Cacique Ari: uma vida dedicada à luta por terras e tradições indígenas

Líder da tribo do Jaraguá defende cultura guarani mesmo em aldeia influenciada pela cidade
cacique
Ari Augusto Martins (foto: Juliana Fontoura)

Ao lado da Rodovia dos Bandeirantes, na região do Pico do Jaraguá, se esconde o 1,7 hectare da terra indígena Tekoa Ytu, área da primeira ocupação da população Guarani que vive no local. O terreno de terra abriga casinhas de madeira construídas pelos índios habitantes, que agora ocupam também a área em frente, separada pela ramificação da Estrada Turística do Jaraguá, denominada Tekoa Pyau. Residente das aldeias desde 1999, o cacique Ari Augusto Martins, 74, tem se dedicado, ao longo dos anos, na luta pelo retorno da cultura Guarani e pela conquista de uma terra maior, já ocupada por parte da tribo do outro lado do Pico – a aldeia Itakupe. Seu objetivo é garantir não só o contato com a natureza, como também melhores condições de vida principalmente para as muitas crianças que vivem nas aldeias.

“Tem mais de 130 famílias aqui. Então ficou esse espacinho. Ficou assim sem aquela característica de uma aldeia tradicional, não tem rio, não tem mata”, afirma o cacique sobre a Tekoa Ytu, considerada a menor terra indígena do Brasil e reconhecida na década de 1980. A aldeia Itakupe é uma tentativa de levar a tribo para uma área que possibilite o contato com a natureza e a construção de uma aldeia tradicional. O espaço de 62 hectares hoje é delimitado pela Funai, mas a demarcação ainda não ocorreu.

Ari iniciou a apropriação de Itakupe em 2005, quando juntou cinco famílias de sua tribo para ocupar o local. Na época, Antônio Tito Costa, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e proprietário da terra, moveu ação na Justiça exigindo a saída dos ocupantes. Segundo Ari, ele só conseguiu ficar na área por seis meses. Em 2007, decidiu ir à Brasília lutar pelo reconhecimento da terra pela Funai. “Falei: ‘Não vou parar, vou para essa luta’”, conta. Participou de uma reunião e voltou para São Paulo, mas a resposta só viria seis anos depois, quando recebeu uma notificação da União dizendo que a terra havia sido reconhecida após realização de estudo antropológico.

Mesmo depois do reconhecimento da terra, Ari conta que as famílias ainda resistem à mudança para o local, o que possibilita os processos de reintegração de posse e outras ocupações. “Eles estão com medo ainda. Quem está morando lá sou eu, uns netos e tem outra família. Nós estamos em três famílias só ainda”, diz o cacique. Para ele, a melhor maneira das lideranças indígenas lutarem pelas terras é justamente através da ocupação. “Eles têm feito movimentos na praça aqui, na Bandeirantes, para pressionar esse negócio da demarcação de terras. Vale a força, mas o mais importante é estar lá junto.”

Origens Ari Karai nasceu em Santos e cresceu na aldeia do Rio Branco, em Itanhaém. “Eu vivi lá, aprendi muita coisa. Porque antigamente a gente tinha uma cultura verdadeira, cultura pura. A verdadeira cultura do índio é quando ele nasce e se cria com a natureza. Aprende, com educação, respeito, tudo.”

Projeto do líder Ari conta que tem um projeto para resgatar sua cultura em Itakupe, já que a maior parte dos índios da tribo não tiveram contato com o modo de vida Guarani, apesar de conhecerem a língua, por exemplo. “Se você pegar essas crianças aqui e levar pra uma aldeia tradicional, eles vão passar mal, porque hoje estão todos acostumados a tomar café com pão, macarronada, outros já gostam de pizza”, diz. Seu projeto inclui a construção das casas guarani tradicionais, plantação de alimentos como mandioca e milho, construção de cozinha comunitária e uma casa de cultura e museu Guarani.

O cacique afirma não ter apoio da Funai em seu projeto.  Além disso, tem dificuldades para manter o plantio que fez no local por conta da invasão dos gados criados no terreno vizinho. Para levá-lo em frente, ele conta com a ajuda de voluntários e ativistas que participam de mutirões aos domingos.

Por Juliana Fontoura e Roberta Vassallo