O Fantasma da Medicina

(Foto: Barbara Monfrinato)
(Foto: Barbara Monfrinato)

Como consequência de uma avalanche de denúncias realizadas pelos estudantes da FMUSP a partir de 2013, o polêmico Show Medicina teve recentemente as portas de sua sala fechadas pela instituição após um pedido do Ministério Público Estadual. A ação do MPE trouxe alívio aos alunos que se posicionaram contra os atos de violência sexual, homofobia, machismo e agressões físicas e morais praticados durante as reuniões do grupo.

O Jornal do Campus conversou com Tiago Hummel, estudante do quarto ano de medicina e integrante do NEGSS – Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade. Ele relata que seu primeiro contato com o show foi no dia da própria matrícula: “logo que entrei já achei absurda a divisão entre homens e mulheres, mas ainda não sabia dos casos de violência”. Tiago tomou conhecimento através dos relatos de amigos e conhecidos. “Todos os veteranos com os quais eu falei me disseram pra esquecer esse assunto porque o show era muito tradicional e era impossível ir contra, que eu seria perseguido por professores, que nunca ia conseguir vaga em nenhuma residência, que eu não teria amigos”.

Apesar dos avisos, Tiago e uma amiga protagonizaram em 2014 uma discussão nas redes sociais após criticarem o show no Facebook – a primeira vez que um embate era travado abertamente em anos. “Fomos muito retaliados. Naquele ano, eu até ganhei uma música que me citava no show”.

Antes da audiência pública realizada em 2015, nunca houve um espaço específico para as denúncias, que ocorriam na forma de desabafos entre os próprios alunos. Graças aos relatos e à iniciativa dos coletivos estudantis, os casos de agressão foram levados para a mídia e para o Ministério Público Estadual, culminando em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que ficou conhecida como “CPI do Trote” no final de 2014, abalando a imagem da tradicional instituição acadêmica.

A ação do MPE, apesar de dificultar as reuniões do Show Medicina dentro da faculdade, não é capaz de cercear a atuação do grupo. O show esteve presente na matrícula dos calouros deste ano, dividindo o espaço com as demais entidades acadêmicas. Tiago acredita que a corpo administrativo da FMUSP é condescendente: “tem muita gente antiga do show que é influente na faculdade, então não existe interesse ativo em investigar. Nós, dos coletivos, temos que supervisionar se a faculdade está cumprindo o acordo com o MPE e denunciar, porque, se fosse por eles, o show continuaria com seus privilégios de sempre”.

 

Por Marcos Nona