Ela nasceu com uma doença genética que causa  perda progressiva da visão, e no estágio atual, necessita do auxílio de uma telelupa para ampliar imagens e textos.  

Ingressou na graduação em Matemática no Instituto de Matemática e Estatística da USP, mas precisou trancá-la. Sheila faz questão de ressaltar que não interrompeu o curso por causa da deficiência: “acabei trancando por problemas familiares, mas pretendo retornar no período estipulado para me formar”.

Há cinco anos trabalha na biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da USP, no setor de atendimento. “Já atendi algumas pessoas com baixa visão com dificuldade para encontrar livros. Uma pessoa inclusive não conhecia os recursos que uso para melhorar a visão e acabou descobrindo a possibilidade de usar a lupa”.

Sobre a sua relação com a instituição, Sheila afirma que “a USP auxiliou quando precisei morar no CRUSP, tive ajuda com moradia e alimentação”. Entretanto, em relação à inclusão, considera que “não existe muito aqui dentro da USP”. Fala isso com base nas experiências de seu namorado, Fábio, que é totalmente cego.

Por Igor Truz e Giovanna Bellini