Jornal da USP deixará de ser impresso

O fim do impresso para a única publicação semanal feita pela Universidade divide opiniões

Em meio a um longo e polêmico debate acerca do futuro do jornalismo impresso, a administração da universidade mais respeitada do País tomou uma decisão: extinguir suas edições físicas. A partir do mês de abril, o Jornal da USP não será mais distribuído. A deliberação foi apresentada pela Superintendência de Comunicação Social (SCS), órgão que estabelece as diretrizes da política de comunicação para a Universidade e coordena os serviços dessa área. Sua missão é minimizar gastos sem ter um prejuízo nas atividades. No entanto, não há uma previsão exata de direcionamento do dinheiro economizado.

Márcia Blasques, responsável pela divisão de mídias on-line da USP, argumenta que a escolha foi fruto das circunstâncias. “Estamos deixando de imprimir o jornal, mas a diminuição desses gastos é uma consequência, não é o objetivo”. O que é confirmado pelo Superintendente de Comunicação Social, Eugênio Bucci. “As razões da mudança decorrem da busca de mais qualidade editorial, maior alcance e mais agilidade; a eficiência da comunicação”.

O estudante da ECA, Felipe Felix, gostou da ideia. Como leitor da publicação, ele aprova as medidas porque além da passagem para o digital ser uma tendência mundial, haveria o problema dos resíduos gerados pelo impresso. “O on-line tem um alcance maior e também  há a questão ambiental”, declara.

A suposta qualidade superior da nova versão seria proporcionada pelo investimento em recursos próprios da plataforma, além de uma equipe mais focada que não precisa dividir esforços. Há muitas vantagens na web como a maior agilidade, porque a notícia chega ao leitor mais rápido, atualizações contínuas, pode ser acessado, no geral, em qualquer hora ou lugar, disponibilidade de ferramentas para expressar o mesmo conteúdo, discuti-lo ou ampliá-lo, como vídeos, áudio, ou mesmo o espaço para comentários.

Thais Rocha, aluna da FFLCH, acredita que a mudança é prejudicial: “Acho que a versão impressa é mais acessível, uma vez que nem todo mundo tem conexão à Internet, sua extinção restringiria a circulação de ideias”. Sobre esse ponto, a responsável pelo on-line rebate: “Quem hoje não tem acesso à Internet e que lia o Jornal da USP?”.

Já Rafael Bonavina, que era um leitor assíduo, também da FFLCH, lamenta o fim da impressão: “Eu, talvez um pouco antiquado, admito, gosto do trato com o papel. Sentar no banco da faculdade na hora do almoço e ler o jornal com um cafezinho. Isso se perderá completamente”. Porém, ele reconhece que o meio digital atinge um público maior, dentro e fora da USP, o que, na prática, não impede sua publicação física.

Quando questionado acerca da diminuição da tiragem (que atualmente é de 20 mil exemplares semanais) ou de uma distribuição mais eficiente e direcionada, o diretor de redação do Jornal da USP, Marcello Rollemberg, se pronunciou dizendo que seria impossível entregar apenas a quem prefere ler no papel, ademais, “o problema continuaria em relação a essas pessoas receberem notícias ultrapassadas”. Márcia Blasques completa: “Você estaria privilegiando um público que é menor, porque o nosso número de leitores do on-line é bem superior”. “A gente poderia ter tomado várias outras decisões, mas optamos por migrar para Internet porque temos a expectativa de maior eficiência. Se acharmos, por exemplo, que daqui a dois anos precisamos de um impresso, ele é retomado”, conclui.

Funcionamento interno

Rollemberg recorda que apesar de 11 funcionários administrativos terem sido transferidos para outras áreas, ninguém foi dispensado por conta do recente projeto. “Não há previsão de demissões, não é o propósito, na verdade, está sobrando emprego. Essas vagas serão preenchidas com estagiários, queremos fortalecer esse posto”.

A respeito da diferença editorial das plataformas, Márcia revela que haverá um preparo na confecção das matérias dos repórteres que cuidavam das edições físicas, para sua atualização e adaptação da linguagem.

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Por Isabella Galante