Um chamado para as arquibancadas

Embora seja fator de incentivo aos atletas, torcida ainda é escassa em jogos fora de inters

Seja InterUSP, CaipirUSP, BIFE, InterMED, JUCA, Jopri,  Economíadas ou Engenharíadas: em época de inter, as faculdades se agitam. Os atletas, de repente, se tornam o centro das atenções, e todos passam a esperar deles os resultados que levarão suas faculdades à glória. Contudo, quando os torcedores se sentam nas arquibancadas de alguma longínqua cidade do interior, entoando hinos apaixonados com uma breja na mão, muitos se esquecem que a trajetória que levou os times àquele momento começou muito antes dos inters.

Várias vezes por semana, os atletas se reúnem e dedicam seu tempo para treinar, organizar a agenda das equipes, comparecer a reuniões das atléticas e, depois de tudo isso, participar de campeonatos que ocorrem ao longo de todo o semestre. No geral, os times da USP participam de competições da NDU (Novo Desporto Universitário), da FUPE (Federação Universitária Paulista de Esportes) e da LAAUSP (Liga Atética Acadêmica da Universidade de São Paulo). Portanto, em quase todos os fins de semana do ano, há algum time da USP competindo. Uma rotina que vai muito além dos dias de inter.

“Os não-atletas não sentem interesse por jogos que ocorrem fora de inters. A torcida costuma se limitar a familiares ou namorados”, afirma Lucca Zidan, presidente da Atlética da Poli. No interior, contudo, o panorama é um pouco diferente. Carlos Bortole, vice-presidente da FUPE, relembra alguns episódios em que o número de torcedores ultrapassou a casa das centenas. Um deles foi a final do basquete masculino entre São João da Boa Vista e UNIFAE, que teve mais de 2.000 presentes. “No interior do estado, a presença é consideravelmente maior”, diz.

Poucos torcedores compareceram ao jogo entre FEA e Medicina, pelas semifinais dos Jogos da Liga
Poucos torcedores compareceram ao jogo entre FEA e Medicina, pelas semifinais dos Jogos da Liga. (Foto: Carolina Oliveira)
Ações das atléticas

Segundo Carolina Saad, presidente da Atlética XI de Agosto, da Faculdade de Direito, falta um pouco de incentivo das próprias atléticas para motivar os torcedores não só a irem aos jogos, mas também a acompanharem os resultados dos times da faculdade. Carolina relembra um caso em que, antes da final do volêi masculino no campeonato da FUPE, a Atlética da Sanfran usou sua página do Facebook para dar mais publicidade à partida. “O feedback foi ótimo, tivemos várias curtidas e a própria bateria foi ao jogo, o que é coisa rara fora dos inters”, afirma.

De acordo com Daniel Vargas, vice-presidente da LAAUSP, a entidade também vem tentando divulgar melhor os resultados de suas competições, postando os placares em sua página do Facebook e enviando as tabelas atualizadas para os DGE’s (Diretores Gerais de Esporte) de cada faculdade. Mas nem sempre essa informação chega aos torcedores. “Quem não é atleta não tem quase nenhuma informação sobre os resultados”, comenta Guilherme Deganello, jogador de futsal do IRI. “Sei que é difícil o trabalho das atléticas, mas seria legal se a divulgação dos jogos e das equipes fosse maior”, aponta Sophia Longoni, atleta de basquete da Poli.

O presidente da Poli concorda que a comunicação não é ideal, embora acredite que apenas ações de divulgação dos jogos não são suficientes. “Eu acho sim que há uma falta de informação aos não-atletas para eles saberem que os jogos estão acontecendo, quando e onde. No entanto, essa comunicação já foi melhor e mesmo assim não apareciam resultados”, diz Zidan. “Talvez a solução seja uma divulgação incessante, com criação de eventos no Facebook e atrativos além dos jogos, como venda de bebida e comida”, sugere. Para o presidente da Atlética da FEA, Yuri Szymanskyj, o problema reside, sobretudo, na falta de interesse dos próprios alunos. “Eu acho que falta um pouco de amor pela faculdade para as pessoas começarem a torcer mais por ela”, analisa.

Importância da torcida

Na opinião dos atletas entrevistados pelo JC, a participação da torcida pode ajudar bastante no desempenho dos times durante os jogos. Para Sophia, é uma forma de ver todo o esforço recompensado. “É muito estimulante, porque nós, atletas, dedicamos nossos sábados, domingos e vários dias da semana para treinar e defender nossa faculdade, mas muitas vezes sentimos que não somos apoiados”, diz a atleta da Poli.

Contudo, quando o assunto é a participação das baterias, a opinião dos jogadores varia. Deganello conta que, neste ano, a bateria do IRI só tocou em jogos do Jopri (Jogos Paulistas de Relações Internacionais). O atleta, que está em seu primeiro ano no instituto, não avalia que o barulho tenha atrapalhado a comunicação em quadra. “Foi muito legal, e quando o técnico ia falar, eles paravam”, lembra.

Isabelle Wu, jogadora de handebol da Faculdade de Medicina, afirma que a torcida “motiva e traz uma energia boa”, mas gosta que as partidas tenham menos barulho. “Prefiro os jogos sem bateria, melhora muito a comunicação dentro de quadra e acho que faz os dois times jogarem mais tecnicamente, o que torna o jogo melhor, na minha opinião”.  

Gabriela Sarmento, ritmista da bateria da ECA, explica que, nos inters da faculdade, há uma combinação prévia com os times a respeito da participação das baterias. “Os diretores da BaterECA mandam email para todos os DM’s [Diretores de Modalidade] perguntando se eles querem que a bateria vá ou não, quais são os jogos mais difíceis, como a bateria pode tocar para ajudar o time”, afirma.

BaterECA torcendo no Juca (Foto: Daniel Quandt)
BaterECA torcendo no Juca (Foto: Daniel Quandt)

Quanto aos campeonatos regulares, Gabriela comenta que há “uma burocracia grande”. No último dia 7, por exemplo, a bateria da ECA tocaria em uma partida do volêi masculino pelos Jogos da Liga, à pedido do time. No entanto, os instrumentos foram proibidos pelo árbitro. A LAAUSP, que organiza o torneio, afirma que não há nada no regulamento da competição que proiba a participação das baterias, e o mesmo ocorre para NDU e FUPE. “Nesses casos, vale o regulamento da federação para cada modalidade, e também levamos muito em conta a opinião dos árbitros”, explica Daniel. Na ocasião, o árbitro alegou justamente que o regulamento da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) não permitia que as baterias participassem.

Para Ana Elisa Viana, técnica e jogadora de handebol, tanto a presença das torcidas quanto das baterias são aspectos importantes, que podem influenciar positivamente no rendimento das equipes. Assim, a treinadora afirma que os times precisam tentar superar eventuais situações negativas, como o barulho gerado pelos instrumentos. “Os times precisam se adaptar e desenvolver meios de ajustar isso”, diz. “A torcida nos jogos universitários faz com que o cenário se aproxime ao dos esportes profissionais, com mais visibilidade. Então não podemos perder essa oportunidade só por um ponto negativo.”

Por Carolina Oliveira