Custo de materiais é barreira no ensino

Graduações como Arquitetura e Artes Plásticas exigem instrumentos nem sempre acessíveis

A USP é uma universidade pública. Isso significa que todos os cursos que ela oferece são gratuitos, buscando tornar o ensino acessível a todas as camadas sociais, de modo que a condição financeira não seja uma barreira na hora de aprender. No entanto, o preço do curso em si não é o único gasto que os estudantes enfrentam para permanecer na Universidade. Encontrar moradia, transporte, alimentação e livros durante o período letivo são preocupações comuns a todos dentro da USP, e órgãos como o SAS (Superintendência de Assistência Social) buscam facilitar o acesso a essas necessidades para aqueles que não têm condições de bancá-las.

Alunos utilizam espaço da FAU para fazer trabalhos (Foto: Daniel Quandt)
Alunos utilizam espaço da FAU para fazer trabalhos (Foto: Daniel Quandt)

A realidade de quem faz um curso de artes, no entanto, é ainda mais complicada: além de ter de resolver os problemas pelos quais passam todos os outros estudantes, as disciplinas de cursos como Artes Plásticas, Design e Arquitetura exigem a compra de ferramentas e materiais nada baratos. Os institutos responsáveis pelos cursos fornecem, em geral, apenas os espaços e instalações utilizados na produção dos trabalhos, enquanto recursos como tintas, canetas, lapiseiras e suportes ficam por conta dos alunos.

Uma aluna do segundo ano do curso de Artes Plásticas, na ECA, que preferiu não ser identificada, conta a sua experiência: “ gente tem que comprar tudo. A gente compra tinta, a gente compra o pincel, argila, as ferramentas. Você usa o ateliê, o resto você tem que trazer.” Além do custo em dinheiro (um kit de seis tintas, por exemplo, pode chegar a custar mais de R$ 300), há a dificuldade no transporte. “Como eu vou trazer vinte quilos de argila de ônibus?”, ela questiona, ressaltando ainda que os pontos mais baratos para comprar esse tipo de material ficam muito longe da Universidade.

Na FAU, a situação é parecida. Vitor Soares, estudante de Arquitetura, faz uma lista de algumas das coisas que já teve que comprar nos nove meses desde que entrou no curso: “Material de desenho, esquadro, compasso, escalímetro, vários tipos de lapiseira, caneta nanquim de várias espessuras, lápis de cor, tinta, material de maquete, muita coisa. Material que a gente precisa ter, senão não faz o curso”.

Mas o que fazer quando o custo dos materiais é proibitivo, e simplesmente não é possível conseguir aquilo de que se precisa a tempo de entregar um trabalho? “A gente procura se ajudar, emprestar as coisas um pro outro”, conta Vitor. Já a aluna da ECA explica que alguns professores são mais flexíveis, seja em prazo ou na natureza do trabalho.

Oficina do Departamento de Artes Plásticas da ECA (Foto: Daniel Quandt)
Oficina do Departamento de Artes Plásticas da ECA (Foto: Daniel Quandt)

Para o professor João Musa, do CAP, Departamento de Artes Plásticas da ECA, a habilidade de se virar dentro das restrições impostas pela falta de dinheiro, seja dentro do seu departamento ou da parte dos alunos, é importante para qualquer artista. “A restrição gera criatividade. Se um aluno vier dizer que não consegue fazer isso ou aquilo, nós vamos dar um jeito,” ele explica, citando o exemplo da disciplina que leciona, a fotografia. “O aluno pode fazer o curso inteiro com a pinhole (câmera sem lente que pode ser feita pelo próprio aluno), se não puder comprar e não achar uma para emprestar.”

Musa ainda argumenta que o CAP faz o que pode dentro de suas limitações financeiras: “O departamento é muito pobre, recebemos pouco dinheiro da Universidade. A gente também se vira para oferecer o máximo possível aos alunos”, conta, citando o exemplo do seu próprio laboratório fotográfico e do estúdio de gravura, que fornece a tinta e pedras utilizadas, cabendo ao aluno trazer o papel.

Por Daniel Quandt