Centro Escola do IP: sem a menor condição para atender

Problemas no Centro Escola do Instituto de Psicologia revelam descuido da administração

Nos últimos meses, uma série de problemas no Centro Escola de Atendimento Psicológico do Instituto de Psicologia (CEIP) evidenciou certa negligência por parte da administração do Instituto. Sob risco de queda, o telhado do CEIP entrou em manutenção dois meses atrás, mas por falta de planejamento da empresa terceirizada contratada e por desmazelo do Conselho Técnico Administrativo (CTA) do Instituto, duas alas estão ainda hoje interditadas após a água da chuva alagar os espaços e causar o emboloramento de forros e paredes.

Falta de planejamento

O CEIP é a única clínica de atendimento psicológico que presta serviços gratuitos à comunidade Butantã, além de ser uma área para ensino e pesquisa do Instituto de Psicologia (IP). Oficializado pela Universidade no início de 2015 como uma atividade de Extensão, o CEIP precisava há muitos anos de reformas em seu telhado. “O CTA só priorizou o assunto quando o teto já estava sob risco de cair”, conta Carla Moura Queiroz, aluna do 6º ano de Psicologia e integrante do Centro Acadêmico Iara Iavelberg. Na gestão da reitoria atual, a Superintendência do Espaço Físico junto com o Instituto de Psicologia montou um projeto de reforma e abriu uma licitação para contratar uma empresa capaz de realizar o serviço.

Telhas do Centro Escola do IP tiveram de ser retiradas por estado de grande deterioração (Foto: Paula Lepinski)
Telhas do Centro Escola do IP tiveram de ser retiradas por estado de grande deterioração (Foto: Paula Lepinski)

Um servidor da USP, que preferiu não se identificar por temer possíveis represálias, conta que faltavam 15 dias para as telhas novas serem entregues quando a empresa contratada, Serralharia Cruz de Malta, retirou todas as telhas de uma ala de atendimento no 2º andar do prédio. “No mesmo dia choveu e a água, contaminada com fezes de ratos e pombas que viviam no telhado, foi tomando todas as salas. O pessoal do Serviços Gerais tentou proteger com um plástico, mas não funcionou ”. Isso causou o emboloramento de paredes e forros, que ainda continuam neste estado. Ainda segundo o servidor, duas semanas depois do ocorrido, os funcionários da empresa terceirizada, já em posse das telhas novas, recolocaram as telhas no primeiro setor e passaram para a ala seguinte, destinada à Psicologia Experimental. “O Instituto sabia, a administração sabia, de novo abriram o telhado e de novo choveu. Inundou totalmente a área”, conta. Na ocasião, engenheiros tiveram que fazer furos no prédio para que a água escoasse, e alguns equipamentos foram levados para outras salas. Mesmo assim, muitos foram danificados e vários materiais foram perdidos, desde eletrodos até fichas preenchidas usadas em pesquisa. Segundo integrantes do Centro Acadêmico, os laboratórios tem muitos materiais e equipamentos  dos professores responsáveis e doados por instituições como a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). “Do Instituto mesmo, são móveis e materiais básicos para funcionamento. O restante o IP não tem a tradição de arcar com os custos, além de não ter verba”, explica Carla.

Descarte inapropriado

As telhas retiradas do CEIP eram feitas de amianto, fibra mineral cujo uso foi proibido em São Paulo pela lei nº 12.684, que entrou em vigor em 2007. Caso seja inalada ou ingerida, a fibra pode causar problemas de saúde, como câncer de pulmão, por isso a recomendação é de que o amianto seja descartado juntamente com resíduos tóxicos, em aterros especializados. No caso das telhas do CEIP, elas foram dispostas ao lado do prédio, sem que a empresa terceirizada tomasse providências para o descarte apropriado. A situação ainda teve outro agravante: “Uma pessoa passou pelo Instituto e pediu as telhas, e o funcionário responsável naquele momento disse que tudo bem”, aponta Denise Harumi, aluna do 4º ano de Psicologia e integrante do Centro Acadêmico. “Um dia, uma funcionária da prefeitura viu aquilo e tentou falar com a administração, mas esta não fez nada”, conta o servidor da USP. O Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) foi acionado e encontrou, além das telhas de amianto, funcionários trabalhando sem tomar as devidas precauções com o manuseio da fibra (algo previsto na lei citada), sem equipamento de segurança e sem carteira de trabalho assinada. A obra foi então interditada até que a situação fosse regularizada.

Água escorre do Centro Escola da Psicologia (Foto: Paula Lepinski)
Água escorre do Centro Escola da Psicologia (Foto: Paula Lepinski)
Paralisação

O SESMT orientou também que fosse feita a higienização com cloro nas salas com mofo. Só então poderia ser analisado o dano completo e a ala poderia ser reaberta. Contudo, o servidor da USP conta que o responsável pela Seção de Serviços Gerais do IP, Sérgio Eduardo Silva, mandou que a ala fosse reaberta. Segundo Denise, o responsável está cuidando da administração enquanto a chefe da administração está em licença maternidade. Parte dos funcionários que trabalham nas áreas afetadas se recusam a voltar a trabalhar enquanto a situação não for normalizada. “As pessoas querem retornar para salas adequadas, principalmente as que usam a ala de Psicologia Experimental, pois só assim elas poderão retornar aos projetos de pesquisa”, explica a aluna.

Água escorre do CEIP e a presença de mofo é comum (Foto: Paula Lepinski)
Água escorre do CEIP e a presença de mofo é comum (Foto: Paula Lepinski)

 

Até o momento do fechamento desta edição, a única medida tomada pela empresa terceirizada, que deveria arcar com os danos ao CEIP, tinha sido uma limpeza superficial seguida de uma demão de tinta.

Assédio moral

O Centro Acadêmico disse que, diante da situação, mobilizou os estudantes contra o assédio moral que os funcionários sofreram por parte da administração. “Eles foram agressivos com os funcionários em diversas situações, inclusive quando estes tentavam retirar a água contaminada”.

Integrantes do CA também acusam a administração de se colocar como vítima da situação. “Esse episódio como um todo serviu para evidenciar problemas nas licitações da USP, na terceirização, na forma como a Universidade lida com seus funcionários, além da negligência com as atividades de extensão e com um serviço básico de atendimento”.

Até o fechamento desta edição, o JC não obteve resposta do Conselho Técnico Administrativo do IP.

Por Paula Lepinski