Surto de Zika gera novos estudos na USP

Professor Zanotto discute rumos das pesquisas em conferência sobre a rede zika (foto: divulgação/ICB)
Professor Zanotto discute rumos das pesquisas em conferência sobre a rede zika (foto: divulgação/ICB)

O Professor Paolo Marinho de Andrade Zanotto, do Instituto de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), coordena os estudos a respeito dos vírus da dengue, zika e chikungunya na USP, em parceria com outros órgãos do Estado. São ao todo 40 grupos de pesquisa no estado de São Paulo concentrados no Instituto Butantan, Instituto Adolfo Lutz, Hospital Albert Einsten, laboratórios privados, UNESP, Unicamp e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Dentro da USP, as pesquisas se concentram no ICB, no Instituto de Medicina Tropical e nas Faculdades de Ciências Farmacêuticas, na Medicina, Medicina Veterinária e Zootecnia. Além das parcerias com institutos internacionais na África, Ásia e América, como o National Institutes of Health (NIH) nos Estados Unidos.

O virologista estuda a dengue desde 1991 e a zika desde 2005. Com o surto dos vírus na América Latina, os investimentos às pesquisas se multiplicaram. Atualmente, são 28 laboratórios universitários focados nos três vírus.“A USP e a FAPESP estão investindo todos os recursos possíveis nesta causa”, explica o pesquisador. No entanto, ele alega não ser o suficiente, sendo necessários mais reforços financeiros, tecnológicos e humanos.

Em entrevista ao JC, o professor afirmou que a grande questão é descobrir a relação entre dengue, chikungynia e zika, e a relação entre zika, microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré. “Todos os casos são igualmente importantes, porque eles retratam a gravidade de vírus circulantes”, Zanotto ressalta.

Rede Zika

A preocupação com o Zika vírus e sua potencialidade epidêmica levaram a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) a investir e liderar diversos grupos de pesquisa que envolvem as universidades estaduais e órgãos de saúde de São Paulo. Por ser uma doença pouco conhecida, cujas ações no corpo humano ainda são obscuras, é necessária uma força tarefa para a compreensão e combate à doença. Para isso, os cientistas envolvidos na campanha se reuniram recentemente na sede da fundação para determinar quais os rumos a serem tomados dentro dos laboratórios, bem como a divisão dos aspectos a serem estudados.

Vacina

O Instituto Butantan já está desenvolvendo uma vacina contra o zika vírus, com o apoio do Ministério da Saúde e de órgãos internacionais. Em um ano, serão feitos testes em macacos e em 5 anos o registro poderá ser realizado. São prazos curtos para processos longínquos e complicados como este. Normalmente, uma vacina demora de 10 a 12 anos para ficar pronta.

A vacina vai ser produzida com o vírus da dengue atenuado como base, já que suas estruturas proteicas são parecidas. Adicionando o gene que caracteriza a proteína do zika, o processo se torna mais rápido, Também está sendo produzido um soro para os pacientes já contaminados com o zika, que poderá ser utilizado em grávidas de modo a evitar a má formação do feto.

Dengue

Já foram detectados, na região metropolitana de São Paulo os quatro sorotipos do vírus da dengue encontrados no Brasil (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), ou seja, uma hiperendemicidade da doença no estado, que se mostra ainda mais preocupante. Também foram relatados casos de infecção por dois sorotipos ao mesmo tempo, acarretando em formas mais graves da doença.

Em busca a uma solução, o Instituto Butantan iniciou, no fim de fevereiro, a penúltima fase de testes da vacina contra dengue. Nela, 17 mil voluntários espalhados pelo Brasil, através de 14 instituições, participarão da comprovação da eficácia do produto. Dois terços dos participantes serão vacinados, enquanto o terço restante receberá um placebo (substância neutra). O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP fará o teste em 1,2 mil pessoas.

Segundo o Instituto, se comprovada a eficiência, em 2018 a vacina poderá ser registrada e aplicada em toda a população. Para participar dos testes, basta ter entre 2 e 59 anos, e quadro clínico saudável, incluindo pessoas que já tiveram dengue, e disponibilidade para participar do programa por cinco anos. Para se inscrever basta enviar um e-mail para sac@butantan.gov.br, vacinadengue@usp.br ou se cadastrar acessando vacinadengue.com.br ou ligar para 2661-7214 ou 2661-3344. O atendimento é feito de segunda a sexta, das 9h às 18h.

O Instituto Butantan está na penúltima fase de testes para produção de vacina da dengue (foto: Juliana Duarte/ICB)
O Instituto Butantan está na penúltima fase de testes para produção de vacina da dengue (foto: Juliana Duarte/ICB)

O mosquito

Além de evitar o acúmulo de água parada, há alguns repelentes que são eficazes no combate ao Aedes Aegypti. A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, aprovou três princípios ativos de repelentes que evitam a picada do mosquito, o IR3535, o DEET e a ICARIDINA, e cada um deles tem uma duração de, respectivamente 4, 6-8 e 10 horas.

Ainda não se sabe se a transmissão da dengue, zika e chikungunya pelo mosquito são iguais. Existe a possibilidade da espécie Aedes albopictus também disseminar o vírus da zika. Mas o Aedes Aegypti não traz somente malefícios. Alguns pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas descobriram que a saliva do mosquito possui substâncias anti-inflamatórias que podem controlar a doença de Crohn e também a colite ulcerativa.

 

Por Julia Moura